Com a chegada brusca de Julian, Erick finalmente deixa de doar cem por cento da sua atenção a Raquel. Ele não diz nada, mas nota, de forma natural, que seu amigo de anos se sente desconfortável com alguma coisa ao qual não quer entrar em detalhes. Erick respeita esses momentos, sabe que uma só palavra errada pode acarretar em uma resposta certeira e dolorida, além do tratamento de semanas de indiferença. O moreno apenas dá o recado que ele está ali, pondo uma mão de leve na perna de Julian.
"Idiota!" pensa Julian irritado. O garoto de olhos verdes não estava nem um pouco satisfeito da forma ao qual foi tratado. E, por sua vez, o mais irritante era estar irritado por algo feito por alguém que ele mal conhecia. "Idiota" pensa e bufa.
Maria senta-se e sorri para o amigo que veste verde, porém, a recepção do sorriso foram olhos fuzilantes. Ela esperava. Maria, propositalmente, deixou os dois garotos lá. Não foi tão difícil, apenas uma mensagem para Raquel e tudo feito.
— Você me paga — sussurra Julian.
Maria sorri. Não sabe o que o amigo irá fazer — caso o faça. Não teme, pois nunca fora tratada como Erick. Julian nunca teve coragem de ser hostil, suas implicâncias com a amiga de cabelo avermelhado variam apenas do deboche e sarcasmo.
— Como foi lá? Vocês demoraram mais do que eu pensei. — Maria se diverte.
— Estava tudo legal até um velho idiota aparecer.
O peito de Julian esquenta.
— Velho idiota? — pergunta Erick.
— Não é nada que vale a pena falar — corta Julian.
Pelo visto, por mais que isso o envergonhe, o menino de olhos esmeraldas ainda teme a sua realidade. Ele arrisca uma olhada para Yan e, como premeditado, o mesmo o encara.
É possível ver um pouco de pedido de desculpas naqueles olhos castanhos como as folhas das árvores, mas Julian quer manter a raiva como escudo para a vergonha.
Erick ainda nota a confusão do amigo.
— Estávamos falando sobre Maria e Raquel — pronuncia Erick. — Sabia que a visita delas é para ver as vagas das faculdades por aqui? E que é bem possível que se mudem para cá?
— Pensei que fossem ficar apenas algumas semanas — diz Julian.
— Ainda não é nada concreto, — o olhar de Maria sai de Julian e viaja até Erick — por isso não queria confirmar nada.
— Eita, foi mal. — Erick sorri amarelo.
Raquel também sorri, mas de forma fofa e singela.
Yan suja os tênis na terra. Ele queria falar sobre o que tinha acontecido, mas sabe que não pode. Ele tinha esquecido a sensação de estar preso dentro de um segredo, — mesmo não sendo seu segredo — era terrível para o garoto. Ele simplesmente odeia a sensação.
Julian se joga para trás, esticando suas mãos até onde o pano quadriculado se estendia. Com as pontas do dedo ele tocava a grama e apreciava o céu. Também tentava ignorar o fato das folhas lembrarem dos olhos do menino de pele bronzeada.
Posto que o clima não era o mais confortável, boa parte dos poucos minutos que passaram, ao qual equivalem uma música média, foram tranquilos. Poucas palavras foram deferidas. Os sons eram apenas os básicos de um parque não muito movimentado.
As cores roxas do crepúsculo já estão se fazendo presentes.
Maria deita ao lado do amigo e diz:
— Você gosta dessas cores, né?
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Verde e Castanho
RomanceO céu estava alaranjado, em sua maioria. Havia muitos tons de castanho e amarelo nas árvores, mas também havia verde: ao qual o castanho apreciava; no qual castanho se perdeu. E em uma comum, mas linda, tarde de outono, um desejo foi florescendo enq...