Cabelo de fogo.
— Asteeeeer!
O grito estridente da senhora cara de Capivara ecoou pela rua larga, seus punhos tremiam fechados rente ao corpo. As pessoas na rua tumultuada arregalaram os olhos para o pequeno rebuliço. Apesar das ruas de Ekolon serem largas, a grande circulação dos cidadãos e a chegada de visitantes de outros reinos para a cerimônia do novo receptáculo do dragão está fazendo com que seja quase impossível de Aster caminhar com seu Zuzun bebê. O que o levou a um pequeno desastre com a senhora da barraca de joias. Pois os Zuzuns são criaturas que precisam de espaço, em sua forma adulta são mais altos que os cavalos e seus corpos semelhantes a cascos redondos, são tão fortes que aguentam toneladas, por isso eles são usados para carregar cargas.
Porém, o Zuzun de Aster, o Teté, ainda é um bebê, apesar de grande ele ainda é medroso, então Aster não o culpa pelo desastre. Mas sim o homem com roupas extravagantes que teve a brilhante ideia de jogar explosivos de festa em uma rua movimentada, acreditando que era a melhor forma de vender seus tecidos. O barulho todo atordoou o Teté, fazendo-o encolher seu grande corpo em uma bola, e ele rodou sem rumo pela rua batendo em tudo que aparecia a sua frente, incluindo pessoas, que gritaram raivosas caindo no chão, apontando os dedos para ele enquanto corria atrás de Teté.
Para sua alegria e má sorte, o Zuzun foi de contra a barraca de joias e acessórios da cara de Capivara. Naquele momento, para Aster tudo pareceu estar em extrema lentidão, o rosto dela se contorcendo enquanto suas sobrancelhas se ergueram o mais alto possível e Teté colidindo com a lateral da madeira da barraca e rolando para debaixo da lona roxa. Se os Zuzuns não ficassem todos uma bola lisa quando se encolhem, as joias que caíram sobre ele teriam ficado penduradas em seu casco. Teté se recuperou rápido, voltando a ter suas quatro patas. Antes que a senhora Capivara puxasse a ponta da camisa de Aster, ele pulou em cima do Zuzun, que correu o mais rápido que pode.
Aster rir sentindo o vento bater em seu rosto. Seu cabelo o destaca como uma pequena chama serpenteando entre a multidão. Ele sente como se estivesse vingado sua melhor amiga Yejin, ela amará saber o que aconteceu, mas ele também sabe que, no fundo, ela vai se sentir culpada por estar feliz, assim como uma verdadeira alma plácida. Ela havia se lamuriado a tarde inteira do dia anterior porque a cara de Capivara disse que a ela nunca conseguiria entrar para o esquadrão, afinal o esquadrão é para almas fortes e espertas, não para as tolas.
Yejin tem o sonho de entrar para o esquadrão de sentinelas, um dos três esquadrões de Ekolon, mas para isso ela precisa ter grande controle do seu amakos. Todos nascem com ele, porém algumas almas possuem mais facilidades de usá-lo que outras, e as almas plácidas não são uma delas.
A vereda para a casa de Aster está tão vazia como sempre foi por estar mais afastada do centro. O vento sopra forte e os capins entre os pedregulhos dançam. Ele observa o velho dono da mercearia ajustando a manga da camisa engomada de seu filho, de forma que fique evidente a marca da alma azul em seu pulso, orgulhosamente um Sagaz. O garoto se despede subindo em um dragão Steco, umas das menores espécies com chifre, ele acaricia as escamas dele de cor amadeirada alçando voou em direção ao castelo. Aster suspira aliviado por não precisar passar pelo processo que ele fará.
A cerimônia do receptáculo acontece a cada cinquenta anos. O anterior foi do reino Thenya. Dessa vez o receptáculo é do reino Ekolon, o receptáculo pode ser qualquer um, mas os guardiões sempre são os herdeiros do trono. Cada reino possui o guardião de Ako, para ajudar o receptáculo na jornada, mas para o reino no qual o receptáculo for escolhido, o guardião sempre estará vinculado. Sendo assim, todos aqueles com dezoito anos e sem ligação de alma devem se apresentar ao castelo, pois no momento em que o novo receptáculo se transformar a ligação com algum deles acontecerá. Tornando-o o novo guardião. O receptáculo do dragão vive pelo reino e a sua ligação vive para protegê-lo.
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Aster Furis: O receptáculo do dragão
FantasiaO espírito do dragão nunca erra, é o que dizem, de geração a geração. Mas o que acontece quando um reino desestabilizado pelos maus tempos vê pela primeira vez a tradição quebrar? Quando ao invés do espírito escolher como receptáculo aquela que todo...