Julian pov:
Esta sensação está me deixando enjoado. Se todo o meu corpo não estivesse congelando, sem sombra de dúvidas eu provocaria.
Um cara me elogiou, — e não que eu perca meu tempo apreciando personagens fictícios — um cara de verdade!
Posso sentir meu rosto querendo ficar vermelho. Talvez seja o vento frio batendo sobre minha face, já que estou defronte para onde ele sopra.
Também estou encarando Yan, as suas auréolas brilham ao bater dos raios solares. Suas cores combinadas com as que o céu deleita sobre o rosto dele. Não posso negar que ele é bonito, mas sei que não consigo falar isso.
A fator do problema nem é a timidez, sei disso. Falei que alguns caras eram bonitos antes, porém, estavam atrás de uma tela digital ou uma brincadeira com Erick. Nunca pessoalmente, nunca tão verdadeiro.
Seus olhos quando se prendem nos meus me deixam desconcertados. De vez em quando ele dá um sorriso de canto, como se soubesse que eu gostaria de experimentar a sensação dos lábios dele nos meus.
Falar de seus lábios me faz lembrar do banheiro. Eu quase fui longe de mais lá. Por um momento achei que não ia conseguir parar próximo o suficiente para provocar o que eu queria, e não tão próximo o suficiente para permitir que aconteça o que ele queria — e o que eu também quero, mas por algum motivo idiota, fingo não querer.
Eu devia desprender nossos olhares, eu não vou falar nada. Contudo, fico preso naquelas duas íris castanhas encantadoras; nos fios de marrom pendidos na sua cabeça, pontudos e bagunçados.
Pigarreio, por costume. Julgando o tempo que estou calado, ele já devia ter notado que não haverá resposta.
"Não sei flertar, idiota, fale alguma coisa!" quase grito isso para ele.
Eu pigarrei de novo e abaixo o olhar enfim.
Entretanto, retorno aos dois círculos, agora quase invisíveis pelas pálpebras fechadas de uma expressão divertida de um sorriso.
— O quê? — digo sem pensar.
"É claro que ele está rindo de você" meu inconsciente comunica.
— Você é interessante e estranhamente engraçado.
Não consigo raciocinar rápido o que ele diz. Muita coisa aconteceu hoje e tem algumas que eu ainda estou digerindo. Ele disse que sou engraçado; em que sentido? Usou "estranhamente", mas sobre ser considerado estranho me agrada. Significa que tenho a individualidade que sempre almejei.
— Se você não quer nada é só falar.
Lentamente encho minhas bochechas de ar e solto‐o.
— Estou levando um fora? — ele sibila, focando nos próprios pés.
Essa pergunta contém ambas as respostas: sim e não; concordo e discordo sobre querê‐lo. Entretanto, para ter certeza terei que tentar algo e sei que a iniciativa eu nunca tomaria.
O máximo que consigo fazer é:
— Eu tenho uma pintura dessa paisagem.
Odeio usar o que as pessoas sempre apreciam em mim, parece que minha única qualidade é fazer desenhos. Apesar de eu não saber listar minhas qualidades no momento.
Yan olha ao nosso redor e aprecia a bela vista. Ao alto, no topo da roda gigante, uma paisagem incrível se lança do horizonte à gente.
Ele lança de novo seus olhos nos meus e diz:
— Legal.
Bem, suspeito que ele não tenha entendido então explico:
— Eu gosto de como as cores do crepúsculo combinam com o castanho das folhas nessa época do ano. Eu gosto de castanho.
Sua expressão por um instante quase não muda, mas felizmente ele parece captar a minha ridícula melhor forma de flerte da história.
De imediato seus olhos arregalados me fazem focar no horizonte. Pressupostamente eu consigo ouvir sua risada.
"Agora é com você, idiota bonito" permito‐me pensar.
Yan pov:
Eu mantenho um sorriso enquanto vejo Julian desviar o olhar pro sol. Nossa, como ele consegue ficar mais lindo de lado? E o que foi aquilo de "eu gosto de castanho"? — Amplio o sorriso. — Foi a coisa mais... nem sei uma palavra para dizer o que foi.
