A cidade vem ficando mais clara de acordo com a escuridão que recai sobre a mesma, tendo em vista que os postes iniciam seu trabalho diário. O poente leva todo o seu parco calor consigo, tornando o frio daquele outono mais potente.
Externamente falando, verde e castanho se encontram num ritmo calmo e constante.
Yan ainda está na metade de seu "ato de suicídio", como o mesmo gosta de expressar. O maior usa um pouco do ardor do cigarro para aquecer a mão. E em vestes despojadas ele acompanha os passos do jovem ao seu lado.
Julian aparenta sua feição mais comum, indiferença, pois cansou de ficar aborrecido por nada. Ele observa o movimento das ruas aumentarem, o horário de pico está bem próximo. O portador dos olhos esmeraldas batalha com seus próprios sentimentos. Ele não vê a hora de chegar o momento de se livrar do "estranho, estranhamente lindo". Porém, sabe bem que sua admiração não é estranha. E ao mesmo tempo que sente querer partir, não desvencilha-se da ideia de ter o portador de olhos quase bronze mais perto. Yan tem justamente as qualidades que lhe atraem. Não tem uma beleza estratosférica, ele é comum, não carrega os maiores atributos físicos e nem o melhor estilo, contudo não é nem de longe o pior.
Julian olha mais uma vez para o céu. Talvez não tenha a beleza de uma tarde repleta de nuvens banhadas com raios de sol, mas, como ditado antes, aos olhos verdes o comum é uma das mais belas belezas.
— Cuidado para não tropeçar de novo — fala o rapaz de mochila caída. — Não sei se conseguiria te segurar dessa vez.
Julian não sorri, sua lembrança da quase queda só faz seus rubores nascerem.
— Não seria necessário, obrigado — diz, na defensiva.
— Que pena.
Yan dá mais uma tragada no cigarro e finge voltar sua atenção para frente.
Julian demora a desprender seu olhar mais que o normal e de canto de olho Yan o vê. Bocejando, ele tenta disfarçar a vergonha, no entanto seu fracasso foi revelado com uma risadinha vindo da sua direita.
— Tsc.
Julian anda aéreo, tentando entender todas as coisas que aconteceram hoje. De alguma forma ele sente lá no fundo uma pitada de orgulho de si mesmo, e raiva também. "Não foi tão ruim quanto você pensava que seria" pensa consigo mesmo.
Yan ainda sente uma forte atração pelo garoto que combina a cor da jaqueta com as vestes, mas ele agora guarda um pouco de receio em agir. Julian não é uma das pessoas mais difíceis de lidar, contudo não vale o esforço. Pelo menos é o que o maior quer pensar. E também há o fator desfavorável. Por mais que tenha se arrependido, Yan sabe que parte do que disse anteriormente é verdade. Julian vai começar a caminhar agora, talvez, e ele não quer repetir toda essa fase de dúvidas, aceitações, descobrimentos, etc.
Todavia, a simplicidade de como todos as suas interações mentais terminam na visão de Julian no alto daquela roda gigante, sorrindo simples e sincero, refletindo o brilho do horizonte... Ele sabe que seria uma aposta ruim, porém, para ele, todos os pós vencem os contras.
Ele está apaixonado.
"Inferno" pensa.
Enquanto andam, algumas gotas de água pingam em seus rostos. As nuvens se camuflam mais no escuro da noite, mas isso já deixa os dois alerta para chuva repentina.
As luzes penduradas mudam de verde para vermelho, mas perdido em pensamentos, o garoto de moletom continua, absorto.
Julian agilmente agarra o braço largado de Yan, o puxa fortemente pelo susto. Ele sente um pouco dos músculos contraídos dentro do tecido. E por mais que estejam rígidos, uma colisão com o metal prata que avança buzinando seria lamentável.
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Verde e Castanho
RomanceO céu estava alaranjado, em sua maioria. Havia muitos tons de castanho e amarelo nas árvores, mas também havia verde: ao qual o castanho apreciava; no qual castanho se perdeu. E em uma comum, mas linda, tarde de outono, um desejo foi florescendo enq...