36 - home in time

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Eu poderia jurar que estar de volta em Sanremo significaria ter os meus dias dominados pelo projeto de expansão do museu e pela preparação da defesa da minha tese, que aconteceria na semana seguinte. O que eu não contava, porém, era que a tarefa que me deixaria mais ocupada seria: planejar um casamento.

Tendo acabado de voltar de Portugal, onde esteve fotografando uma campanha, Luísa me ligou no instante em que colocou os pés na casa do noivo em Mônaco, em completo estado de surto ao ficar sabendo que o Hôtel de Paris, onde ela e Lando pretendiam realizar a cerimônia, tinha disponibilidade para dali dois meses, ou então apenas para depois de mais de um ano. Em meio ao choque da descoberta, Luísa acabou reservando a data em junho, o que a deixaria com um tempo incrivelmente restrito para organizar tudo, justificando o pânico em sua voz do outro lado da ligação. Eu fiquei com pena de ver a minha melhor amiga naquela situação estando sozinha no principado, e acabei convidando-a para passar o final de semana na minha casa, caindo na gargalhada ao ouvi-la aceitar e agradecer várias vezes, dizendo que eu era a melhor amiga do mundo.

O Furacão Luísa, como eu gostava de chamar, aterrisou no meu apartamento nas primeiras horas da manhã de quinta-feira, espalhando suas muitas pastas com diversas opções de flores e cardápios e vestidos e sapatos e decorações e penteados sobre a mesinha de centro da sala de estar. Por sorte, eu tivera uma reunião no Museu Cívico no dia anterior, onde conseguimos resolver as últimas pendências da organização da Ala Arqueológica, e eu só teria que me preocupar com isso na semana seguinte, quando as peças começariam a chegar para serem expostas, além de ter tido tempo de finalizar a apresentação da minha defesa na noite anterior à chegada da minha amiga.

– Eu prometo que te ajudo a ensaiar a sua apresentação mais tarde – Luísa declarou, juntando as mãos em frente ao peito. – Mas agora a sua habilidade para tomar decisões rápidas e efetivas pode ser muito útil, Ninha – ela continuou com as sobrancelhas franzidas. – Me salva, por favor.

– Calma, Lu – eu segurei as mãos dela sobre o meu colo. – Vai dar tudo certo – falei com um sorriso, afagando suas mãos numa tentativa de tranquilizá-la. – Mas você tem que colaborar comigo e aceitar o que eu disser se quer a minha ajuda.

– Eu concordo com o que for se você garantir que conseguimos organizar tudo em dois meses – ela arfou, me fazendo dar risada. – Se tem alguém que pode fazer isso dar certo, é você.

O meu coração deu um salto dentro do peito com o peso daquela responsabilidade, mas eu sabia que meu sol em capricórnio realmente fazia de mim uma pessoa que tomava decisões com praticidade e, por sermos amigas há quase vinte anos, eu conhecia Luísa bem o suficiente para saber o que ela gostaria para o dia de seu casamento. Depois de analisar rapidamente as referências que ela trouxera consigo, eu me dei conta de que a maioria dos tópicos mais importantes já tinha sido definido, o que não me surpreendia, já que Luísa sempre fora do tipo que sabe muito bem o que quer, porém podia ficar um pouco atordoada se tivesse que trabalhar sob pressão, e era ali que eu entrava.

Luísa deixou para mim a tarefa de decidir como e onde as coisas seriam feitas, sabendo que eu conseguiria resolver aquilo com mais facilidade por não estar no centro daquele evento, enxergando as coisas com mais clareza e sem a nuvem de ansiedade que aquele dia provocava nela. O que ela não sabia era que, mesmo sendo apenas a madrinha e não o foco das atenções, aquele casamento também me deixava ansiosa, já que era um dos dias mais importantes da vida da minha melhor amiga e eu queria que tudo saísse perfeito, mas não disse isso à ela enquanto passamos o dia todo atrás de floriculturas e decoradoras que topassem organizar aquele momento especial – e grandioso, diga-se de passagem, já que Luísa não tinha gostos muito simples – em pouco mais de dois meses.

Aquela empreitada me fez ter certeza de algo que eu já suspeitava antes: se o cliente aceitasse pagar um valor maior, o profissional conseguiria fazer milagres para realizar seus pedidos. A carreira de modelo da minha amiga estava cada vez mais consolidada, e eu sabia bem que os pilotos de Fórmula 1 não ganhavam mal, e que Lando não pretendia poupar gastos para realizar o casamento dos sonhos da noiva, o que eu achava extremamente adorável. E prático também, acelerando muito todo o nosso trabalho e, ao final daquele dia, tínhamos adiantado boa parte do planejamento. Já consideravelmente mais calma, minha melhor amiga sugeriu que pedíssemos uma pizza para o jantar, tendo o resto da noite para trabalharmos na minha apresentação.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora