Parte III

30 7 87
                                    

Visto que era um dia da semana, o parque estava quase vazio. Alguns dos brinquedos parados, poucas pessoas ao redor dos espaços gramados. Há terra também, está úmida e suja mais um pouco a sola dos sapatos que andam em harmonia.

Na mente de Erick atravessa várias indagações. Ele não sabe o que pensar sobre a informação que lhe foi concedida alguns minutos atrás. Nem sabe se é verdade. "Yan não sabe do que está falando, ele pode ter se confundido. Mas se não? Se não... Por que Julian não me contou? Ele não confia em mim?" pensa.

Julian está tão perdido em seus terrores, que nem chega a notar o silêncio do amigo e os olhares de canto do estranho.

Exceto por Yan, ambos andam absortos. O mesmo, por sua vez, sabe que causou uma questão delicada entre os amigos de longa data. Um peso na consciência até lhe ocorre ao cogitar estar errado sobre Julian, mas ele tem mais que convicção a respeito disso. Entretanto, bem lá no fundo, uma fagulha de pensamento, ao qual ele finge não existir, deixa o garoto de rosto bronzeado decepcionado consigo mesmo.

Um vento sopra no rosto corado pelo frio, lança seus cabelos para cima e para baixo, uma dança singela que toma por completo a atenção do Yan.

De relance, o verde capta o castanho novamente. É besta e quase cômica a constante de vezes que isto acontece.

As engrenagens estão rodando, os passos de crianças correndo, uma buzina ecoada de uma avenida próxima talvez, a música do carrossel zumbindo levemente no ouvido dos jovens pensativos tiram eles dos devaneios.

De um distante visível aos olhos soa também um grito animado:

— Surpresa!

Uma voz fina, cabelos ruivos avermelhados, pele pálida e braços cuja rigidez possa ser partida por algo maior que um gato materializa‐se diante dos olhos confusos e desconcertados. De imediato Julian reconhece aqueles fios de cabelo e estatura fraca de uma saúde questionável. Apesar de as lentes de vidro terem sidos substituídas por silicone, logo viu que aquela garota era a pessoa que lhe torrava a paciência nas antigas aulas de química.

— Maria — Julian diz. Por um momento aqueles momentos embaraçosos são esquecidos, prova‐se isto no sorriso mais sincero estampado no rosto do menino de casaco verde.

Ligeiramente — e desengonçada — Maria corre até o abraço dos amigos. Ela abraça primeiro Julian, seu vínculo é mais forte com ele, e depois de sair dos braços de Erick ela vai, com seu jeito simpático, cumprimentar Yan com um abraço também.

A presença da garota quebra quase todo o clima desconfortável. Trás de volta o menino descontraído que Erick sempre foi, jogando seus pensamentos para longe ele diz:

— Soube que ela tava de volta na cidade e marquei para a gente se ver.

— E quem é esse? — Maria perguntou apontando para Yan.

— Ah, esse é o Yan, um amigo que chamei de última hora.

Maria estende a mão.

— Prazer, Yan.

— Encantado, Maria. — Ao apertar a mão da garota de jaqueta jeans, seus olhos não percorrem aos da mesma, mas aos de Julian que, por sua vez, morde o lábio inferior.

Yan dá um riso sarcástico.

— Eu também estou acompanhada — Maria fala. — Vamos, vou apresentar vocês.

Os três seguem os passos da menina de cabelos avermelhados.

Uma árvore se destaca no meio do parque, com suas folhas uma vez ou outra caindo ao redor. Em seu tronco, escorada, repousa uma outra garota em cima de um pano quadriculado em tons de laranja e amarelo.

Verde e CastanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora