O receptáculo do dragão.
Aster sente seu corpo como se flutuasse sobre as águas. Sente a brisa afagar seu rosto e o cheiro de lavanda inundar seu nariz. Ele inspira fundo e em seguida é afogado pelo aroma opressor. Seus olhos piscam, pesados, enquanto tateia ao redor a procura de algo reconhecível. Com um zumbido, seu ouvido parece desentupir e sua audição voltar. Leve sons de respirações, murmúrios e arrastar de pé ecoam. Ele engole em seco tentando lutar contra a vontade de fechar os olhos conforme um calafrio percorre sua coluna.
— Já estava na hora, dorminhoco — a voz de Keyne soa e Aster deixa escapar um suspiro de alívio.
— Não o irrite alteza, ele ainda esta se recuperando — Clessia fala.
Barulho de tilintar de porcelana e prata fazem Aster franzir o nariz em desgosto. Os sons ficando mais fortes. Entre o bater de cílios ligeiros, Aster reconhece o tecido cinza do dossel balançar forte tentando se libertar do aperto da estrutura.
— Então eu não morri? — Aster pergunta rouco. Ele lambe os lábios sentindo a garganta arenosa.
— Por quê? Esse parece com um cenário de pós-morte para você? — Keyne pergunta. E Aster não precisa lhe olhar para saber que o príncipe tem um sorriso.
— Alteza — Clessia o repreende. — Aqui, senhor Aster, beba um pouco de água.
O príncipe intercepta o copo antes que a serva tenha chance.
— Tudo bem. Deixa que cuido disso. Obrigada Clessia, mas penso que você deveria avisar que ele acordou.
Levemente atordoada, Clessia se curva a Keyne.
— Claro alteza. — ela sorrir para Aster — Fico feliz por acordado senhor, é muito auspicioso ter nosso receptáculo de volta — Clessia reverencia novamente saindo em seguida.
Aster de repente sente-se mais desperto do que antes, ele olha para o príncipe em confusão. Keyne coça a ponta do nariz com um sorriso travesso nos lábios. A luz que entra pela janela ilumina seu perfil lateral.
— Deixe-me adivinhar... você não sabe o que é auspicioso? — ele zomba. Aster revira os olhos, lhe fazendo rir.
— O que foi isso? — Aster pergunta ainda rouco.
Keyne aproxima novamente o copo, forçando-o a beber. A água nunca lhe pareceu tão saborosa quanto agora. Aster bebe a goles longos e suspira assim que acaba.
— Você dormiu um pouco mais que três dias, porém demorou menos de uma hora para que todos soubessem o que Aster Furis fez.
Aster analisa o rosto dele esperando encontrar a zombaria e estala a língua em descrença. Keyne ajeita a postura, pomposo, do jeito que o ministro faz quando vai comunicar algo.
— Devo listar? — coça a garganta — tornou-se o receptáculo mais novo de toda história e o primeiro há séculos a tocar em Ako com dignidade, e para melhorar; o primeiro em séculos a restaurar a verdadeira tradição. Com sua grande coragem viajou até a ilha cheia de monstros...
— Cala a boca — Aster o interrompe, e o príncipe rir soprado — o que eu fiz? Eles sabem que não fiz nem três terços disso, não é? E o que fiz nem foi sozinho! Que besteira — ele esfrega os olhos e em seguida massageia o pescoço.
Keyne se remexe levantando a mão e começa a abaixar os dedos em uma listagem, como se o assunto fosse serio, mas a curva de seu sorriso escondido não deixa Aster se levar.
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Aster Furis: O receptáculo do dragão
FantasíaO espírito do dragão nunca erra, é o que dizem, de geração a geração. Mas o que acontece quando um reino desestabilizado pelos maus tempos vê pela primeira vez a tradição quebrar? Quando ao invés do espírito escolher como receptáculo aquela que todo...