ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

33 - enchanted

Depois de ter me acostumado tão facilmente com a vida no principado de Mônaco, pensar em ter que deixá-lo me doía o peito. Só não mais do que a ideia de deixar Charles, sabendo o quanto sua presença constante nos meus dias podia me fazer tão feliz.

Eu ainda estava anestesiada pelos últimos acontecimentos, vendo o sucesso que a exposição fizera no primeiro dia de abertura oficial para o público, quando recebera dezenas de visitantes mesmo sendo uma segunda-feira, porém fui bruscamente trazida de volta para realidade ao receber um e-mail da Academia de Belas Artes de Sanremo na manhã de terça. O coordenador do curso de Arte Contemporânea enviara um lembrete aos alunos do mestrado que estavam prestes a se formar para informar o horário da última matéria que deveríamos participar no próximo mês, que consistia basicamente em uma aula sobre metodologia do trabalho e que serviria para nos ajudar a fazer as revisões e os ajustes finais aos nossos textos de monografia, antes que estes fossem entregues para o parecer dos avaliadores.

– Eu queria que você não tivesse que voltar para Sanremo – Charles resmungou ao me encontrar encarando a mala aberta e ainda vazia sobre a cama.

– Eu sei... – suspirei, me deixando envolver pelos braços dele. – Mas eu tenho um texto de mestrado para terminar – eu ergui o queixo para encará-lo. – E prometo que sei o caminho para voltar para cá!

– Eu estou contando com isso – ele falou, abrindo um sorriso por cima da expressão chateada. – Mas você vai me deixar te levar até lá pelo menos, não vai?

Revirei os olhos com um suspiro, que logo se transformou em uma risada.

– Vou. Já desisti dessa briga faz tempo – respondi com os olhos semicerrados, e Charles sorriu satisfeito, mas a verdade é que eu ainda não estava pronta para me despedir dele, ainda mais depois de todas aquelas semanas juntos.

– Quer ajuda para fazer a mala? – ele perguntou, acariciando as minhas costas. – Pode deixar algumas coisas aqui, leva só o que você não pode ficar sem.

Refleti sobre as palavras de Charles enquanto vagava os olhos pelo quarto e, com os braços presos ao redor da cintura dele, sabia que só existia uma coisa que não poderia ficar sem.

– Hm, acho que vai ser difícil fazer você caber dentro dessa mala – eu encolhi os ombros, olhando de relance para o monegasco que parecia processar o que eu dissera, até que seu rosto explodiu em uma gargalhada.

– É, acho que não ia dar muito certo – Charles falou em meio a risada, exibindo as covinhas fundas nas bochechas. – Mas eu prometo que vou ficar com você o máximo que puder – ele continuou, girando o meu corpo dentro do abraço para que eu ficasse de frente para ele. – E vou te ligar todos os dias depois que eu voltar.

– Eu sei que vai – murmurei, deslizando as pontas dos dedos pela lateral do rosto dele antes de encaixar a mão em sua nuca e puxá-lo para um beijo suave.

Por mais que eu já soubesse o quão adorável e atencioso Charles era, aquelas promessas silenciosas faziam com que o meu peito transbordasse com o sentimento que eu tinha por ele, como se meu coração pudesse explodir por sentir tanto.

⋆ ⭒ ⋆

Cumprindo com a sua palavra, Charles me levou de carro até Sanremo no final da tarde de quinta-feira, já que eu precisaria ir até a universidade na sexta para me matricular na matéria de metodologia, e garantiu que ficaria comigo na cidade durante todo o final de semana, uma vez que só teria compromissos com o seu empresário na outra segunda. Assim como no apartamento em Monte Carlo, eu ficava mais do que satisfeita em passar os dias com ele dentro de casa, no entanto, na noite de sábado, estávamos os dois cansados de pedir comida pelo aplicativo, e decidimos sair para jantar em um restaurante pequeno e simpático perto da minha rua. Diferentemente do que acontecia no principado, onde Charles era reconhecido em praticamente qualquer canto, em Sanremo ele passava anonimamente pela maioria dos lugares onde íamos. E, por mais que eu soubesse que o piloto adorava encontrar e atender torcedores e fãs, era visível o quanto ele apreciava uma noite tranquila como a que estávamos tendo.