Vinte - Posso?

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Ele se sentou, lançou sua escolha e eu fiz a minha ao garçom.

- Eu acho que nunca o agradeci, não é?

- Pelo quê?

- Ter me defendido batendo nos seus amigos aquele dia.

- Eu não o defendi eu só... - ele ergueu as sobrancelhas e eu murchei os ombros - não era um dia bons para piadas, você estava frágil.

- Viu... Defendeu.

- É, é... Você não morava lá? No local que pegou fogo. - mudei o assunto

- Não, eu moro com minha mãe adotiva... Quando meus pais morreram ninguém podia ficar comigo, digo meu pai era daqui, mas era solitário não tinha família, e a família da minha mãe do Japão, eles estavam por lá na época - respondeu - Então fui para um lar de adoção.

- Japonês?

- É eu sei, eu não pareço nada com minha mãe... - riu

Dei os ombros.

- Então fui adotado, ela é uma boa mãe... Depois de anos finalmente meus avós biológicos e minha tia e o filho dela vieram do Japão para cá, nós aproximamos, minha tia veio grávida, e eu apadrinhei o pequeno Pedro. Estávamos criando uma relação sabe? Eu... - ele respirou fundo - Sem assuntos tristes hoje cara.

- Certo sem assuntos tristes. - falei passando a minha mão na camisa amarrotada e suja de vinho.

- Agora sim está parecendo o Apollo que conheço - ele disse apontando a sujeira.

- Mas que ódio, eu não sou sujo eu... - gemi irritado e ele riu, eu também ri

De volta ao carro, no meio do nada, junto dos vagalumes, repousavamos nossos corpos no capô do mesmo em cima do manto, uma música baixinha tocava no lado de dentro. Já estávamos na terceira garrafa de vinho, ele cantarolava a música, eu parecia estar em um dia de verão com um óculos escuro no rosto, sem camisa e esticado no vidro da frente do carro.

- Take my heand - murmurou ele no ritmo da música.

- Take my hold life too - completei - Caraca essa música é muito boa, não é?

- É, Elvis, não tem como ser ruim.

- Gosta de músicas antigas?

- Não, mas de tanto minha mãe ouvir me tornei igual ela, sei quase todas. - Riu.

- Mesmo caso com minha tia.

Ele bateu com a garrafa de vinho no meu peito, e eu bebi.

- Como você se sente em relação a tudo?

- Sinceramente? Perdido, é como se ontem eu fosse um, e hoje não me reconhecesse mais, todos os dias me afogo em crises existenciais. Tipo cara? Eu gay? Eu não sou gay.

- Por que não?

- Por que não. - disse eu.

- Talvez bi, ou Pam, sei lá você não pode mais negar que tá querendo me pegar. Você nunca pegou nenhum outro garoto? Tipo nem vontade?

- Não sou nada disso, por que tem que nomear os gostos? Tipo só estou a fim de você, não quero fazer parte de uma sigla idiota.

Ele ficou quietinho, acho que o ofendi. Eu não quis ofender.

- Tá, vou te admitir algo... - disse eu lhe dando a garrafa - Quando eu tinha quatorze anos, tinha um garoto, a amiga dele era uma gostosa e eu queria muito pegar ela.

- Oh merda, isso não tá me cheirando bem.

- Sim, ele me deu uma chupada. - dei uma pausa - gays chupam bem, mulheres são mais delicadas, mas enfim eu peguei a amiga gostosa dele depois.

Com Amor, ApolloOnde histórias criam vida. Descubra agora