O vidro de molho de espaguete que Charlie colocara no micro-ondas só estava em sua primeira volta quando abri a porta e o tirei de lá.
– O que foi que eu fiz de errado? – Charlie perguntou.
– Você devia ter tirado a tampa primeiro, pai. Não pode colocar metal no micro-ondas. – Retirei rapidamente a tampa enquanto falava, despejei metade do molho numa tigela que coloquei dentro do micro-ondas e devolvi o vidro à geladeira; determinei o tempo e apertei o botão “Ligar”.
Charlie observava meus ajustes com os lábios franzidos.
– Fiz o macarrão direito?
Olhei a panela no fogão; a origem do cheiro que me alertara.
– É bom mexer. – Peguei uma colher e tentei desfazer a papa grudenta que queimava no fundo.
Charlie suspirou.
– Mas o que significa isso tudo? – perguntei.
Ele cruzou os braços e olhou pela vidraça dos fundos a chuva que caía forte.
– Não sei do que você está falando.
– Perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar? – perguntei a Charlie. O bolo de massa borbulhou na água fervente enquanto eu o cutucava. – Ou tenta fazer o jantar, melhor dizendo.
Charlie deu de ombros.
– Não há nenhuma lei que me proíba de cozinhar em minha própria casa.
– Você saberia disso – respondi, sorrindo ao olhar o distintivo alfinetado em sua jaqueta de couro.
– Essa é boa.
Ele tirou a jaqueta, como se meu olhar o lembrasse de que ainda a estava vestindo, e a pendurou no gancho reservado para suas roupas. O cinto com a arma já estava no lugar — ele não sentia a necessidade de usá-la na delegacia havia algumas semanas.
Não tinha havido mais desaparecimentos perturbadores para transtornar a cidadezinha de Forks, em Washington, ninguém mais vira lobos gigantescos e misteriosos nos bosques sempre chuvosos…
Eu mexia o macarrão em silêncio, imaginando que em seu próprio tempo Charlie acabaria por falar sobre o que o incomodava. Meu pai não era homem de falar muito, e o esforço dispensado na tentativa de preparar um jantar para nós três deixava claro que havia um número incomum de palavras em sua mente.
Charlie se sentou à mesa com um grunhido e abriu o jornal úmido que estava ali; segundos depois, estava estalando a língua de reprovação.
– Não sei por que lê o jornal, pai. Isso só o aborrece.
Ele me ignorou, resmungando para o jornal nas mãos.
– É por isso que todo o mundo quer morar em cidade pequena! Ridículo.
– O que as cidades grandes fizeram de errado agora? – perguntou Isa, enquanto entrava na cozinha.
– Seattle está se tornando a capital de homicídios do país. Cinco assassinatos sem solução nas últimas duas semanas. Dá para imaginar viver assim?
– Acho que Phoenix tem uma taxa de homicídios mais alta, pai – Comentei sem olhar para trás.
Eu desisti de salvar o jantar e preparei-me para servi-lo; tive de usar uma faca de carne para cortar uma porção de espaguete para Charlie, Bella e depois para mim, enquanto ele observava com uma expressão encabulada. Charlie cobriu sua porção com molho e comeu. Eu disfarcei meu próprio pedaço o máximo que pude e segui seu exemplo sem muito entusiasmo, Bella fez o mesmo. Comemos em silêncio por um momento.
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midnight sun - Eclipse
FanfictionEnquanto Seattle é assolada por uma sequência de assassinatos misteriosos e uma vampira continua em sua busca por vingança, Kris está cercada de perigos outra vez. Em meio a isso, ela recebe uma visita inusitada de vampiro que ela conheceu na Itália...