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P.O.V. Heyoon Jeong:

— Entre, Heyoon — Sina falou, após se despedir de minha mãe, que fazia questão de me trazer em todas as consultas – e estávamos na terceira. — Como está?

— Sei lá — murmurei sentando na poltrona e ela sentou-se em minha frente. — Tá tudo muito confuso. Meus pais seguem estranhos comigo, está me deixando frustrada.

— Eles estão desse jeito por conta do que você contou a eles, certo? — Suspirei.

Eu ainda não tinha contado o que eu falei para os meus pais. Falava em códigos, mas não deixava escondido literalmente, estava sempre com todos os tipos de estereótipos possíveis. Eu ainda tinha medo da sua reação, mas em tão pouco tempo eu fiquei confortável com Sina e comecei a ter mais confiança. Ela me transmitia calma.

— Sim — finalmente respondi.

— O que está te incomodando agora? — perguntou, depois de alguns segundos em silêncio.

— Eu ficava com uma pessoa desde o 9º ano... Eu gostava dela, sabe? Eu queria poder ter algo mais sério... Mas não é tão fácil assim — soltei um riso sem graça —, não é tão fácil quando se é duas garotas. — Eu olhava para um ponto fixo, na paleta que estava sobre seu colo.

Não me sentia mal por ter parado de ficar com Hina, eu me sentia mal por eu ser quem eu sou. Me sentia mal por meus pais não me aceitarem e falarem que eu sou algum tipo de monstro por gostar de outra mulher. Meus sentimentos por Hina diminuíram bastante, óbvio que eu não superei 100% ainda, mas estou no caminho. O que mais me dói é como meus pais reagiram.

— Eu contei aos meus pais. Contei que gostava de mulheres e apenas mulheres. Falei que não sentia atração por homens e... E então eles surtaram. Falaram que era apenas uma fase, que eu estava falando besteira, que eu estava ficando doida e que era algum tipo de influência de algum amigo ou colega da escola. Eles ficaram estranhos, nunca demonstraram afeto e carinho, me olham com repulsa sempre e nunca mais tocaram no assunto. Agora eu estou sendo obrigada a vir nessas sessões... Pelo simples fato de eu gostar de mulher. — Soltei uma respiração, que eu nem sabia que segurava.

Olhei Sina, que estava me encarando. Seus olhos focados nos meus. As mãos apoiadas no colo. Ela me dava toda a atenção, não me interrompeu e nem me julgou pelo olhar.

Mas, mesmo com esse olhar doce dela, eu me sentia errada. Me sentia uma aberração. Me sentia a pior pessoa do mundo. E eu precisava pôr tudo para fora.

— Eu estou me sentindo tão mal, Sina. — Passei as mãos no rosto. — Me sentindo como se estivesse vivendo presa, como se eu não pudesse ser quem eu sou! Eu sinto que ser lésbica é algo extremamente errado e que eu estou sendo castigada por algo. Eu... Eu não deveria! — Senti meus olhos marejar. — Eu não queria isso. Não queria ter que ouvir todas essas palavras maldosas de meus pais, não queria ver em seus olhos a decepção e o nojo. Eu não queria afastá-los de mim. Eu só queria... Ser normal, Sabe?

— Você é normal — falou, firme, mas ainda sim, doce. — Não há nada de errado com você.

— Sim, tem algo de errado comigo sim! Eu sou errada. Eu não deveria... — Suspirei. Fiquei em silêncio, sentindo lágrimas descerem pelos meus olhos.

Me sentia frágil e eu odiava me sentir frágil. Me sentia presa e eu odiava me sentir presa. Estava chorando e eu odiava chorar na frente das pessoas. Eu estava completamente desolada e extremamente mal.

— Você é um ser humano como todos os outros. Inclusive, é um dos seres humanos mais doces que eu já vi. — Sua mão parou em meu rosto e ela levantou. — Você tem um valor, Heyoon. Não será sua sexualidade que mudará seu caráter! Eu prometo pra você.

— Eu me sinto insuficiente — murmurei, sentindo seus dedos macios limpando poucas lágrimas minhas. — Eu era tão feliz, Sina... Mas depois que eu me assumi, tudo virou de cabeça para baixo. Acho que eu realmente preciso me tratar... Eu estou toda... Quebrada.

— Você não está quebrada, ok? Você ainda tem sua essência. Eu vou te ajudar. Vou estar aqui, disponível para o que você precisar. Você é mais que suficiente, Heyoon.

Eu me sentia protegida ao lado dessa mulher. Meu coração estava batendo tão rápido e, aos poucos, eu fui me acalmando. Ela acalmava minha mente.

— Terapia não é especificamente por você estar quebrada, psicólogos não consertam seres humanos, psicólogos ajudam seres humanos a se encontrar e se concertarem sozinhos. E eu posso falar com toda a certeza do mundo que não são todos que vão a um psicólogo que está quebrado... Você, por exemplo, está aqui porque seus pais estão, aos poucos, tirando seu brilho, tirando sua felicidade. — Sua mão parou em meu braço, em um carinho. — E eu te juro que eu vou estar aqui. — Suspirei. — Por algum motivo, Heyoon, eu me preocupei demais com você. Vi aquela garota entrar por aquela porta, sem saber o motivo exato de estar aqui e triste, porque acha que a mãe não a aceita...

— Meus pais que precisam de terapia — resmunguei e ouvi um risinho dela.

— Está corretíssima. — Sorri de leve. — Já deu seu horário. Quero te ver na próxima consulta, e agora que eu sei o que aconteceu, vou aprofundar mais nesse assunto... Preciso entender como lidar com seus pais. — Eu acabei rindo.

— É meio difícil, precisará de sorte. — Levantei-me.

— Terei! — Ela levantou junto. — Até a próxima consulta?

— Até, doutora Deinert. — Sorri, abrindo a porta e saindo.

Caminhei devagar até a recepção, onde minha mãe estava. Eu tinha a expressão mais leve. Ela me olhou e sorriu, levantou e esperou eu chegar até ela, para apenas acenar com a cabeça, sem abrir a boca. Suspirei baixinho e caminhei com ela até o carro.

— Está ajudando? — perguntou, depois de parar o carro na garagem de casa.

— Depende. Se está me ajudando, está. Se está te ajudando, não — falei e desci do carro, batendo a porta.

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Oii, bão??

E aí, o que tão achando??
O capítulo, gostaram??

Qualquer erro já sabem né? Sinalizem hehe
E não esqueçam do voto??

A Fer (Fernands4_) revisou pra mim, obrigada, maninha 😔

Até mais, gente <3

Solução - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora