[9] Pique-esconde

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Não ficou surpresa quando encontrou Vi no mesmo lugar que se viram pela última vez no país da terra, mas se encheu de alívio. Sua jornada para achar a garota não seria tão longa. Vi a seguiu sem perguntas. 

Bris não estava mais com os piratas, se separou deles sem avisar. Eles não haviam, até aquele momento, ido atrás dela. De alguma forma, isso a deixou para baixo por um tempo. Ir tinha sido uma escolha sua, precisava lidar com os resultados. 

Não planejava passar tanto tempo longe do mosteiro, só havia passado quatro até aquele momento, e se tornava mais difícil encontrar um motivo e coragem para dar as caras lá novamente. Vi continuava a acompanhando com diligência. Era ela sempre que resolvia as necessidades das duas, comida, um lugar para dormir. Fora até mesmo ela quem deu uma ideia para conseguirem andar sem dificuldades pelas cidades. 

Havia um costume quase instinto no país da terra, onde garotas de famílias pobres se vestiam com roupas de cores neutras, escondendo seu rosto atrás de véus. Eram chamadas de “ noivas de deus”, andarilhas que ofereciam sorte em busca de boa sorte para sua família. Havia muitas crenças e superstições sobre elas. Vi não se atrevia a agir como uma, já Bris não encontrou bons motivos para não tentar. Pensava que se Deus existisse não iria se importar, quem sabe pudesse deixar passar desta vez. 

E sua viagem de volta passou a ser mais rápida, conseguiram andar pelas estradas com tranquilidade. Quando alguém a via acenava respeitosamente. Mais dois dias se passaram, estavam na cidade mais perto da fronteira com o vento, e também a mais perto da cidade dos piratas. Um vendedor de doces chamou as duas e pediu ajuda para ampliar suas vendas. Brisa concordou, pegou uma caixa e foi para um lado. Pediu Vi para ir para um outro e depois se encontrariam.

Em uma rua cheia de feiras, pegou uma caixa de madeira e se sentou, segurando a caixa de doces na mão. Ter atitude para sair vendendo era mais difícil do que pensou. Com a cabeça baixa, só viu os pés de alguém que se aproximou. 

— Irmã, dance comigo, eu preciso mesmo de sorte!

Nem terminava de falar e já estava a puxando para se levantar. Alguém tão animado e sem pudor com um desconhecido, só poderia ser mesmo Paul. Imaginou por um momento que ele sabia ser ela, mas seu véu era bem fosco. Bris sabia do que ele estava falando, então fez um aceno discreto e ergueu os braços com as mão formando quase uma pinça. Paul fez o mesmo. Ela balançou o quadril para a direita, girando levemente cada vez que batia o pé no chão. Em seguida, mudou a posição das mãos, e repetiu o movimento para o lado contrário. 

Paul pegou rápido, e logo fizeram os passos completos juntos. Afinal, não era difícil. Quando terminaram, ele chamou alguém, que observava distante. Bris quase teve outro susto, e se sentou na caixa outra vez. Pedindo mentalmente para que fossem embora logo.

— Dizem que ganhar um beijo de uma noiva dá sorte com a pessoa que gosta. Por que você não tenta?

Yuri não pareceu interessado, então respirou aliviada. 

Um vento suave balançou seu véu sutilmente, estava calor então foi refrescante. Paul insistiu mais uma vez, mas estava certa que nada poderia convencer Yuri. No entanto, sua cota de sustos não tinha acabado, percebeu que alguém estava curvado em sua direção, ficou paralisada. Quando olhou para baixo, seus olhos encontraram os do deumiano tigre, não tinha como ele saber que era ela.

“ Ele tem alguém que goste?” era difícil acreditar, mas só poderia ser essa a explicação. Aproximou seu rosto da testa de Yuri, pela primeira vez estava se sentindo mal por estar fingindo. Mesmo não acreditando nessas coisas, pensava que a fé vinha do espírito de cada um, uma vez que suas intenções não eram verdadeiras, como poderia aquele ato o dar sorte com quem gostava?

Universo obscuro - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora