Capítulo dois

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Lar, doce?


A porta chia assim que Aster abre e Fernia entra cautelosa analisando a ferraria. A ausência do barulho de bater de ferros dá a certeza que ele já tinha. Seu pai não está. Diferente de Fernia que corre rodeando esperançosamente o balcão em direção à porta a direita, os pedaços de ferros organizados em cima dele balançam quando ela bate com seu quadril. Os ombros dela descem assim que escancara a porta e nota o vazio.

— Vamos Fernia. Para impressionar a rainha Gowen você tem que se arrumar. — Aster fala em tom provocativo.

— Sim! — Ela grita.

Fernia corre para a porta da esquerda empurrando-a com uma força impressionante para sua idade. Aster a segue e seu nariz coça com o fedor azedo. Ele olha para a poltrona não mais verde de tão desgastada, esperando encontrar a origem do odor, mas esta vazia. Fernia tenta correr, porém, ele a impede com o braço. Seus olhos varrem a casa observando primeiro a mesa pequena de madeira puída no centro, a estante de livros na parede oposta à prateleira, e por fim, as sobras de velas pelos móveis.

— Olha só quem resolveu dar o ar da graça. — Seu avô, Túlio,  fala entre tossidos. Ele abre os braços, dramático enquanto sai da cozinha, — o que tem na bolsa? Parece cheia. Finalmente cedendo aos seus instintos? — Ele desdenha.

— Fernia, vá tomar banho. — Aster ordena.

— E nem vai me cumprimentar após dias fora pirralha?

— Estou com pressa, vou ver a rainha! — Ela diz enquanto corre a passos largos.

Túlio esfrega os olhos em cansaço, e resmunga:

— Como se ela fosse te notar besta.

— Onde ele está? — Aster pergunta.

— E por qual motivo eu saberia? 

Ele anda para perto da lareira pegando os troncos do lado esquerdo para jogá-los dentro, parando apenas para coçar a marcar verde em seu pulso. Aster fecha a porta indo em direção a estante se escorando na parede, ele cutuca a tintura gasta fazendo-a esfarelasse enquanto ouve Túlio resmungar. Ele acende seu charuto e a fumaça flutua pela sala gasta. As mechas cinza do cabelo dele se iluminam enquanto observa pensativo as chamas antes de voltar a falar.

— Você vai à cerimônia?

— Sim.

— Você sabe que toda essa multidão atrai muitas oportunidades, certo?

— Não estou me envolvendo nessas suas confusões, Túlio. Eu já disse. — Aster relembra, cansado, cruzando os braços.

— Sim, garoto bonzinho, já entendi. Você é um ávido que não quer ser um ávido — Túlio zomba.

— Você fala como se todos fizessem isso. Se for assim não existiriam Audazes medrosos. Tudo isso que dizem que somos não passa de uma forma deles tentarem nos torna malvisto, e para você que não gosta de ser rotulado, isso é muito...

— Ah! Vai a merda Pirralho! Mente dos deuses eu tenho que ter! Tanta lengalenga. Acorda, Gani não te dá nada, e nunca dará! Tirar deles um pouco é o mínimo.

— Não preciso que eles me deem nada. E muito menos ligo para o que eles pensam de mim.

Túlio tosse entre risadas. Ele olha para Aster em desgosto, mexendo sua cabeça em negação. A fumaça do charuto flutua ao redor dele como moscas.

Aster Furis: O receptáculo do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora