ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

35 - seems like forever

A sensação de dormência nos músculos se fez presente pelo resto daquele dia desde que Charles me contara sobre o convite da marca de jóias para que nós dois estrelássemos a nova campanha que eles iriam lançar. Eu ainda estava um pouco anestesiada com aquela proposta, principalmente por ter aceitado fotografar a campanha ao lado do piloto e, por mais que tentasse me distrair ouvindo ele contar os detalhes sobre a corrida do final de semana anterior, como eu gostava tanto de fazer, ou então enroscada em seus braços no sofá da sala enquanto assistíamos a um filme, de tempos em tempos meu pensamento era desviado para a perspectiva de participar de uma sessão de fotos, e o meu estômago dava uma cambalhota cada vez que eu lembrava daquilo.

Parecendo saber que eu precisava de algo que prendesse a minha atenção, Charles fez um grande mistério sobre o lugar onde iríamos jantar naquela noite, na nossa comemoração atrasada de dia dos namorados. Aquilo acabou funcionando muito bem e, enquanto terminava de me arrumar, já no início da noite, eu tinha o coração descompassado agora por outro motivo: curiosidade. Insisti para que ele me dissesse ao menos o estilo do restaurante, para que eu pudesse me vestir adequadamente, me decidindo por um vestido preto simples, de alças finas e tecido leve, que eu coloquei por cima de uma camisa social branca e meia-calça, finalizando com uma bota preta de cano baixo, os cabelos presos em um rabo-de-cavalo e brincos que eram um fio comprido de prata com um pequeno cristal na ponta.

– Como você é linda – Charles murmurou ao se aproximar por trás de mim enquanto eu me analisava no espelho pela milésima vez, e ele fitou os meus olhos através do reflexo. – Eu te amo, sabia?

Eu girei dentro dos braços dele para encará-lo de frente, recebendo um sorriso carinhoso que fez meu coração errar uma batida assim que eu ergui os olhos para ele.

– Eu também te amo, beau – falei, me erguendo nas pontas dos pés para deixar um beijo rápido nos lábios dele. – Nós já podemos ir.

A minha ansiedade por aquele jantar misterioso era visível mesmo que eu tentasse escondê-la, e Charles deu risada da minha agitação, entrelaçando os dedos aos meus para caminharmos na direção da porta do apartamento.

⭒

O restaurante Horizon Rooftop ficava na cobertura do hotel Fairmont, e estava bem movimentado para uma noite de terça-feira. O ambiente à meia luz era rodeado por janelas de vidro por todos os lados, garantindo uma vista impressionante do horizonte de Monte Carlo pintado pelas cores do pôr do sol que acabava de acontecer. A maître muito simpática nos guiou por entre as mesas ao longo do salão até chegarmos ao que parecia o fim do lugar, mas que na verdade se transformava em uma sala menor, separada por uma porta de vidro e com uma única mesa ocupando o pequeno espaço. Sobre ela, um exuberante buquê de flores tomava conta de quase toda a superfície, exibindo rosas de um vermelho vivo quase vinho misturadas com outras em um tom de champanhe, e pequenas velas redondas estavam dispostas cuidadosamente sobre o parapeito da janela, que também tinha vista para o Mar Mediterrâneo e atribuía um clima agradável e romântico ao ambiente.

– Meu Deus, Charles – eu ofeguei, entrando a passos lentos e hesitantes na sala e tocando delicadamente uma das rosas. – Não precisava de tudo isso.

– Você merecia muito mais, Lena – ele enfatizou, se aproximando para envolver meu rosto com as mãos. – Queria ter tido tempo de organizar algo melhor.

– Isso está perfeito – murmurei, sabendo ter um sorriso bobo nos lábios ao encará-lo, que me devolveu um olhar carregado de carinho. – Você é perfeito, Charles.

– Não sou, mas eu te amo por pensar isso – ele repetiu as exatas palavras que eu dissera no hotel em Barcelona, fazendo o meu estômago dar uma cambalhota.