Eu tinha uma vida perfeitamente estável antes da chegada do Mikael. É um nome até que bonito, e tem um significado lindo, mas no meu caso sua chegada fora uma tremenda desgraça. Ou seria eu quem cheguei na vida dele? Não sei.
Antes de mais nada, Mikael, ou melhor Nael, como fora apelidado carinhosamente não é nada mais, nada menos que o funcionário viado do corpo de bombeiros de Santa Lusia.
Não, eu não irei poupar palavras para retratá-lo: Boiola, viado, amassador de linguiça, suga-tromba, bum-bum guloso, boiola, botão largo, botão aberto, mariquinha, chupa engole... Enfim derivados apelidos que coloquei, e de certo eu não me arrependo, ou me arrependo... Toda vez que o olho agora, me pergunto que tipo de bruxaria ele usou para me fazer se sentir atraído por ele? Ah, essa é a engrenagem na qual os homens temem, eu o queria longe, caso eu fosse no banheiro tinha um certo medo de o encontrar lá dentro, e quando ele estava me olhando tinha medo de olhar de volta. Ele causava uma insegurança e instabilidade tão grande, que tudo nele me irritava, seus trejeitos, suas roupas coladas, sua bunda arrebitada dentro da calça cinza social quando ele chegava. Seus risinhos, seu cabelo castanho arrumado e bagunçado, sua barba por fazer, seus olhos marrons brilhosos. Mikael era um grande viadão de merda. Eu amava zombar da cara dele... Mas não posso começar essa historia de trás para frente, primeiro vamos a estaca zero.
E ela começa dentro de um consultório, devo dizer que minha terapeuta não é minha terapeuta, e sim minha tia, a única que ainda tinha paciência comigo.
— Apollo, você não é meu paciente — disse ela.
— Por favor Tia — disse eu me sentando.
Ela respirou fundo.
— Maldito dia que sua mãe te colocou no mundo, o pior é que ela cuidou bem de você mas ela me deixou com a bucha grande pois mesmo que você já tenha quase trinta anos eu sou quase sua babá.
— Sabe minha vida está tão bagunçada — comecei sem dar importância.
— Imagino, está tomando lugar dos meus pacientes. — murmurou arrumando os cabelos
— E então eu nem sei por onde seguir — dei uma pausa — Será que sou ninfomaníaco ou louco?
— Por descontar suas frustrações em sexo, ou por virar bombeiro depois de sua mãe ter morrido em um incêndio.
Por isso eu gosto dela. Dona Dalva é o tipo de mulher que fala na lata. Ela pegou um caderno que estava em sua gaveta, e uma caneta e caminhou até mim.
— Eu não sei por que você pede minha ajuda, você mal segue meus conselhos de tia... Imagine o de profissional.
— Mas você é psicóloga
— Mas não sua psicóloga Apollo, e meu próximo paciente já está na porta. Aqui... — ela estendeu o caderno e a caneta — Tente anotar tudo o que você sente, se não gosta de diários escreva como se fosse uma carta, para sua mãe ou quem quer que seja.
Peguei o caderno e a caneta de modo pensativo.
— Eu te amo, mesmo que você tenha dificuldades em dizer que me ama ou que ama qualquer outra coisa também. — disse ela e eu já me levantava.
Não era aquilo que eu queria, mas eu não queria mais tomar o tempo dela.
— Obrigado tia.
Ela sorriu e passou a mão na minha barba.
— Agora vai...l
Me retirei do consultório, me retirei do prédio me sentei em um banco de concreto do lado de fora, o sol estava um tanto ardido, olhei o caderno de forma pensativo, abri o mesmo e risquei.
“Querida Dina, queria que você estivesse aqui, eu nem sei o que escrever nessa droga, eu nem sei por onde começar vou tentar do início... hoje é dia 30 de junho e há uns meses atrás tudo tem mudado e feito eu duvidar de quem sou, eu beijei um homem, um outro homem e isso está me matando...”

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Com Amor, Apollo
RomanceApollo é um homem de 28 anos que tem suas próprias convicção e preconceitos a respeito do mundo LGBT, mas acaba por descobrir que todo o seu preconceito não passa de uma máscara barata sobre o que ele realmente é. Apollo se apaixona pelo seu colega...