Ainda é muito cedo para dizer se ele tá afim mesmo. Para ser sincero, nem sei se aquilo foi um flerte. Tipo, quem fala de olhos castanhos? Se é que era sobre isso que ele estava falando.
Além do mais, não sei se quero entrar nessa.
Meus pais acabaram descobrindo muito cedo sobre mim. Eu nem sabia que era vigiado até eles me chamarem na sala para conversar. Aquele foi o dia mais terrível que vivi. Hoje em dia eles conseguem disfarçar melhor o desgosto do filho do meio.
Julian é lindo, um dos mais bonitos garotos que conheci, mas sua vida ainda é uma descoberta. Ele ainda vai aprender a caminhar. Isso se... se ele quiser aprender né.
Inegável, porém, é que ele me atrai.
Alguns minutos atrás ele veio de encontro aos meus braços. Acho que ele tropeçou. Ele estava absorto, como fica algumas horas, sua cara estava quase pálida, exceto pelas marcas rosas no nariz e bochechas; coisa que eu particularmente acho extremamente sexy.
Não posso esquecer da cena do banheiro, quando ele me pegou desprevenido. Nossa, ainda posso lembrar do cheiro dele. Papel e madeira. Acho que seu cabelo também tinha cheiro bom, mas não consegui distinguir muito bem, pode ser que eu tenha confundido com algo do banheiro.
Julian não desgruda o olhar do céu nem por um instante. Sei que ele só tá fugindo de mim. Quer dizer, não sei realmente o que ele quer. Ele podia simplesmente falar, né? Não preciso de enrolação. Contudo, esse ar de mistério só me deixa mais interessado.
— Eu gostaria de ver algo seu — digo, sabendo que ele não desviará o olhar. — Refiro‐me às suas artes, é claro.
— É claro. — Julian se ajeita no banco e volta a ficar confortável.
Ele é um cara de poucas palavras, isso é fácil de notar. Mas não aparenta estar envergonhado com nada, na verdade, é difícil saber como ele de se sente na maioria das vezes.
Quero falar sobre as — em suas palavras: — "coisas eu acho bonitas." Insinuar mais uma vez que ele se auto‐retrata. É sempre engraçado como ele fica corando do nada. Porém, já acho que esse modo em específico ficou chato.
— Última volta — o Senhorzinho diz para a gente.
Com nenhuma ideia na cabeça, solto a primeira bobeira que penso.
— Você nunca namorou mesmo?
Ele não demora muito para balançar a cabeça em confirmação.
— Legal. — Nem penso muito como estou agindo. Sinto que acabei de falar algo esquisito, mas não há mais nada que eu possa fazer.
Julian dança os olhos para um lado, depois para o outro. Eu pouso os meus a seu rosto, porque é a única coisa interessante no momento. Tem o céu e toda essa beleza natural, mas eu não sei apreciar essas coisas.
Tudo parece ficar sem graça perto desse menino de fios iluminados e olhos esmeraldas.
"Você não está apaixonado, né, imbecil?" penso quase em sobressalto. Não, não estou. Isto seria tolice da minha parte.
Acho que finalmente vamos descer e voltar aonde Erick está. Apesar de aqui não ser meu lugar favorito, gostaria de ficar, pois a diferença de lá e aqui, é que aqui podemos ser só nós. Mesmo que o "nós" seja baseado apenas em meu interesse pelo menino de bochechas rosadas.
— E você já namorou algum cara? — Julian pergunta.
Estamos quase para descer, alguns míseros metros do Senhorzinho novamente.
Me surpreendo com ele falando algo. Sei que não é nada de mais, mas pelo simples fato de ele falar pouco, é inesperado que puxe algum assunto.
Tiro mais alguns tíquetes que sobraram nos meu bolsos e os dou ao Senhor.
— Acho que vamos continuar por mais um tempinho
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Verde e Castanho
RomanceO céu estava alaranjado, em sua maioria. Havia muitos tons de castanho e amarelo nas árvores, mas também havia verde: ao qual o castanho apreciava; no qual castanho se perdeu. E em uma comum, mas linda, tarde de outono, um desejo foi florescendo enq...