Presságios
O vento soprou suave os arejando. Eles haviam caminhado por algumas horas, iniciando conversas curtas, desviando de elevações e troncos, e tentando não cair nas áreas lisas. Prosseguiram em subida. As árvores foram ficando mais afastadas e elevações maiores começaram a aparecer, uma vez ou outra, uma criatura aparecia como se tivessem recebido a notícia que visitantes haviam chegado e precisavam comprovar com seus próprios olhos.
As criaturas chegavam, observavam curiosas às cinco figuras, se curvavam e saiam, algumas delas menores como as Fionas ousavam até se aproximar. Se Aster já não soubesse que as árvores não são seres vivos, acreditaria que até elas estavam se movimentando para os cumprimentar.
O som de água correndo os fazem procurar pela fonte para poderem encher novamente as garrafas, a área vai ficando com terra mais firme, deixando-os caminhar mais rápido. O clima deixou sua garganta seca, o som da água é alivio.
Kinoá estende seu braço impedindo-os de prosseguir e Aster curvar seu corpo para olhar além dele, sua respiração engata, seus olhos brilham e sua boca se abre em um sopro impressionado. Eles avistaram uma Celopasia.
O grupo para hipnotizado pela beleza da criatura, ela está em pé na rocha no meio da cascata rasa que flui, a água azulada brilha com a luz do sol e se destaca entre os musgos nas rochas e arvores ao redor. A água corre sem pressa refletindo os galhos e a imagem da Celopasia, sua longa cauda mergulha as pontas na água, ela se assemelha com as penas de um pavão enquanto sua estrutura é como de um cavalo, porém maior e sua face como a de um falcão, seu corpo inteiro varia em tons de azul e prata que brilha toda vez que um raio de sol a toca. Ela anda majestosa sobre as rochas, mesmo que algumas estejam pendidas.
A Celopasia vira-se para os encarar assim que alcança a pedra maior, parando bem onde o raio atinge. Os raios passam no meio da coroa formada pelos seus chifres que se dobram em finas curvas, ela os observa como se eles estivessem em julgamento e a sentença fosse ser lançada a qualquer segundo, seus pequenos olhos esmeralda piscam e Aster abaixa o olhar. A Celopasia levanta o queixo abrindo as grandes asas e as bate alçando voo, o vento beija o rosto deles, enquanto a admiram voar graciosa.
— Não acredito no que vi — Aster sussurra.
Ele avança lento almejando conseguir ver a Celopasia voar.
— Pensei que fosse uma lenda — Alika fala.
— Tudo que é fantástico e não é visto por muito tempo torna-se lenda. Para uns, os deuses também são. — Kinoá comenta, ainda olhando para o céu.
O azul esgueira-se entre a neblina, que para um mau conhecedor poderia até a confundir com nuvens, e o vento assobia trazendo as folhas em rodopiares para contemplar juntos o estupor deles.
— Lembro-me dos meus pais contarem as histórias da Celopasia, criada pelos deuses para guiar os corações valentes na guerra, seu canto renovava as energias avocando de volta a memória aquilo que trazia força. Eles diziam que todas às vezes que ela foi vista era um presságio da sua intervenção na trajetória, e que a única vez que carregou alguém foi na grande guerra, levando o primeiro coração de fogo para matar o grande dragão. — Yejin conta — aposto que se eu contasse que vi uma até eles diriam ser impossível.
— Vê uma Celopasia é magnifico, mas o que estamos fazendo aqui nem se compara a uma guerra, que tipo de intervenção precisamos se já estamos chegando onde devemos? — Keyne pergunta.
Como moscas atraídas pelas sobras, a primeira gota cai assim que o príncipe termina sua indagação, ele desliza a mão pela face e atrás para a direção dos olhos, suas sobrancelhas se juntam e Keyne levantando a cabeça a tempo de outra gota cair em seu olho esquerdo. Aster ao seu lado esticar a mão a frente do corpo observando uma gota cair em sua palma. E tão rápido quanto o bater de asas de uma borboleta, os galhos das árvores começam a balançar e as folhas se curvarem com a forte pressão do torrencial de gotas e ventania.
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Aster Furis: O receptáculo do dragão
FantasíaO espírito do dragão nunca erra, é o que dizem, de geração a geração. Mas o que acontece quando um reino desestabilizado pelos maus tempos vê pela primeira vez a tradição quebrar? Quando ao invés do espírito escolher como receptáculo aquela que todo...