Esta foi a pior ideia do mundo. "Por que diabos pessoas entediadas pensam que a roda gigante irá melhorar alguma coisa?" Esse é o pensamento dos três jovens sob o céu repleto de nuvens.
A tarde pouco a pouco vai se esvaindo. Entretanto nunca sumirá da mente de Julian. Pode parecer uma coisa boba para quem nunca teve a sensação de estar preso dentro de si mesmo durante toda uma vida. Estar escondendo uma parte sua que devia ser vista como a mais linda: a de amar.
Há, realmente, muitas nuvens no céu, porém, não preenche aquela imensidão por completa. Muitas frechas de laranja são observáveis.
Verticalmente o grande círculo romântico e tedioso gira.
Maria não sente tantas emoções quanto o amigo, mas fica orgulhosa pelo mesmo não ter agido como um imbecil e ter soltado palavrões em negação.
Yan observa como a vista é linda, mas a maior parte do foco do rapaz são aqueles olhos estreitos esverdeados. Ele vaga seu olhar da esquerda para direita. Infelizmente Julian apenas olha como a tarde parece perfeita, visualmente falando.
O Julian pensava que essa tarde seria igual a todas as outras; muitas coisas bobas seriam faladas pelo amigo de longa data que ele tem. Até por que todas as vezes é assim: eles saem, Julian fala sobre seu dia, Erick conta um história esticada sobre uma garota que ele viu na rua, eles comem algo, Julian fica cansado, Erick encontra outro amigo, Julian vai para casa, Erick aparece no outro dia falando mais alguma coisa que Julian nunca sabe se levará a sério ou não, etc. Entretanto foi diferente, graças ao garoto que ele não arrisca lançar um olhar, graças a amiga que não via a tempos, graças... ao segredo revelado que lhe tirava o fôlego.
O garoto sorrir por ser Maria a primeira pessoa que lhe dissera aquilo frente a frente. Sempre imaginara que fosse Erick o primeiro. Que ele fosse ver alguma hora as pinturas secretas; de garotos secretos, em lugares secretos, de sentimentos secretos... Seu sorriso dura pouco. Além de saber que deve falar com o amigo, sente o olhar do "menino de gingado hipnotizante."
O copo de refrigerante ainda está nas mãos de Maria, ele pensa em pegar, mas desiste, pois não quer ter ser interior congelado em cima de uma roda gigante.
— Vocês estudando juntos? — pergunta Maria de repente. — Digo, no mesmo canto, sabe?
Pigarrando, Julian diz:
— Não, eu faço Artes e faço pela noite. Ele faz Artes cênicas, pela tarde — responde Julian.
Maria faz uma interrogação facial.
— Artes cênicas são voltadas mais para espetáculos performáticos, por assim dizer. Julian faz outros tipos de manifestações. Tipo, esculturas, música, danças... — explica Yan e dar uma ênfase ao finalizar. — E pinturas de coisas bonitas.
Julian fica sem graça.
— Ah. — É o que Maria diz.
— Espera um pouco! — Maria se exalta. — Dança? O Julian dança?
Yan balança a cabeça em concordância, mesmo sem ter certeza. Tudo o que ele sabe é o que ouve ou ler por aí.
— Por favor, me diz que há uma chance de eu ir assistir uma aula de você dançando!
— Eu não vou te convidar nunca — Julian interrompe o ânimo da amiga.
— Ah, vai — Maria quase implora. — Você nunca dançou antes...
— Não estou mais no ensino médio, não tenho muitas escolhas.
Maria nem arrisca fazer uma cara dengosa. Sabe que o amigo nunca a convidaria para vê‐lo dançar.
Já estão quase finalizando a quinta volta completa. O gelo foi quebrado um pouco com as informações de que Julian agora tem aulas obrigatórias de dança, mesmo não sendo nada de mais, já que o mesmo só consegue fazer o mínimo necessário para passar.
Boa parte também foi falando sobre Maria está cursando Farmácia. Julian nunca pensou isso, ele até zoou sobre a falha dela em arrumar um cara podre de rico e nunca precisar estudar ou trabalhar na vida.
No final da sexta volta da roda gigante, Raquel aparece ao pé do brinquedo. Ela acena com uma mão aos três, mas só Maria desce da cabine.
— Terminem aí a validação dos bilhetes — ela diz. Ao sair, ele fecha um mini portão que prende as pessoas dentro.
Maria arrisca uma olhada em Julian. O menor está decidindo se pede por ajuda ou transparece o ódio que sente pela amiga.
Com uma piscadela a menina de cabelos avermelhados se afasta do brinquedo gigante.
Enquanto as duas outras garotas afastam-se, os dois garotos trocam olhares. Julian não acha que nada que ele fale ajudará em alguma coisa. Ele pensa no momento do banheiro e lembra da sensação de ter, pela primeira vez, lábios tão próximos aos seus — e que fora atitude dele.
Yan, por sua vez, apenas continua fazendo o que fez todo esse tempo. "Como o rosto dele pode ser tão atraente? Será que ele é meu tipo? Nada a ver, cara, você não tem tipo" pensa.
Subindo lentamente, esperando que outras pessoas embarquem nesse brinquedo — mágico para os românticos — os dois pares de olhos são, de certo modo, abençoados. São tantas as grandezas ao qual podem avistar, independente de para onde escolherem olhar. Quão majestosa beleza que emana do horizonte, quão magnífica graciosidade dos garotos que mutualmente fazem a palpitação acelerar.
Quase lá no topo, Yan diz:
— Desculpe.
Julian não percebe o quanto Yan combinava com sua paleta de cores favorita — que é laranja e marrom — até agora. A formosura que a luz da tarde acende no rosto dele, no cabelo e principalmente no olhar dele e de encantar qualquer um.
Yan levanta uma sobrancelha e traz o menino de casaco de volta.
— Tá tudo bem.
— Como assim? Eu fui um completo idiota hoje com você.
Ele tem razão, ele foi. Julian, porém, já teve que aceitar e engolir tanta coisa na vida, que hoje em dia desaprendeu a impor seus sentimentos, vontades e limites.
Entretanto, ele pensa: "Ele não tinha nem um direito de agir como agiu, mas tudo bem, não é? Não foi a pior coisa do mundo." — Maria aparece na sua cabeça. — "Parece até um sentimento idiota agora."
— Falo sério, foi mal. --- Yan pede sincero.
— Eu realmente não me importo com isso agora, mas se você precisa de desculpas, tá desculpado. — Julian não falou propositalmente para ser rude.
Cada vez que o vento bate no rosto de Julian, ele pensa em pular lá de cima.
"Quantas voltas será que faltam?" pensa Julian. Ele poderia descer antes, não podem me obrigá-lo a ficar aqui em cima. No entanto, ele também não quer sair grotescamente.
O tempo passa devagar e o clima está calmo. Cada vez mais pessoas aparecem lá em baixo; cada vez mais o brilho do sol vai se esvaindo detrás das colinas distantes.
— Acho que já devemos ir.
O tempo antes passava devagar, agora é como se estivesse parado. O clima outrora era calmo, mas agora é acelerado, como as batidas do coração de Julian depois que, de repente, Yan diz:
— Eu te acho muito lindo.
Não que Julian esteja perdido de amores por Yan, mas não era o que ele estava esperando ouvir. Porém, se tem um lado bom, é que depois de todas as vezes que o menino de olhos castanhos lançara algo assim para o de olhos verdes, o de olhos verdes acostumou-se e dessa vez não está parecendo um tomate.
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Verde e Castanho
RomanceO céu estava alaranjado, em sua maioria. Havia muitos tons de castanho e amarelo nas árvores, mas também havia verde: ao qual o castanho apreciava; no qual castanho se perdeu. E em uma comum, mas linda, tarde de outono, um desejo foi florescendo enq...