[16] A noite

5 1 5
                                    


Às vezes crianças e adolescentes tornavam eventos maiores do que eram, tentando resolver problemas que não cabiam a eles, que já estavam sendo tratados pelos adultos. Isso se aplicava até mesmo em prodígios.

Quando o grupo de três chegou de sua jornada sem fundamento, se assustaram em um primeiro momento por não encontrar os dois pacientes, nem ninguém. Depois de um surto de desespero e uma busca pela floresta proibida, lá estavam eles, perto de um rio da floresta. Não era certo o que eles faziam lá, Cairo estava atrás, Gane tinha um braço ao redor do ombro de Yuri, e Enako chutava uma pedrinha.

Enquanto aquele grupo viajava, a seguinte sequência de eventos aconteceu: Gane foi para o mosteiro depois de saber que Yuri estava ferido. Ela tinha mandado alguém avisar Niu e Nerlim, Cairo estava com os dois e soube também. Assim, essa pessoa resolveu tudo.

-

O farfalhar das folhas, o quebrar dos galhos por animais selvagens, o bater de asas, e o sopro muito leve do vento, eram os únicos sons que podiam ser ouvidos, e os únicos que ela queria ouvir. No entanto, rapidamente barulhos foram adicionados, passos ao seu redor, como se circulasse ao redor dela, observando.

— Tayder? — Não havia mais paz em sua expressão, ela abriu os olhos para confirmar quem estava ali.

— O que você está fazendo?

— Nada — se levantou, saindo debaixo da árvore onde estava, em um pequeno jardim do mosteiro.

— E então, você ainda não me respondeu...

— Sobre o quê? — Bris perguntou de forma lenta.

— Antes, você foi embora e ele — ergueu as sobrancelhas, dando ênfase no ele, tentando deixar nas entrelinhas que se referia a Cairo — mandou Yuri atrás de você. Mas pelo que vejo, se você não quiser voltar, ele não vai insistir. Com o que Beka disse no templo dos deuses sobre, você sabe... Você não precisa ficar aqui, posso ajudar você a ficar em outro lugar, enquanto aquele deumiano pervertido resolve as coisas. Você mesmo disse antes que tinha escolhido errado, foi porque escolheu os Omagaros e descobriu que Cairo te apunhalou, certo? Mas ainda não é tarde demais, ainda dá para reverter as coisas. — Tayder falou baixo, parou no momento que percebeu que Bris parecia nervosa. — Você não fez nada de errado, e não parece alguém que conseguiria fazer tudo isso. Vamos usar isso a seu favor.

Bris o encarou com as sobrancelhas franzidas, desviando um pouco o olhar. Ela parecia querer pensar um pouco antes de falar. Não estava mais tão irritada quanto da última vez que foi abordada sobre isso, mas sua antipatia ainda continuava.

— Arrrg! Eu vou matá-lo! — Mais um barulho irritante, a voz de Enako, interrompeu qualquer pensamento.

Bris e Tayder correram na direção do grito, não por senso de urgência, os xingamentos e ameaças de Enako se tornaram parte do dia a dia, os dois correram pelo entretenimento.

Havia dois rapazes na dispensa, um com um rosto com veias saltando e dentes trincados e outro com um rosto sem emoção segurando uma fruta. A cena que Bris e Tayder viram ao chegar foi essa, duas pessoas brigando por comida.

— Eu pretendia comer isso, seu idiota! Por que você não vai procurar um animal ou coisa do tipo? — Sugeriu Enako com escárnio.

— Se o fato de nosso deumi referente influenciasse nossos paladares, você estaria comendo ratos e sapos. — Afirmou Yuri, o rosto inabalado.

— Eu só consigo escutar latidos, me devolva logo minha comida! — Gritou estendendo a mão, tentando pegar a fruta de Yuri. O deumiano cobra só acertou o vento.

Universo obscuro - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora