Em 1766, deu-se a mudança final em Joseph Curwen. Foi muito repentina e ganhou ampla atenção dos curiosos cidadãos, pois o ar de ansiedade e expectativa que o envolvia caiu como uma capa velha para logo dar lugar a uma mal dissimulada exaltação de total triunfo. Curwen parecia ter dificuldades em se conter de arengar em público sobre o que descobrira, aprendera ou fizera. Entretanto, tudo indicava que a necessidade de sigilo era maior que o desejo de partilhar seu regozijo, pois jamais ofereceu qualquer explicação. Foi depois dessa transição, ocorrida ao que parece no início de julho, que o sinistro estudioso começou a surpreender as pessoas pela posse de informações que apenas seus ancestrais, mortos há muito tempo, poderiam fornecer.
Mas as febris atividades secretas de Curwen não cessaram em absoluto com essa mudança. Ao contrário, tenderam a aumentar, o que o fez deixar cada vez mais seu negócio marítimo nas mãos dos capitães que, agora, uniam-se a ele por laços de medo tão poderosos quanto haviam sido os da falência. Abandonara de todo o tráfico de escravos, alegando que os lucros caíam sem parar. Passava todos os momentos disponíveis na fazenda Pawtuxet; de vez em quando, porém, circulavam boatos sobre sua presença em lugares que, embora de fato não fossem próximos dos cemitérios, ainda assim se assemelhavam tanto a cemitérios que as pessoas atentas se perguntavam até que ponto ocorrera mesmo uma mudança de hábitos do velho. Ezra Weeden, embora seus períodos de espionagem fossem breves e intermitentes devido às viagens que lhe impunha a profissão, mantinha uma persistência vingativa que faltava à maior parte dos cidadãos e agricultores e submetia as atividades de Curwen sob uma vigilância sem precedentes até então.
Muitas das curiosas manobras dos barcos do estranho comerciante haviam sido julgadas aceitáveis por causa da instabilidade dos tempos, quando todos os colonos pareciam decididos a resistir às cláusulas da Lei do Açúcar, que dificultavam um importante comércio. O contrabando e a evasão constituíam uma prática comum na baía de Narragansett, e os desembarques noturnos de cargas ilícitas eram corriqueiros e constantes. Mas noite após noite, ao seguir as barcaças ou pequenas corvetas que ele via esgueirarem-se dos armazéns de Curwen nas docas de Town Street, Weeden não demorou a se certificar de que não se tratava apenas dos navios armados de Sua Majestade que o sinistro covarde ansiava por evitar. Antes da mudança de 1766, aquelas embarcações continham, na maioria das vezes, negros acorrentados que eram transportados pela baía e desembarcados num ponto obscuro do litoral, logo ao norte de Pawtuxet, sendo conduzidos depois, rochedo acima, e pelos campos até a fazenda Curwen, onde os trancafiavam num enorme anexo de pedra com apenas fendas altas e estreitas no lugar de janelas. Após aquela mudança, contudo, alterou-se todo o programa. A importação de escravos cessou de repente, e, durante algum tempo, Curwen abandonou as navegações noturnas. Então, por volta da primavera de 1767, estabeleceu-se um novo programa de ação. Mais uma vez, viam-se as corvetas partirem das silenciosas e escuras docas, só que, a partir de então, deslizavam há certa distância baía abaixo talvez até Nanquit Point, onde se encontravam com estranhos navios de considerável tamanho e dos mais variados aspectos dos quais recebiam a carga. Os marinheiros de Curwen, em seguida, desembarcavam essa carga num local determinado na costa, transportavam-na por terra até a fazenda e trancavam-na no mesmo prédio misterioso de pedra que antes recebia os negros. Quase toda a carga consistia em caixas, grande parte das quais eram pesadas e tinham um formato oblongo semelhante, perturbadoramente, à de caixões.
Weeden sempre vigiava a fazenda com assiduidade constante, visitando-a noite após noite por longos períodos. Raras vezes deixava passar uma semana sem se aproximar da casa, exceto quando o terreno coberto de neve pudesse revelar-lhe as pegadas. Mesmo assim, se aproximava o máximo possível pela estrada ou pelo gelo no rio vizinho para ver as marcas que outros talvez houvessem deixado. Para não interromper a vigilância durante as ausências impostas pelo trabalho, contratou um companheiro de taberna chamado Eleazer Smith para continuar a inspeção quando se ausentasse; os dois, juntos, poderiam espalhar boatos extraordinários. Só não o faziam pois sabiam que o resultado da publicidade alertaria a vítima e impossibilitaria qualquer progresso. Preferiam, em vez disso, se informar de alguma coisa definitiva antes de partir para a ação. O que eles acabaram sabendo deve ter sido assustador mesmo, pois Charles Ward muitas vezes falou aos pais sobre o quanto lamentava o fato de Weeden ter, depois, queimado seus livros de anotações. Tudo o que se pode dizer a respeito das descobertas dos dois é o que Eleazer Smith anotou às pressas num diário não muito coerente e o que outros redatores de diários e missivistas repetiram com timidez das declarações feitas, enfim, pelos dois vigilantes, segundo as quais a fazenda não passava da fachada de uma ameaça imensa e revoltante, de uma extensão e profundidade demasiado grandes e tangíveis que escapavam a toda compreensão.