Três pares de pernas caminham pela terra e grama. Eles percorrem um caminho aleatório, estão, em sua maioria, buscando um assunto para tagarelar.
Julian ainda estar orgulhoso pela atitude que tomou antes, nunca fizera algo assim tão... "arriscado" pensa ele, mas a palavra que definiria o impulso do menino de olhos esmeralda seria, certamente: libertador.
Maria ocupa a mente com as várias teorias do que poderia ter acontecido naquele banheiro.
— Alguém vai querer ir em algum brinquedo? — Julian pergunta.
Ninguém quer ir, não de verdade. Talvez quando tinham cinco anos gostassem de ficar girando em cima de um cavalo de plástico e sorrir para seus pais, do lado de fora, todas as vezes que seus olhos se encontrassem. Essa sensação boba não existe mais. Porém, Maria diz:
— Acho que entre todas as opções, esta é a menos pior. Não quero ficar andando, meus pés já doem.
Ela xinga mentalmente seus tênis que lhe causa calos no calcanhar.
— Mas a gente com certeza não cabe nesses carrinhos; ou cabines, ou escorregas...
Yan está certo, suas opções estão limitadas por seus corpos crescidos. Exceto Maria, pois com um pouco de esforço ela caberia em um ou outro.
Os três sentam num banco e observam por uns minutos. E apesar de Yan está mais contido, a situação é muito desconfortável.
"É uma droga de dia tedioso!" pensa Julian.
— Temos a roda gigante — Yan diz depois de um tempo.
Julian faz careta. Maria levanta a sobrancelha e fala:
— Melhor que nada.
— Então eu vou pegar uns tíquetes.
Julian pega a carteira do bolso e Yan interrompe:
— Não precisa. -— Levanta a mão direita, onde carrega o copo de refrigerante e finaliza: -— Dessa vez eu pago.
Com umas das mãos no bolso do moletom, o garoto se afasta até uma cabine pequena e colorida. Suas calças folgadas balançam ao ritmo do gingado do mesmo. Julian nem nota como aquilo lhe hipnotizou, tampouco nota o sorriso da amiga ao vê‐lo se perdendo naquele jeans.
Maria pigarreia.
— Então, eu vou estar aqui por apenas algumas semanas, quando vai me mostrar seus desenhos?
Julian volta a realidade.
— O quê?
— Seus novos desenhos. Você disse que tinha alguns novos.
— Ah, claro. — Julian toma um gole da sua bebida. — Eu falo com você qualquer dia. Seu número ainda é o mesmo?
— É.
Julian toma outro gole. Só agora se deu conta de para onde estava olhando, ou melhor, para quem. Sua face volta a enrubescer. Ele retrai seu corpo e brinca com a terra debaixo dos sapatos.
— Ele é uma graça, né? — Maria diz.
— Quem? Yan? — Julian vacila na voz.
Maria concorda com a cabeça.
— Não sei. — Mais um gole.
"Recomponha‐se, Julian!" ordena para ele mesmo.
— Vocês são fofos juntos.
O garganta do menino de casaco verde se fecha, os seus olhos quase arregalaram‐se, mas ele consegue impedir seu corpo de anunciar qualquer reação a fala da menina de jaqueta. Engole em seco e, sem saber como escapar, pergunta:
— O que você quer dizer?
— Maria não é tola.
— Você sabe. — Ela toma a bebida da mão do amigo e toma alguns goles.
— A menina de cabelos avermelhados notara muito antes de todos sobre a condição do velho amigo. Para outras pessoas, talvez, a semelhança dos desenhos dele com Hutcherson passavam batidos, mas não para ela.
Julian cala a boca por um momento, porque não sabe o que dizer. Seus olhos baixam até o solo novamente. Felizmente ele não se sente envergonhado, ou temeroso, no entanto, mesmo assim, seus dedos estão trêmulos.
Notando isso, delicadamente a Maria se aconchega no ombro de Julian e entrelaça seus dedos nos dele, ela aperta e solta:
— Sabe que está tudo bem sobre isso, né?
Julian permanece calado. Foram anos de negação e enganação, anos de temor. O garoto não sabe como deve reagir àquilo.
O vento ainda sopra, as luzes ainda piscam, as crianças ainda correm, o céu ainda é laranja; Julian ainda respira. Ali, naquele banco, parado, absorvendo algo que ele mesmo não entende muito. Seus olhos estariam marejados se ele chorasse na frente dos outros. Nem mesmo Erick viu uma lágrima ser formada nos olhos do amigo, nunca.
— Está tudo bem? — Maria pergunta após sentir o suor nos dedos de Julian.
Ele engole em seco. Seus olhos finalmente encontram o da antiga amiga; são suaves e precisos, os fios de cabelo batendo no seu rosto devido ao vento, um sorriso mostrando os dentes. Isso, de certa forma, acalma o agito mental do garoto.
Ele lambe o lábio inferior e diz:
— Está.
Yan se aproxima e a atenção deles é voltada para ele.
— Vamos? — diz o menino com moletom.
— Maria levanta do banco para ir.
Logo em seguida — no modo automático — Julian faz o mesmo, suas pernas, porém, ainda permanecem tensas. O menor tropeça nele mesmo e seu destino seria o chão. Mas com excelência destreza Yan o pega. E antes de sequer raciocinar o que tinha acontecido, Julian agarra forte os braços do garoto que o fita. Quanto tempo durou isso? Bem, certamente para o verde e castanho não pareceram meros segundos.
— Cuidado — sussurra.
— Desculpa — fala Julian. — E obrigado.
Tornando a ficar de pé, o garoto de casaco verde desvia seu olhar até Maria. Ele vê o sorriso bobo nos lábios dela.
Em resposta ao sorriso da amiga, ele solta um sorriso amarelo. Julian sempre foi muito reservado, mas não era tímido. Entretanto, dessa vez, ele se sente assim, mesmo sabendo que não precisa.
Caminham juntos até a roda gigante. Tudo brilha um pouco mais quando estão próximos, principalmente os cabelos do menino que anda pensativo e da cabeça abaixada, cuja Yan tem toda atenção.
As cabines são redondas e cabem os três numa só. Todavia, por ser o último a embarcar, Julian terá de escolher ao lado de quem irá sentar.
Maria faz o que pode para tomar todo o espaço ao seu lado, mas seu corpo pequeno falha miseravelmente. Ela faz cara de birrenta quando Julian a empurra mais para o lado.
Julian pensara que tomou uma boa decisão, até que notou para onde seu olhar será direcionado nos próximos minutos.
— Tsc.
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Verde e Castanho
RomanceO céu estava alaranjado, em sua maioria. Havia muitos tons de castanho e amarelo nas árvores, mas também havia verde: ao qual o castanho apreciava; no qual castanho se perdeu. E em uma comum, mas linda, tarde de outono, um desejo foi florescendo enq...