[11] Rompimento

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Aquele ano, 2003, marcava o final de uma longa luta contra Lucil.

Um jovem Eliseo vivia perdido em meio ao acampamento, não fazia muito tempo que o capitão o havia trazido depois de ter saído do galpão onde estavam os corpos de seus irmãos. Nada era revelado em seus olhos cinzentos, as pessoas eram sombras indistintas que passavam por sua visão, o borrão de dois irmãos de cabelos que pareciam chamas, conversas entre o mais velho e o capitão dos piratas. Não sabia quanto tempo se passou, mas tinha essas vagas lembranças, que uma vez ou outra essa dupla de irmãos passavam por ele. A única vez que seus olhos se iluminaram com um pouco de curiosidade foi quando notou que agora não parecia ter um mais velho e um mais novo, os dois irmãos pareciam ter a mesma idade, duas crianças. Era a primeira vez que sua mente o fazia se questionar “ Onde estava aquele outro, o rapaz? Será que existiam dois pequenos e um mais velho?” 

Naquela vez, ele prestou mais atenção. Foi aquele com postura mais confiante que falou com o capitão. A garota, como sempre, segurava firme o braço daquele de postura firme. Era a mesma dupla de sempre, mas por que um deles tinha encolhido?

Depois daquele dia, Eliseo soube um pouco mais sobre a situação dos irmãos. Eles tinham o sobrenome Lumi, e por uma série de questões que não entendia, estavam sendo perseguidos. O único objetivo do mais velho, Mesti, era proteger a irmã. Eliseo facilmente conseguiu se identificar com a situação. Talvez não tivesse muita coisa que pudesse fazer para ajudar, afinal, nunca sequer tinham trocado uma palavra, mas se tivesse uma oportunidade, não negaria. 

Meses se passaram, aqueles dois nunca voltaram. 

Uma noite, o capitão chamou Eliseo para o acompanhar em um encontro com os dois irmãos, pois eles precisavam ver o capitão. Ele não pensou duas vezes, aceitou ir com o capitão. A sensação de alívio era um sentimento que havia desaparecido do jovem Eliseo, mas durante o início daquela viagem sentiu isso outra vez. Pensava que se eles entraram em contato, é porque estavam bem. No entanto, conforme se aproximavam do fim daquela viagem, a angústia crescia como erva daninha em seu peito. 

Quando uma velha estrutura de um templo em pedaços apareceu em suas visões, pequenas silhuetas já podiam ser vistas devido a inexistência de um teto. O capitão se apressou para descer pela estrada íngreme e chegar à entrada do templo. Eliseo viu muito bem a cena, mesmo que o capitão tivesse tomado a frente: Um garoto de joelhos segurava firmemente uma garota, todo o calor de seu corpo estava abaixo deles, agora seu corpo era tão gelado quanto uma brisa de inverno. Os olhos do garoto estavam encharcados de lágrimas, tanto que o amarelo de seus olhos parecia envolto em ferrugem. Não havia nada ali, Eliseo conhecia muito bem aquele estado. 

Eliseo não conseguia chorar, não conseguia mover um músculo de seu corpo. Por que ele tinha vindo? O capitão teria chegado mais rápido sem ele, teria dado tempo para ajudá-los. Se Eliseo não tivesse atrasado o capitão, Mesti teria conseguido manter a irmã protegida. Eliseo acreditava cegamente nisso. 

Naquele dia, Mesti voltou com eles para o acampamento. O tempo passava, naquela época — até agora — Eliseo não saiu de perto do garoto, ao ponto de estressá-lo por isso. Eliseo não suportou a rejeição. 

“ Por favor… Por favor, me deixe fazer alguma coisa por você!” Ele tentou se explicar, jogando sem filtros o peso que tinha em seu coração, fazendo sentido ou não. Eliseo não lembrava o que aconteceu depois disso, mas aquele garoto não o rejeitou mais. 

Uma dupla não precisava de dois corações enterrados na lama, e Eliseo era naturalmente mais sociável. Com o tempo, talvez para que um pouco de sentido surgisse entre pelo menos um deles, Eliseo se permitiu sentir mais, se expressar mais, se divertir mais. Se ele tivesse vida em si, eventualmente conseguiria arrastar o outro para esse caminho também.

Universo obscuro - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora