Eu não tinha avançado muito e já era impossível dirigir. Quando não consegui enxergar mais, deixei que os pneus encontrassem o acostamento e rolassem lentamente até parar. Afundei no banco e permiti que a fraqueza que combati na sala de Billy me esmagasse. Foi pior do que eu pensava — a intensidade me pegou de surpresa. Sim, eu estava certa em esconder aquilo. Ninguém deveria ver.
Não sei ao certo quanto tempo fiquei parada no acostamento, minutos? Horas? O tempo de repente não fazia mais sentido. Quando consegui focar minimamente a minha visão comecei a dirigir de volta para casa. No caminho todo, lutei para me controlar. De início, parecia um esforço condenado ao fracasso, mas não desisti. Só alguns segundos, eu disse a mim mesma. Tempo apenas para algumas desculpas, ou algumas mentiras, e depois eu podia desabar novamente. Precisava ser capaz de fazer isso.
Quando entrei, fui direto para a escada.
– Kris? – Charlie chamou atrás de mim, de seu lugar de sempre no sofá.
– Vou me deitar, pai. Não estou muito bem.
– Aconteceu alguma coisa?
– Eu só quero dormir um pouco.
– Tudo bem – concordou Charlie.
– Boa noite, pai – falei, enquanto andava para o meu quarto cambaleante.
Tranquei a porta e antes de me jogar na cama e desabar, notei uma figura masculina parado de frente para a minha janela.
– O que faz aqui, Alec ? – Minha voz mal passou de um sussurro.
Ele se virou lentamente para mim com um sorriso no rosto, mas ao notar a minha aparência o sorriso morreu.
– O que houve? – perguntou ele, preocupado.
Eu ignorei a sua pergunta, tirei os meus sapatos, joguei a mochila no chão e me deitei na cama.
– Você poderia vim em outra hora? – perguntei enquanto me enrolava com o meu cobertor. – Quero ficar sozinha.
– Não posso, vou voltar para a Itália hoje. – disse ele, se sentando ao meu lado, na beira da cama – O que houve, Kris ?
Para minha completa perplexidade, as lágrimas transbordaram de meus olhos de repente, escorrendo pelo rosto.
– Kris! – disse ele, preocupado. – Qual é o problema? – Ele enxugou as lágrimas de minha face quente com dedos frios e frenéticos, mas outras se seguiam.
– Acabei de descobrir que eu já vivi outras vidas. – Não pude conter o soluço baixo que cortou minha voz. – Já fui a terceira esposa de um espírito guerreiro quileute, já fui uma tal de Sophie, depois uma tal de Camille…
– Está tudo bem, meu amor, está tudo bem. – Ele me embalou em seus braços, um pouco rápido demais para que eu me tranquilizasse. – Vai ficar tudo bem!
– Por que você fica me chamando de amor, Alec ? – Sacudi a cabeça, passando as costas das mãos nos olhos. Isso ajudou, as lágrimas cessaram – E por que você não está nenhum pouco surpreso com o que eu te disse?
Alec enrijeceu como se tivesse sido atingido por um choque elétrico. Eu empurrei o peito dele para que ele se afastasse de mim.
– Não acho que você esteja em condições de ouvir o que eu tenho a dizer. – Ele se levantou da cama. – Vá dormir um pouco, Kris. Você já passou por coisas demais hoje.
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midnight sun - Eclipse
FanficEnquanto Seattle é assolada por uma sequência de assassinatos misteriosos e uma vampira continua em sua busca por vingança, Kris está cercada de perigos outra vez. Em meio a isso, ela recebe uma visita inusitada de vampiro que ela conheceu na Itália...