Parte IX

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 Os dois amigos permanecem sentados no meio-fio.

O moreno acompanha o sorriso do amigo de cabelos castanhos-claro. Ele enxuga as lágrimas do olho com as mãos.

— Por que você está chorando, idiota? — pergunta Julian.

— Cala a boca, eu tô com raiva de você! — diz Erick, parando de sorrir.

Por um momento Julian fica aflito.

— Você devia ter me contado antes.

Julian sorri sem jeito.

O menino de olhos verdes não quer agora, nem nunca, que sua sexualidade seja pauta de uma conversa. Isso é apenas sobre ele. Entrar em um debate sobre isso é irrelevante em qualquer situação.

Erick puxa o amigo para um abraço de novo, mas dessa vez é empurrado.

— Para com esse mela-mela e trata de consertar esses olhos marejados.

— Se fosse o Yan te abraçando não teria problemas, não é?

Um cotovelo de Julian bate na costela de Erick, provocando dor na região. Impulsivamente o moreno soltou seu pulso.

— Não fala daquele cara — diz Julian massageando o braço atingido. — Ele é idiota igual você.

— Sério? Ou você está fazendo drama sobre algo estúpido como sempre?

Julian afunila o olhar, dramático.

Realmente Julian não quer falar sobre Yan, mas talvez seja só um modo de deixar aqueles cabelos bagunçados e cintura com gingado sexy longe de sua mente.

— Levanta, a gente tem que ir.

Erick agarra a mão de Julian e ambos partem de volta.

— Se alguém perguntar sobre a demora, diz que a fila tava grande e seus olhos estão vermelhos por causa das cebolas que estavam sendo torradas. Você é sensível.

— Sim, senhor. — Erick finge uma reverência.

Muito perto dos amigos, Julian já nota os olhos de Raquel lhe alcançando. Nem um mísero segundo se passa e ele já encara Erick. Um sorriso pende nos lábios de ambos. Julian se esforça para não revirar os olhos.

Yan está logo após a silhueta da menina de cabelos avermelhados. Maria capta a aproximação dos dois, mas em seguida se volta para o Yan.

Próximo o suficiente, Julian vê que uma mera fumaça paira no ar entre eles. Sua visão viaja até a mão do menino de moletom despojado e observa um objeto branco.

Cigarro.

Julian não é fã número um, porém, mantém sua boca calada e aumenta a distância entre ele e Yan.

O menino de olhos castanhos abre mais espaço para que Erick se sente e entregue a pipoca — fria — para Raquel. Julian senta de novo ao lado de Maria.

— Devo perguntar o óbvio? — ela diz.

— Sim, eu ainda odeio cigarro.

Maria sorri.

— Contou para o Erick, não foi? Aqueles olhos não são de alguém que estava cortando cebola. Ou seja lá o que você tenha inventado.

— Maria, eu te odeio e espero que nada do que você veio fazer aqui dê certo. — Julian joga-se na terra.

— Você ainda é muito travado, Julian, pensei que esses anos você teria melhorado — cochicha Maria, acompanhando o amigo.

— Eu não sou travado.

Verde e CastanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora