Parte VII

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Entregando bilhetes ao Senhor que cuida do brinquedo gigante, Julian e Yan continuam girando. Enquanto eles sobem mais alto, Yan devolve a cara de desdém que o Senhor lhe lançara, pois sabe bem sobre o motivo da expressão de desgosto do velhinho. Porque apesar de manter o respeito, — nem um pouco merecido neste caso — o jovem não é de deixar barato a tolice dos outros acerca de sua sexualidade.

Os dois jovens sobem novamente.

— Nunca chegou a ser algo sério, sabe? — Yan diz.

A pergunta de Julian foi surpresa até para ele. Não tinha a intenção de os manter na roda gigante. De alguma forma, porém, não se arrepende por tê-la feito. 

— Sei... — Julian fala apenas por falar, pois não sabe realmente. Não por experiência própria.

Julian bate o pé leve e repetidamente. Luta contra a vontade clássica de arrancar o celular do bolso e ler mensagens que não existem. Se o clima lhe permitisse, ele suaria de nervoso.

— É uma paisagem bonita.

— A cidade? — Julian pergunta.

— Claro, — Yan sorri — do que eu poderia estar falando?

Julian se força, e fracassa como sempre, em esconder seu rubor. Contudo, não aparenta mais estar desconfortável. E seu rubor só aumenta quando ele nota isso.

Ele está gostando.

— Você consegue manter uma conversa como gente normal? — Julian fala.

— Não é normal receber elogios?

Julian sorri. Não é comum ele ser elogiado por garotos

— Não acontece com muita frequência com... você sabe.

— Caras?

— Sim — diz Julian, um pouco cabisbaixo.

O menino de olhos castanhos nota que ainda é complicado falar abertamente sobre a sexualidade do rapaz à sua frente. Então, de modo atencioso, muda de assunto.

— Quando você começou a desenhar?

Julian olha de relance a cidade.

— Quando eu tinha por volta de sete anos, eu acho. Mas minha mãe diz que eu sempre gostei de pintar.

— Saquei, — Yan fala — então você é um daqueles tipos prodígios?

Julian dá um de seus sorrisos sinceros mostrando os dentes e diz:

— De modo algum. Eram coisas horríveis, eu só tive o apoio necessário e melhorei com o passar do tempo.

— Você poderia se considerar um prodígio. Eles falam como se você fosse. — Yan indica com a cabeça na direção dos outros amigos de Julian.

— Sim, são bons amigos, mas eu prefiro usar o termo dedicado quando falo sobre meu "talento".

— Entendo.

Uma serenidade enfim banha a tensão que havia entre eles. Julian, porém, ainda tem seus motivos para sentir frio na barriga e suar os dedos, coisa não premeditadas aconteceram hoje, pegando-o de surpresa.

Todavia, Yan não sabia como era o verdadeiro e sincero sorriso de Julian até agora; é doce, aberto, calmo. Ele sustenta com o próprio sorriso os dentes separados — mas lindo aos seus olhos — que o menino de casaco verde-musgo tem.

Encantado novamente com Julian, Yan não desgruda da face dele. E Julian, por sua vez, desvia como sempre, contudo o menor sabe que queria não fazê-lo.

Verde e CastanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora