Parte XII

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 Em uma quarta-feira de outono, o luar se faz presente num céu limpo e estrelado. Fazem quatro dias que o episódio da papelaria ocorreu; noventa e seis horas desde que a chuva parou de cair. E fazem cinco mil setecentos e sessenta minutos que os pensamentos do garoto de olhos-esmeraldas e cabelo castanho-claro não conseguem fugir da última quinta-feira chuvosa.

Dentro de um quarto caótico por inúmeras roupas bagunçadas pela indecisão. Olhos verdes, tensos, procuram uma melhor combinação da paleta de tecidos — que nunca pareceram tão insuficientes. Seu compromisso é às vinte horas, o jovem tem apenas trinta e dois minutos para decidir o que vestirá. A maior parte de suas camisas são neutras. O que não é um problema, porém, sente que uma noite especial se deve usar algo de acordo.

A porta do quarto se abre e o garoto dá um sobressalto.

— Cheguei — anuncia Erick.

O moreno fica receoso em entrar, contudo o faz. Ele veste roupas escuras e justas no pulso e tornozelo. Ele está minimamente elegante, mas ele é apenas um disfarce.

Julian nota o receio do amigo. Os olhos no chão dão a entender que independente de como o amigo seja mente aberta, algo possa ter mudado na relação deles, visto que, outrora, não seria problema estarem semi nus perto um do outro. Todavia, a maior preocupação agora é outra.

Dando de ombros, Julian resolve deixar a crise para depois e diz:

— Preciso que me ajude a escolher, não consigo.

— O que temos? — Erick ainda parece estranho, mas fala de forma leve.

Apontando para a pilha de peças jogadas na cama, Julian se estende na cadeira.

— Nossa — Erick parece surpreso — nunca te vi tão desorganizado. Ele mexe mesmo contigo.

— Só cala a boca e me ajuda.

Demoram sete minutos para que Erick consiga convencer que preto é básico, mas nunca falha. E como o tempo não está a seu favor, Julian só reza para que aquilo lhe sirva suficientemente bem.

Os dois amigos partem, enfim.

O pai de Julian está sentado no sofá, reprisando uma partida antiga do Tottenham. O cheiro do whisky é notável.

— Estamos indo, pai.

O homem se volta aos dois rapazes e os analisa. Depois levanta um copo, como se fosse brindar.

— Tenham juízo, garotos, e voltem cedo.

O senhor sentado naquele sofá pensa que seu filho está indo para uma festa com seu melhor amigo. Mais uma das milhares mentiras de Julian. O moreno é muito amigo do pai de Julian, ele odeia ter que estar mentindo. Já que Julian ainda não decidiu se vai ou não contar sobre o seu segredo — não tão secreto mais.

— Teremos. — Erick força um sorriso.

— Boa noite — despediu-se Julian. — E não me espera acordado.

Ambos saem, andam até o elevador e o pegam.

— Quantas mentiras você já contou para mim?

— Hmm — o maior tenta recordar. — Nunca uma que afetaria a gente.

— Por exemplo? — Erick aparenta estar um pouco ofendido.

— Lembra daquela garota que eu sai no terceiro ano, que não deu certo porque ela tinha bafo? — Erick faz que sim com a cabeça. — Pois é, eu não escondia quem ela era para proteger sua integridade, até porque ela não tinha bafo, já que ela nunca existiu.

Verde e CastanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora