32 - un viernes de enero

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Em meio ao conturbado início da montagem da exposição sobre os 70 anos do Grande Prêmio de Mônaco, eu ficava muito feliz por ter conseguido encontrar um tempo para ir jantar com Luísa em uma aconchegante cantina italiana, localizada exatamente na metade do caminho entre o apartamento de Charles e o de Lando, onde minha amiga estava morando definitivamente desde o noivado. Uma noite de garotas era tudo que eu estava precisando para espairecer, e dei um abraço apertado em Luísa assim que nos encontramos na porta do restaurante no início da noite.

Luísa estivera presente na grande maioria dos momentos importantes durante os meus 27 anos, e era curioso a forma como o universo tinha trabalhado para fazer as coisas acontecerem e a levarem a fazer parte de mais aquela nova fase da minha vida, ambas tendo motivos para se mudar para Monte Carlo, ainda que a minha estadia no principado fosse provisória.

– O que está achando de morar em Mônaco? – eu perguntei, pouco depois de ocuparmos uma mesa junto da janela de vidro com floreiras do lado de fora.

– Eu estou adorando! – Luísa respondeu com um sorriso alegre no rosto. – O Lando é um morador daqui quase tão recente quanto eu, então estamos meio que descobrindo tudo juntos – os olhos dela cintilavam de uma forma adorável sempre que tocava no nome do piloto inglês. – Deve ser bem diferente de morar aqui com um monegasco de verdade, né?

Ela me encarou com uma sobrancelha erguida, trocando o lado do foco da nossa conversa com facilidade.

– E é mesmo – eu respondi, acenando a cabeça para um garçom que nos entregou os cardápios. – É como se todas essas ruas carregassem um pouco de quem Charles é e, quanto mais eu fico aqui, mais imersa na cidade e nele eu me sinto – meu olhar vagou pelo pouco da rua que eu enxergava da janela ao meu lado e, ao voltar a encarar minha amiga, ela sorria carinhosamente para mim. – Queria não precisar ir embora depois da exposição.

– Você vai mesmo voltar para Sanremo? – ela indagou, dando um gole na água que tinha sido servida.

– Eu preciso – resmunguei com um suspiro. – Ainda tenho os meus compromissos no mestrado, e no museu também – falei, lembrando com certa saudade do pátio arborizado da Academia de Belas Artes. – Mas eu não quero ficar muito tempo longe daqui, me apeguei demais a esse lugar.

E a um certo monegasco em particular, completei mentalmente.

– Acho bom mesmo! – Luísa cruzou os braços. – Eu pretendo começar a planejar o casamento em breve e, com o meu noivo viajando o mundo para correr, eu vou precisar da ajuda da minha madrinha.

Ela falou aquilo com a maior naturalidade do mundo, focando proposital e atentamente no cardápio em vez de olhar para mim ao terminar, e eu quase engasguei com a água que acabara de dar um gole.

– O qu... É sério?! – eu gaguejei, arregalando os olhos para Luísa.

– É claro que é sério, Helena! – ela exclamou, dando risada. – Você é minha melhor amiga, quem mais poderia ser?

– Eu não... Não quis assumir nada – murmurei, sentindo as bochechas doerem com o sorriso que eu tentava conter. – Pensei que a Mariana...

– A Mariana é minha irmã – Luísa me interrompeu. – Você é a família que eu escolhi para mim.

Aquelas palavras me fizeram ofegar, e eu precisei engolir as emoções que tentavam explodir no meu peito.

– Ah, Lu... – eu estiquei o braço por cima da mesa para alcançar a mão da minha amiga, acariciando-a com o polegar enquanto sentia lágrimas começarem a queimar os meus olhos.

Aquela conversa logo passou de emocionada para empolgada e frenética quando Luísa começou a listar seus planos para o casamento. Pelo que ela me contava, a festa seria grandiosa e repleta de todos os maiores clichês do romance e, conhecendo minha melhor amiga como eu conhecia, não podia imaginar nada diferente para aquele grande dia. Seguimos naquele assunto desde a escolha dos pratos até o vinho tinto que era servido nas nossas taças e, quando as nossas massas foram colocadas na mesa, eu ainda ouvia pacientemente cada uma das ideias de Luísa que, mais do que a empolgação com a cerimônia, ficava visivelmente contente ao falar de Lando.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora