Guardei no final do caderno dobrado devidamente a folha amassada que arranquei, e deixei lá, não podia jogar ela fora...
Naquela manhã Chris se sentou aí meu lado.
— Não aguento mais o gato daquela velha
— Não fala assim do Tommy — disse eu.
— É? Então toda vez que ela chamar você irá lá tirar aquele maldito daquela arvore — disse revirando os olhos.
Eu ri, e Miguel a cutucou como se desse a ela um sinal, quando me virei Mikael tocou meu ombro.
— Oi — disse de surpresa
— Hã... Oi? — falei confuso.
Ele se sentou ao meu lado.
— Queria saber se... Se você não quer sair comigo no final de semana, minha mãe tem uma fazenda no interior da cidade — explicou — Vou para lá às vezes aos fins de semana, então... Não sei. Vamos no sábado depois do meu expediente e voltamos na segunda direto para o trabalho, o que acha?
— Hã... Parece legal. — ri
— Bacana, eles vão ficar felizes em te conhecer, vai ser legal.
Ele se levantou.
— Espera eles quem? — perguntei mas ele saiu andando.
Quando olhei Chris e Miguel limparam a garganta fingindo que estavam comendo seus lanches e falando sobre o sabor do mesmo. Eles eram péssimos em fingir
— Nossa esse molho.
— Incrível não é? — disse ela atropelando a fala dele tentando desfaçar.
Respirei fundo.
— Vocês são péssimos — disse
...Eu terminei de fechar a mochila, conferindo mentalmente se eu estava levando tudo carregadores de celular, cuecas, escova de dentes, um chapéu talvez. Não conversei muito com Mikael no resto da semana, ele apenas avisou hoje que ia passar aqui depois do almoço, umas três da tarde e iríamos para a tal fazenda da família dele.
Olhei no celular esperando, e quando já era três horas eu coloquei a mochila nas costas e abri a porta para sair e imediatamente dei de cara com Anna Clara, ela estava prestes a bater na porta de punhos cerrados, tomei um susto.— Anna?
— Eu pedi para o porteiro não avisar que eu estava vindo eu... Eu sabia que você estava em casa queria apenas conversar.
— Não quero falar com você.
— Mas eu quero.
— Merda Anna você me deu um pé na bunda. — falei irritado
— Sim, te dei mas agora estou voltando atrás, sei que toda aquela história de ser gay é mentira, eu só...
— Anna Clara — resmunguei.
— Apollo, eu só estou pensando no que vai ser melhor para nós.
— Nós quem? Não existe um nós, eu quem não a quero mais.
Ela então colocou a mão no seu ventre alisando o mesmo, e ali entendi o recado.
Merda.— Nós.
— Você sumiu a quase um mês, eu não vou cair nessas — disse eu
— Pois é, mas eu estou de dois — disse ela empurrando em meu peito uma folha de papel contendo os exames e eu peguei — Era o seu sonho ser pai lembra? E eu já estava suspeitando desde o dia que trouxe meu irmão aqui, mas o modo como você tratou ele me fez ver que talvez você não estivesse preparado e agora eu não posso arcar com isso sozinha então vamos nos acertar, vamos voltar, casar, como você sempre quis.
Imediatamente fechei a porta em sua cara.
Fiquei imóvel.
Não isso não podia ser real.
Ela esmurrava a porta com socos e chutes berrando.— Vai embora eu não quero conversar, vaza daqui! — gritei enquanto ela espancava a porta.
Merda! Olhei os exames, oito semanas... Oito semanas, havia uma pequena foto de um ultrassom, eu não entendia nada sobre ultrassom, do lado de fora ela gritava que ia me por na justiça. Por um momento houve um silêncio.
Houve um grande silêncio.
Meus olhos se encheram.
Não eu não estava feliz, eu acabara de ser totalmente explodido.
Não podia ser real.Meu sonho era ser pai. E eu não faço ideia de como prosseguir.
Houve batidas na porta novamente.— Eu mandei ir embora...
— Apollo? — soou a voz do Mikael. — Estou esperando você há quinze minutos.
Fiquei imóvel. Enfiei o papel na mochila, passei a mão no rosto e abri a porta.
— Desculpa... Eu... Pensei que fosse outra pessoa.
— Esta tudo bem cara?
— Claro. — dei um riso falso.
— Pensou que era quem?
— Dívida — ri cínico. — tô devendo o vizinho e ele veio aqui então... Vamos rápido.
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Com Amor, Apollo
RomanceApollo é um homem de 28 anos que tem suas próprias convicção e preconceitos a respeito do mundo LGBT, mas acaba por descobrir que todo o seu preconceito não passa de uma máscara barata sobre o que ele realmente é. Apollo se apaixona pelo seu colega...