CAPÍTULO II

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Eu me sentia estranhamente animada enquanto ia da aula de espanhol para o refeitório.

Talvez fosse por saber que minha sentença estava cumprida e eu era de novo uma mulher livre.

Ou talvez não tivesse nada a ver especificamente comigo. Talvez fosse o clima de liberdade que pairava em toda a escola. O ano letivo estava terminando e, em especial para a turma do terceiro ano, havia uma excitação perceptível no ar.

A liberdade estava tão próxima que era tangível. Havia sinais dela por toda parte. Cartazes abarrotavam as paredes do refeitório e as lixeiras transbordavam uma saia colorida de folhetos: lembretes para comprar livros do ano, anéis de formatura e convites; prazos para encomendar becas, capelos e borlas de formatura; panfletos de cores berrantes — alunos do primeiro ano em campanha para representantes de turma; anúncios agourentos enfeitados de rosa para o baile deste ano. 

– Já mandou seus convites? – perguntou Eric quando Edward e eu nos sentamos à nossa mesa. 

Jonas e Marcos também já estavam lá, cada um de um lado de Eric. Jonas concentrado numa HQ, os óculos escorregando pelo nariz fino. Alice examinou meu visual sem graça, jeans e uma camiseta, de um jeito que me deixou constrangida. 

– Ainda faltam alguns. – respondi a Eric. 

– E você, Alice?

Alice sorriu.

– Está tudo pronto.

– Sorte sua. – Eric suspirou. – Minha mãe tem uns mil primos e espera que eu mande um convite escrito à mão a cada um deles. Vou ficar com síndrome do túnel do carpo. 

– Posso ajudar você – Alice se ofereceu. 

Pelo canto do olho, vi Edward sorrir.

Eric pareceu aliviado.

– É uma delicadeza de sua parte... Já que vou ganhar uma ajuda extra, por que não combinamos de sair? – ele me encarou e depois suspirou. – Desculpe, Kris. Esqueci que você estava de castigo.

– Na verdade, Charlie me liberou do castigo ontem à noite.

– É mesmo? – perguntou Eric. Numa animação que iluminava seus olhos castanhos e sempre gentis. – Pensei que tinha dito que ia ser para a vida toda.

– Estou mais surpresa do que você. Estava certa de que já teria no mínimo terminado a faculdade antes que ele me liberasse.

– Bom, que ótimo, Kris! Vamos ter que sair para comemorar.

– Não faz ideia de como isso parece bom.

– O que a gente vai fazer? – Alice refletiu, o rosto iluminado com as possibilidades. As ideias de Alice, em geral, eram um pouco grandiosas para mim, e naquele momento eu pude ver isso em seus olhos: a tendência a levar as coisas longe demais entrando em ação.

– Não sei em que está pensando, Alice, mas duvido que eu esteja tão livre.

– Livre é livre, não é? – insistiu ela.

– Tenho certeza de que ainda tenho limites... Como, por exemplo, as fronteiras do país.

Marcos e Jonas riram, mas Alice deu um sorriso amarelo de decepção.

– Então, o que vamos fazer hoje à noite? – continuou ela.

– Nada. Olhe, vamos esperar alguns dias para ter certeza de que ele não estava brincando. De qualquer forma, amanhã temos aula.

midnight sun - EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora