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Lucas estava de frente para mim, mas não estava fardado de policial, era incrível como a notícia da minha orientação sexual se espalhou da Bahia ao Rio de Janeiro em tão pouco tempo, mas para a mentalidade da época isso era notícia que deveria ser comentada no jornal Nacional por meses.

- Rodolfo, fiquei sabendo que você não é uma pessoa normal, que você era um tipo de lunático incurável- disse Lucas.

- Foi o Flávio que te falou isso?- perguntei.

- Não importa quem foi, quero saber se isso é verdade- disse Lucas aumentando o tom de voz.

- É verdade, eu gosto de Borislav, ele é outro Homem- disse em tom calmo, porém triste como se estivesse pedindo desculpas.

- E como foi que você pegou essa doença? Ou já nasceu assim?- perguntou Lucas.

- Lucas, eu não estou doente, eu tô bem- disse começando a ficar estressado.

- Não está bem, o próprio Dr. Flávio que é psicologo e psiquiatra, trabalha em uma clínica de pessoas como você!- Lucas falou fazendo gestos com as mãos.

-  Ele e sua matilha são charlatões !- disse zangado.

- Meu tio Avô tinha essa doença, ficou em depressão e se enforcou!- disse Lucas.

- Se a sociedade não o atormentasse 24 horas por dia, tenho certeza que ele estaria vivo!- gritei.

- Ah! Então, é culpa da sociedade? Vocês estão certos e todo mundo está errado?!- Gritou Lucas.

- Diversas vezes a sociedade se enganou e uma ÚNICA  pessoa estava certa no mundo todo,  Nicolau Copérnico, por exemplo- disse.

- Rodolfo, eu me preocupo com você, você me salvou durante a guerra e por isso te devo, eu quero te ajudar, o Dr. Flávio ajuda pessoas como você- disse Lucas.

- Eu já fui para essa tal clínica, e te digo, prefiro mil vezes as trincheiras da Itália do que uma maca naquele centro de tortura, quer me ajudar? Me ouça mais e deixe as fofocas para os fofoqueiros- disse se afastando de Lucas.

- Você foi um soldado é triste que seu fim seja esse- disse Lucas, mas eu não me virei para ele apenas saí.

Me sentei no banco novamente e  fique observando o movimento no hospital, Lucas passou por mim com o rosto de mal humor,então, ele empinou o nariz e saiu do hospital. Rogério trabalhava, então, eu ficava só muitas vezes naquele hospital, quando um médico passou por mim.

- Você não trabalha?- perguntou o médico e eu balancei a cabeça- O seu amigo reagiu, você pode visita-lo rapidamente.

- Obrigado!- disse animado.

- Não me agradeça, eu já te disse que não queria cuidar dele- disse o médico, mas eu já estava longe.

Entrei na sala onde Borislav estava e lá estava uma enfermeira, Borislav estava com os olhos abertos, mas a enfermeira estava bastante triste pois ela me olhava com um olhar de pena, logo me aproximei de Borislav abrindo um sorriso de satisfação.

- Borislav como está se sentindo?- perguntei, mas Borislav não respondeu.

- Ele não vai responder- disse a enfermeira.

- Porque? Ele não tá bem?- perguntei desesperado.

- O tiro atingiu o cérebro, ele está vivo por um milagre, mas não espere que ele fale com você ou se lembre de alguma coisa, eu sinto muito- disse a enfermeira.

- Isso não pode ser verdade!- disse deseperado.

- Ele não está mais correndo risco de vida no momento, alegre-se pelo fato dele está vivo- Disse a enfermeira.

- Ele não se lembra de mais nada?- perguntei chorando.

- Depois de amanhã, ele terá alta, cuide dele, ele vai precisar de você- disse a enfermeira, então,  chegou o médico.

- Acabou o tempo de visita- disse o médico, então,  saí do quarto.

Rogério conseguiu parcelar os gastos do hospital, então, quando Borislav recebeu alta levamos ele para a casa de Rogério, onde iríamos morar. Foi difícil levar o Borislav pois ele não nos reconhecia, o levei para o quarto onde eu e ele iríamos dormir.

- Borislav, você pode se deitar?- perguntei educadamente pois não tinha ideia de como falar com uma pessoa naquele estado, então, ele se sentou na cama me olhando assustado.

- Dá essa sopa pra ele Rodolfo, pois eu já tenho que ir trabalhar- disse Rogério, então, peguei a sopa e me aproximei de Borislav.

- Eu vou te dar essa sopa na boca, vou esfriar por está muito quente- então, Borislav se afastou.

- Não! Homem mau! Você é mau!- disse Borislav.

- Que bom que está voltando a fala- disse assoprando a colher de sopa para não queimar Borislav, então, ele bebeu a primeira colher- tá Boa a sopa?

Depois de dar comida para Borislav, eu esperei  30 minutos e o levei para dar banho nele, tirei a roupa dele e o coloquei em uma banheira para escova-lo, usei champu de bebê por razões óbvias. Depois de banha-lo, enxuga-lo e vesti-lo, o coloquei na cama para dormir, não conhecia nenhuma conto de fadas, mas contei a ele a história das Aventuras de Rodolfo e Borislav na Europa, então, ele dormiu.
















Apaixonado por uma divindade (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora