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Pov Marília

Passei a noite em claro, não conseguia dormir, estava me sentindo péssima, por ter deixado minha esposa naquele estado, sei que não é minha culpa, mas de qualquer maneira, me senti sendo injusta, querendo ou não, isso envolve nos duas, e eu estava tomando uma decisão, que era melhor para mim, sem pensar nas consequências que iria cair nela.

Saí cedo de casa, decidi não avisar minha esposa, demorou tanto tempo para ela dormir ontem, que eu suponho, que ela ainda esteja cansada. Precisava conversar com a minha mãe, talvez ela possa me ajudar com algum conselho, ou algo do tipo.

- Você fez ela sair 2 da manhã? - Minha mãe brigava comigo - Marília, ontem a noite estava frio.

- Culpo o seu neto - Falo comendo o café da manhã que minha mãe tinha preparado - Ontem a gente teve uma pequena discussão.

- Por isso você veio sozinha dessa vez - Ela arrumava a cadeira para sentar do meu lado - É por isso essa cara de desanimada?

- Acho que eu fiquei me sentindo culpada, não pela discussão - Começo a gesticular com as mãos - Mas porque eu vi ela chorando, fazia muito tempo que ela não chorava, não daquele jeito.

- Como assim "daquele jeito"?

- Um choro que dói - Falo tentando explicar o que estava acontecendo - É diferente do choro de felicidade, sabe? É aquele choro que eu só quero abraçar ela e proteger de tudo.

- Mas o que aconteceu? Para deixar ela daquele jeito? - Minha mãe sempre foi uma boa ouvinte, mas sua fama de conselheira sempre ganhava.

Expliquei toda a situação, e todos os problemas que insistam em nós perseguir, contando todas as versões, e os acontecimentos de 2 anos pra cá.

- E vocês não resolveram isso? - Sua voz continuava calma - Deixaram essas coisas pendentes?

- Mais ou menos, eu achei que tinha acabado - Deixo meus ombros caírem, e me sinto fracassada por achar que tudo isso tinha terminado - Eu só não queria ver ela assim.

- Minha filha... - Ela puxava a sua cadeira para ficar mais perto de mim - A Maraísa, pode não parecer, mas ela é sensível, você já percebeu o que todas as brigas de vocês tem em comum?

- Não, eu acho...

- Todas as brigas de vocês, é formado por uma incerteza - Sua voz era clara, abrindo meus olhos para as situações - Para você, pode ser só uma coisinha, mas pra ela, qualquer situação mal resolvida, pode ser motivo de desespero.

Sinto que aquelas palavras me causaram um impacto, um choque de realidade, abrindo meus olhos para coisas tão claras.

- Você não quer reabrir esse problema, você não está errada de não querer se machucar - Os seus olhos estavam travados em mim, e sua mão estava acariciando as minhas costas - Mas se você tomar essa atitude, você precisa lidar com as consequências, porque...

- Cada ação tem sua consequência - Completo a sua frase.

- Exatamente - Ela sorri com aquilo - Mas você não precisa ter medo de tentar de novo, agora é diferente.

- Eu sei... - Eu tentava sorrir de volta - Eu quero fazer isso, mas ao mesmo tempo, tenho medo de perder ela de novo.

- Você não vai, é só ver o jeito que ela te olha.

Quando penso em responder, escuto meu celular tocando.

- Oi meu amor.

- Cadê você? - sua voz era de sono.

- Eu vim ver a minha mãe - explico.

- Eu quero ir também - ela reclamava manhosa - Você tá brava comigo?

- Não estou brava Mara, eu vou aí te buscar, tudo bem?

- Tá...

Me despedi e já fui direto para o carro, expliquei para a minha mãe que ia buscar a minha esposa, e que iríamos tomar café juntas. Como não é uma distância muito grande da minha casa, até a casa da minha mãe, cheguei rápido.

- Porque você não me acordou? - Maraísa pergunta entrando no carro.

- Porque você estava dormindo como um bebê - Puxo sua camiseta, para aproximar seu corpo do meu.

- Não justifica - Ela diz emburrada - Você me acordou 2 da manhã pra comprar picolé.

- Foi seu filho - justifico puxando ela para começar um beijo, desço minhas mãos até a alça do seu sutiã, abaixando um pouco - Precisamos ir mesmo?

- Lila... - ela diz se afastando, tento mudar o foco do meu olhar, mas eles insistem em olhar para a sua boca, e minha esposa percebe e sorri com isso - Temos que ir.

Me afastei por completo e voltar minha atenção para a rua, chegamos rápido, e fomos direto para a cozinha.

- Maraísa - Minha mãe chamava Maraísa para um abraço - Marília me contou, que fez você ir comprar sorvete pra ela, se eu fosse você, deixava ela com vontade.

- Eu não tive muita escolha - Ela dava risada a situação - Eu praticamente fui proibida de voltar pra casa, até levar os picolés para ela.

Tento mudar o assunto, mas as duas insistiam em me zoar por isso, fui comer meu café da manhã, na esperança que elas fizessem o mesmo.

- Vocês estão de folga hoje? - Minha mãe perguntava para a Maraísa.

- Hoje não - Ela respondia desanimada - Temos que ir no escritório, resolver as do novo álbum, das patroas e as entrevistas.

Sinto minha mãe me chutando por baixo da mesa, me avisando para falar com ela agora, sobre a minha decisão.

- Eu vou lá em cima, preciso trocar de roupa.

Espero ela sair totalmente da cozinha, antes de começar a falar sobre o assunto. Me aproximo devagar do seu corpo, abraçando Maraísa por trás, assim como fiz ontem a noite.

- Me desculpa - apoio minha cabeça no seu ombro - Ontem a noite, eu não fui justa, eu só queria me proteger, e não pensei em você...

- Tá tudo bem Lila - Sinto suas mãos apertando a minha, e sua respiração começando a ficar pesada - Já foi...

- Eu quero fazer isso.

Assim que eu falo a minha decisão, ela se vira rapidamente, ficando de frente para mim, seus olhos tentavam me decifrar.

- Eu achei que - Ela começa a gaguejar - Você não ia querer fazer isso.

- Eu quero - Tento passar confiança, mesmo estando totalmente insegura por dentro - Só tenho medo.

- Medo do que? - Sua voz era baixa, como se alguém estivesse escutando.

- Medo de te perder.

Consequences (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora