[14] Corações animais

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— Carlos, — era Yuri, bem mais novo, tinha seis anos — você chegou cedo, o que é isso?

Um garoto, mais velho e alto que Yuri, se aproximava. Ele também tinha traços de tigre, listras e cabelo branco. Seus olhos eram de um verde misturado com azul, e sua pele era escura. Ele puxou a alça da enorme bolsa atravessada em seu corpo, ele andava com duas.

— Uma bolsa, o que mais seria?

— Não sei.

— Pega — ele jogou aquela enorme bolsa no corpo pequeno do garoto — é para você. Talvez você não cresça mais do que isso, talvez você nunca consiga carregá-la. Eu não me importo, só tinha esse tamanho.

— Obrigado.

— Vamos logo. — Ele retirou a outra bolsa e a estendeu na direção do outro, que prontamente a pegou.

Os dois caminharam por estradas estreitas no meio da mata, até pararem à beira de um rio. A tarde se foi rapidamente, enquanto pegavam peixes e os remexia.

— Ei, Yuri, que tal se deixamos os peixes de lado? Eles fedem. — Perguntou Carlos, olhando para trás por cima do ombro, tinha um olhar naturalmente desconfiado, como se essa fosse uma grande questão.

— Tá bom.— Ele se levantou, pronto para ir embora.

— Não, não digo ir embora — corrigiu a conclusão do outro. — Vamos deixar os peixes de lado e pegar algo mais grande.

— O quê?

— Eu vi alguma coisa correndo por aí, não sei se era um gato ou outro bicho. — Ele se levantou, batendo as roupas com animação. — Vamos, Yuri, traga minha bolsa.

Yuri fez como pedido, e saiu atrás do outro arrastando as duas bolsas.

— Yuri, quando eu crescer você será meu servo.

— Certo.

— Certo nada, somos amigos, você não pode ser meu servo.

— Certo.

— Qual seu problema?

— Não sei o que deveria responder.

— Deixa. Vem, anda mais rápido, servo e amigo buahahah — Carlos jogou a cabeça para trás, até conseguir ver Yuri atrás. — Você não pensa sobre as coisas que a gente faz?

— Não.

— Seu idiota — jogou a cabeça para frente. — Você é meu escravo e amigo, e você não se importa?

— Não.

— Desisto. Me dá minha bolsa. — Ele se virou, tomando as duas bolsas da mão do garotinho, que não tinha força suficiente nem para erguê-las. — A sua também. Vamos logo, senão ele vai fugir. — Disse, começando a correr, enquanto sorria de forma exagerada e teatral.

Yuri, novamente, só o acompanhou, pois Carlos era o único em toda a vila que o arrastava para qualquer lugar que fosse.

***

Má era a casa dos mercenários. Tayder nunca esqueceria que aquele que enfrentaram no templo era o mercenário de cinza que tinha os atacado no deserto. Logo, o primeiro lugar que pensou para procurá-lo foi o pequeno país.

Foi completamente diferente para o príncipe andar naquelas ruas, ao invés de só ver de longe, do lar do fundador de Má. Quando veio antes com Yuri e os outros, ficou tentado a descer na cidade, mas não teve tempo. Seu coração aventureiro, que ouviu tantas histórias sobre Má e os mercenários, podia finalmente saciar um pouco de sua curiosidade.

Universo obscuro - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora