Quinze - 40tão

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Eu tive de sumir das redes sociais, por tempo indeterminado desativei todas as minhas redes sociais criando contas fakes em extremo anonimato, era horrível ver as pessoas me seguindo cada vez mais, querendo ser meus amigos, eu virei um bombeiro da representatividade, até mesmo Carol estava surfando nessa onda fazendo infinitas postagens em vídeo de sua vida.
Eu surtei, digo internamente após ver uma arte, um desenho meu trepando com vários bombeiros, eu não era uma puta, e tão já viadão naquele ponto. Existia uma razão para a existência dos fakes que era acompanhar a vida alheia, mais precisamente de Mikael, ele ficou sumido também das rede sociais mas três semanas já se passaram e ele segue a vida dele, falou sobre o incêndio, sobre sua família adotiva e aquela família do incêndio era sua família de verdade a legitima, respondeu perguntas, fez comentários mega importante sobre segurança, falou sobre o fato de ser gay, e sobre mim, ou sobre nós, sempre perguntavam de mim e ele dizia que eu estava dando um tempo, ou que eu era reservado não gostava muito de holofote, eu não sabia até onde aquela mentira ia, éramos um casal de mentira com fãs de verdade.
Queria que parassem, parassem de ver como um homem gay, e queria que parassem de achar que eu namorava o Mikael, e acho que para ele também estava sendo um saco.

Tia Dalva estava completando 40 anos, hoje era um dia especial,  pelo menos para ela, comprei rosas, um buquê, e um urso. Era final de tarde, e hoje o trabalho foi um pouco puxado então dormi a tarde toda, e eu iria na festa da tia Dalva por alguns minutos e depois para a casa ficar mais tempo no sofá.
Quando cheguei, ela abriu a porta com um largo sorriso, e eu tapei o rosto com o urso.

— É aqui que alguém chega aos 40? — falei fazendo a voz mais patética que eu sabia fazer.

Ela riu e deu um tapa em minha mão fazendo eu tirar o urso da face, e naquele instante atrás dela, sentado no sofá segurando um copo qualquer estava Mikael, quando meus olhos encontraram o dele eu fiquei tão envergonhado, merda, por que eu fiquei tão envergonhado por ele ter me visto fazendo palhaçada para a minha tia? E por que ele estava aqui?
Ele ficou rubrico, e eu notei não ser o único envergonhado eu estava evitando ele e todo custo no trabalho, evitando ao máximo, evitando todas as horas, todo momento.

— Espero que não se importe — falou ela baixinho

— Por que chamou ele? Pensei que era só a nossa família — falei mordendo os dente

— A vovó disse que queria conhecer seu namorado, e que era para eu chamá-lo — respirou fundo — Não foi ideia minha, mas ele faz parte da família agora.

— A vovó? Desde quando ela se importa com a gente?

— Para com isso Apollo, ela sempre cuidou de você, ou ajudou.

— Não, você sempre cuidou de mim minha tia, minha vó não lembra nem do meu aniversário.

— Claro tem ideia de como é difícil olhar para você e não lembrar de Dina? — falou sem pensar, em seguida engoliu seco — Desculpa, desculpa Apollo, eu não...

— Tudo bem — Murmurei chateado

— A vovó sempre te achou duro, então ela ficou feliz e acredita que toda sua dureza era por você ser gay, e que agora você é...

— Um molenga.

— Não... Você mesmo. — murmurou

— Olha aí quem chegou — Disse minha vó apoiando se em sua bengala.

Eu ri, mesmo que desconfortável e abracei a velha com cheiro de tabaco. Nada contra a vó Miranda, mas sejamos sinceros: ela era uma pessoa muito distante de mim, e agora? Agora quer se aproximar como se a culpa fosse minha? Fui cruel com ela uma vez, eu sei, mas não foi de propósito eu estava chateado com a minha recente perda, ela certamente me viu como um monstro e agora me vê como uma bichinha sentimental.

— Olha querido, quero que saiba que apoio você viu? — disse a velha, em seguida olhou para Mikael — Eu nunca entendi por que você era tão rebelde, mas agora... — ela riu — É... Eu entendo, demorou muito para se aceitar e...

— Vó eu não...

— Eu sei, eu sei... Bom ele é um bom homem — disse com aquela voz enrugada — E ele te conhece muito bem, eu nem sabia que sua comida favorita era macarronada com atum.

— Nem eu sabia — resmunguei.

Eu odeio atum.

Em seguida ela sinalizou com a mão para Mikael, que se levantou do sofá de modo acanhado se aproximando. Eu que estava encurvado para falar com a velha me posicionei.

— Oi — Murmurei  envergonhado.

— Oi Mozão — disse ele e em seguida beijou minha bochecha, quase o canto do meu lábio e foi colocando a mão entorno da minha cintura. — Como foi a reunião?

— Reunião? — falei confuso

— É a reunião do trabalho, por isso vim na frente... — disse ele mordendo os dentes

Limpei a garganta confuso.
Minha vó nos olhava e minha tia mais atrás já sacou que era mentira.

— Ah, é, foi... Acabou mais tarde — falei confuso — Não se perdeu no caminho?

Eu passei a tarde toda no sofá.

— Não, foi tranquilo fiz como me explicou.

O namorado da minha tia decidiu se aproximar da nossa reunião na porta de entrada da casa

— Olha se não são eles, o casal sensação — disse rindo

Eu jurava que ele era preconceituoso, lembro que ele ria das minhas piadas quando assistíamos futebol e eu falava alguma besteira.

— Tadeu — sorri o abraçando em um cumprimento.

— Agora tá explicado aquele ódio todo — deu uma cotovelada no Mikael — Ele não podia ver um homem desmunhecar que fazia tanta piada, as vezes eu era obrigado a rir, mas era meio sem noção.

Me engasguei e ele deu tapas fortes na minhas costas e depois apertou meu ombro. Claro! Agora eu que era sem noção. Merda, fui tomado um asseio, minha tia que se distanciou olhava para nós com olhares vigilantes enquanto colocava os pratos entorno da mesa da cozinha, logo seus amigos riam em conversas normalizadas, não sobre mim, e eu conhecia cada um de seus amigos da qual eu fazia piadinhas preconceituosas, entao talvez eu tenha sido sem noção com todos eles e eles só davam risada por conveniência. Que retrocessos, era isso o que eu sentia, como minha vó uma mulher que já beirava os noventa anos achava aquilo comum, e ainda dizia me apoiar, como que todo mundo acha normal Mikael estar com o braço entorno de minha cintura, me cumprimentar com beijo na bochecha ou me chamar de Mozão?

Com Amor, ApolloOnde histórias criam vida. Descubra agora