04 - friends that way

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– Isso só me deixa ainda mais inconformada de você não ter dado nem uns beijinhos nele naquela viagem.

– LUÍSA! – eu a repreendi, chocada com a audácia do seu comentário, mas sem conseguir conter uma risada nervosa e um pouco histérica, sentindo as bochechas esquentarem sob o olhar debochado da minha melhor amiga.

»

Foi apenas naquele momento, ao me ver sozinha com Adrian e Luísa, que eu dei pela falta de Nádia. E Pierre. Os dois não estavam em nenhum lugar a vista, e milhares de possibilidades sobre o paradeiro deles passaram pela minha cabeça. É, ela definitivamente vai me fazer passar vergonha.

Eu achei graça de ver como os meus amigos já estavam se sentindo perfeitamente à vontade naquele ambiente cheio de pessoas importantes e muito mais chiques do que nós. Luísa mexia o corpo sem sair do lugar ao som da música que saía das caixas de som dentro da suíte, a sua estatura de modelo e beleza inquestionável, com longos cabelos castanhos e pele dourada de sol, se mesclavam com o ambiente e com as pessoas a nossa volta. E Adrian, com a sua simpatia que sempre garantia uma conversa fácil com qualquer um, estava entretido com o barman numa discussão empolgada sobre um assunto que eu não conseguia identificar.

Passei algum tempo apenas observando o nosso entorno, pensando que, se eu não soubesse que aquela gente toda tinha empregos importantes na maior categoria do automobilismo, aquela pareceria mais uma festa normal. Muito chique e regada a champanhe caro, era verdade. Mas a maioria daquelas pessoas se comportava exatamente como era esperado em uma festa de gente rica, rindo exageradamente, dançando de forma preguiçosa e fazendo questão de acabar com toda a bebida. E, apesar disso, mesmo dando o último gole na garrafa de cerveja que substituíra a taça de champanhe na minha mão, eu tinha voltado a me sentir deslocada e esquisita.

Percebi que Adrian e Luísa estavam agora presos em uma discussão acalorada um com o outro para decidir quem iria dirigir na volta para Coimbra no dia seguinte. Adrian queria ficar com aquela função, dizendo que Luísa estava cansada demais, mas ela não gostava de dar seu carro na mão de qualquer outra pessoa, como eu sabia bem, e insistia que poderia dirigir tranquilamente. Eu pedi mais uma cerveja no bar e, ao esquadrinhar o ambiente mais uma vez, meus olhos pousaram enfim em um rosto conhecido, e também o mais requisitado daquela festa. Charles se virou no mesmo instante e me flagrou encarando-o. Ele sorriu e rapidamente dispensou a pessoa com quem conversava, cortando pela aglomeração de pessoas e vindo até mim.

– Vocês estão aproveitando a festa? – ele perguntou assim que parou ao meu lado, sinalizando para que o barman trouxesse uma cerveja para ele. – Precisam de alguma coisa?

– Não, está tudo bem.

Nós dois apoiamos os cotovelos no balcão, e eu percebi que ele finalmente tinha chegado mais perto. O barman colocou uma única garrafa de cerveja na nossa frente e, assim como ele, eu estendi a mão para pegá-la, colidindo com a mão de Charles antes de alcançar a garrafa.

– Por favor, pode ficar – Charles recolheu a mão prontamente.

Eu sorri em agradecimento, e recebi um meio sorriso com direito a apenas uma covinha na bochecha direita de Charles como resposta. O silêncio com ele não era desagradável, mas eu buscava na memória alguma coisa que pudesse dizer a ele quando Nádia e Pierre se aproximaram de nós, rindo.

– Onde foi que você se meteu?! – eu a puxei para perto e perguntei com a voz firme mas baixa, junto do ouvido da minha amiga.

– Calma, Helena – Nádia respondeu, com a voz arrastada de quem provavelmente já tinha bebido mais do que eu. – O Pierre só estava me mostrando o lugar, me apresentando para algumas pessoas...

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora