aDEUS

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O relógio de ponteiro marca a hora da partida.

Digo adeus para os que ficam.

Em mim já não restam mais lembranças.

Cenas vazias me assombram a noite.

Eu ouço os passos da morte ecoarem no meu interior.

Sinto o frio daquela noite gelada sobre minha pele.

Eu vejo sangue espalhado pelo chão.

Sinto medo e dor.

Inconsciente, deito-me no colo de Maria.

Lágrimas encharcam minha face.   
Soluços melancólicos rasgam-me a garganta.

Seus dedos magros e quentes me confortam.

Eu ouço os passos da morte ecoarem no meu interior.

Sinto a água entrar nos meus pulmões.

Eu vejo os peixes se afastem de mim.

Sinto medo e dor.

Inconsciente, deito-me no colo da Mãe de Cristo.

Minha cabeça dói.

Cenas bagunças repetem-se na minha tela mental.

Ela limpa minhas feridas com seu manto limpío.

Eu ouço os passos da morte ecoarem no meu interior.

Sinto a corda sustentar meu peso.

Eu queria aquilo.

E sinto que consegui.

Inconsciente, deito-me no colo de Maria Santíssima.

Lhe peço socorro.

Ajoelhada, escondo meu rosto entre suas vestes.

Seu amor é tanto…

Mas a lama cobre-me os olhos.

Eu não consigo ver.

Ainda ouço-os me chamarem.

Vozes terríveis.

De rostos horrendos.

A corda ainda sufoca.

Pulsos ainda sangram.

Pulmões ainda encharcam.

Eles ainda choram.

Pedras acertam-me.

Eu ainda sinto medo e frio.

A morte ainda assombra-me.

Não consigo lhe explicar.

O cheiro de terra que sinto.

A sensação sufocante que me arrebata.

Não consigo me mexer.

Não consigo respirar.

Há madeira sobre mim.

Existe escuridão aqui também.

Não consigo sair.

Mais lama cobre-me os olhos.

Ainda ouço-os me chamarem.

Vozes terríveis.

De rostos horrendos.

Dizendo: "Suicida".

Eu vejo os vermes comerem a minha carne.

Eu sufoco no caixão.

Eu enlouqueço na escuridão.

Eu morro tutte le jour.

- Lívia Danielly Brandão

Poesia BarataOnde histórias criam vida. Descubra agora