[17] Vai ficar tudo bem, porque eu estarei com você

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 " Era algo que provinha de resquícios de um amor frustrado, de tempos idos, quando sofrera muito ao verificar, tardiamente, que a mulher que amara era indigna de sua  afeição " 

Frankenstein - Mary Shelley




Uma pequena mão segurava um de seus dedos sem intenção de soltar, seus grandes olhos brilhantes a encaravam com curiosidade e admiração. No nascer do dia, aqueles olhos tinham o mesmo tom vermelho do amanhecer. Com todo um mundo novo para observar, a única coisa em que eles ficaram vidrados, fora em sua aidm.

" Suas almas estão tão fortemente ligadas, que não se mantém distante. Você é uma aidm, você é aquela que atrai essa alma para você. Logo, você é a única responsável por ela. "

Não recordava quem havia dito isso, as palavras só passavam pelos seus ouvidos. Enquanto devolvia o olhar para aquela pequena criança em sua frente, sem nunca desviar o olhar. Aquela criancinha parecia em transe, e Mirla sorriu. Aquela talvez tenha sido a única vez que ela sorriu para ela.

" Mirla é uma aidm, essa garota realmente não tem sorte. O seu pai não tinha tentado sacrificar as próprias filhas para ter algum poder? Está explicado então, ela certamente não tem habilidade alguma, como seu pai. "

Aquela cicatriz era recente, não importava quão encantador fosse o sorriso da criança que a acompanhava, não demorou muito tempo para que sua mão fosse largada. Mirla não tinha tempo a perder, não tinha o luxo de criar brechas em sua defesa. Ela não precisava de nada além de sua força e determinação, se quisesse andar de cabeça erguida.

O tempo também fez aquele sorriso genuíno daquela criança desaparecer, dando lugar a um sorriso que quase parecia verdadeiro. Não importava o que acontecesse, quão ruim fosse a situação. Aquela criança estava com um sorriso no rosto.

Quando Mirla ficou consciente disso, observava horrorizada. Ela não conseguia entender como isso era possível, como uma criança era capaz de sorrir assim. Mirla não estava acostumada a ser suave, nem guardar para si suas queixas, se ela estava irritada ela xingava, se odiava alguém, nunca sorriria para essa pessoa.

Ela realmente não tinha sorte, além de ser uma aidm, a alma que tinha atraído era bizarra.

" Não importa se os Venel estão cuidando dela. Ela ainda é sua responsabilidade."

" Pare de jogá-la para os outros."

Não importava o que Mirla falava ou quisesse, ela era sempre arrastada para aquela coisinha que veio da Terra. Mirla não conseguia entender porque ninguém ficava do seu lado, porque depois de tudo ainda tinha que assumir isso. Como sempre, sem ter qualquer escolha. Isso tornava impossível para ela cultivar qualquer sentimento bom quando aquela criança chegava. Seu rosto inconscientemente se abatia em descontentamento.

— Ah, eu ouvi que Mirla é sua aidm. Você gosta dela?

— Eu gosto dela — a pequena Bris respondia, apertando suas mãos redondinhas. Suas bochechas pareciam mais cheias quando fez um bico, parecendo infeliz. — Mas a Mirla não gosta de mim.

Mirla tinha ouvido essa conversa uma vez. Não poderia ir lá e falar que era mentira, mesmo que também não fosse verdade.

Agora, depois de tantos anos, de tantos desencontros e encontros desastrosos. Aquela frágil relação e elo que as unia estava permeado por rancor, sentimentos que não poderiam ser facilmente explicados.

Universo obscuro - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora