ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

10 - slow summer

Do gramado nos fundos da casa, tínhamos uma vista privilegiada do sol, que já tinha começado a sua descida em direção ao mar com o decorrer daquela tarde. Assim como no dia da festa no barco, os amigos de Charles rapidamente me acolheram como se eu já fizesse parte do grupo, não poupando palavras para dizer o quanto estavam felizes por eu ter decidido ir naquela viagem e fazendo com que um calor agradável se espalhasse pelo meu peito, quase mascarando os pensamentos confusos que aquele óbvio encontro de casais tinha causado na minha cabeça.

Eu me esforçava para prestar o máximo de atenção a tudo que acontecia à minha volta enquanto Alex, Camille e as outras garotas – quais eram os nomes delas mesmo? – me contavam os seus planos para aqueles próximos dias, que basicamente se resumiam em tomar sol e drinks, e eu ainda tentava não perder Charles de vista, que conversava animadamente com seu irmão e seus amigos, sempre se mantendo próximo de mim ao caminharmos até o deque que contornava a piscina. Porém, apesar dos meus esforços, a minha distração acabou cobrando o seu preço. Sem perceber que eu já estava muito perto da piscina, pisei em falso com o pé esquerdo e não consegui recuperar o equilíbrio a tempo, caindo com tudo na água gelada. Por sorte, eu sabia nadar, precisando apenas de alguns instantes para me recuperar do susto e, depois de engolir um pouco de água, consegui dar um impulso com as pernas e me lançar para a superfície novamente.

– Helena, você está bem? – Charles exclamou assim que eu emergi, e eu esfreguei a água dos olhos para encontrá-lo agachado na beirada da piscina, com os olhos arregalados de preocupação.

– Estou, eu... – eu engasguei um pouco ao falar, sentindo os olhares de todos os outros sobre mim. – Eu só estava com calor... – eu dei de ombros, orgulhosa de mim mesma quando as expressões nervosas se transformaram em risadas.

– A Helena tem razão, está calor mesmo – Camille exclamou, puxando pela cabeça o vestido rosa que ela usava e revelando um biquíni da mesma cor antes de pular na piscina, sendo seguida por Mateo, Alex, Theo e todos os outros que, diferente de mim, já estavam vestidos com roupas de banho apropriadas para aquilo.

Charles esticou a mão quando eu cheguei perto da borda, nós dois rindo com a atitude espontânea de seus amigos, e, com a ajuda dele e um impulso que eu dei com a mão livre, consegui apoiar o joelho no deque para sair da piscina, espalhando uma quantidade considerável de água no processo. Ao ficar em pé, senti o olhar de Charles recair sobre o meu corpo apenas por um instante antes que ele desviasse rapidamente, suas bochechas ficando ligeiramente coradas. Foi só então que, ao olhar para baixo, eu notei o quanto a minha camiseta branca, e agora ensopada, tinha ficado transparente, se tornando quase inútil para cobrir o sutiã de renda lilás que eu usava. Eu instintivamente cruzei os braços sobre o peito, sentindo o rosto arder ao perceber que Charles me encarava de soslaio, tentando conter uma risada.

– Deixa eu pegar uma toalha para você – ele murmurou, tocando levemente o meu braço antes de correr até um espaço coberto ao lado da casa que eu não tinha reparado até então, onde uma bancada de mármore com uma pia se estendia junto da parede e terminava em uma churrasqueira, e uma mesa de madeira comprida e dois bancos estavam dispostos no centro.

Charles abriu um armário baixo no canto e logo deu meia volta, caminhando novamente na minha direção com uma toalha listrada de branco e azul nas mãos e, assim que se aproximou, ele enrolou o tecido nos meus ombros com um sorriso satisfeito.

– Obrigada – eu falei, puxando a toalha contra o corpo. – Mas acho que é melhor eu trocar de roupa – eu completei, sentindo a água escorrer do meu short encharcado e poças começarem a se formar dentro dos meus tênis.

– Pode ficar a vontade, Helena – Charles assentiu, indicando a porta da casa com o olhar.

Depois de respondê-lo com um sorriso, eu corri na direção da porta, tirando os tênis e secando os pés antes de entrar na cozinha novamente. Agora com mais calma, eu pude reparar melhor naquele ambiente espaçoso e comprido, com uma janela de vidro que acompanhava toda a parede que dava para o jardim, uma pia de mármore claro logo abaixo dela, além de uma bancada bem no centro rodeada por bancos altos com estofado cor de creme. Os armários de madeira, que antes eu achara serem pintados de branco, na verdade eram de um verde bem claro, atribuindo um toque suave ao espaço, e o piso de porcelanato estava quente do sol, dando uma sensação gostosa para os meus pés descalços que caminhavam sobre ele enquanto eu sentia o aroma gostoso de produto de limpeza ao atravessar o cômodo.