21.

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" - A esperança não será a prova de um sentido oculto da existência, uma coisa que merece que se lute por ela? "

Pov Maraísa

- Lila? Preciso te contar uma coisa - Depois de horas criando coragem para falar, sinto Marilia dormindo igual um bebê nos meus braços.

Não a culpo, sua rotina de show está sendo muito mais intensa que a nossa, esses são os seus únicos dias de descanso antes de voltar para a rotina pesada. Recebo uma mensagem de Maiara e Lauana ao mesmo tempo, dou uma risada para o visor do celular antes de responder.

Mai:
- Já contou?

Lau:
- A palhaça deve tá dormindo

Eu:
- Não consegui contar, ela dormiu antes

Lau:
- Você precisa contar Mara

Mai:
-É irmã, nunca achei que ia concordar essa porca

Lau:
-Maiara se você me irritar eu te empurro do sofá de novo

Mai:
-Tortura psicológica é crime

Eu:
- Eu vou dormir, amanhã eu tento falar de novo

Desligo o celular e abraço Lila que está grudada em mim, seus cabelos estão sobre o seu rosto, sua boca entreaberta, sua respiração baixa. Tudo isso é considerado a maior perfeição existente.

Abraço o seu corpo tentando fundir dois em um, sinto seu cheiro invadindo as minhas narinas e a nossa respiração se tornando uma só.

{ 1 mês depois...)

- Não acredito que você não falou com ela ainda - Maiara diz nervosa - Porra, vai fazer um mês Maraisa.

- Eu sei, mas ela não para em casa - Tento me defender - É meio difícil falar qualquer coisa.

Estávamos no nosso camarim, faltava poucos minutos para o show. Não tinha falado com Marília sobre a inseminação, nem porque decidi realizar nosso sonho de montar nossa família por agora.

- Isso era para ser uma surpresa - Maiara vem e me entrega o microfone - Mas Marília vai vim para o show, cria coragem desde agora.

Meu corpo paralisa, esperava ver a Lila daqui 2 dias, não 2 horas, tento fazer minha respiração voltar ao normal, e manter o foco no show.

Começamos o nosso show com a mesma animação de sempre, mas dessa vez eu estava com um aperto no coração, como se alguma coisa, pudesse dar errado em qualquer momento. Tento não pensar muito nisso, pelo menos por agora. O show inteiro procuro Marília, mas nada, quando estávamos nas últimas do repertório, escuto várias pessoas gritando, na esperança de ver a minha noiva, vejo Henrique e Juliano subindo no palco.

- Você não disse que ela ia tá aqui? - Falo com o microfone afastado apenas para Maiara escutar

- Ela disse que ia vim - Ela dá ombros e vai comprimenta os meninos.

Faço o mesmo, enquanto estão todos curtindo o show, decido sair rapidamente e ir no banheiro, já que que infelizmente agora, não consigo controlar a minha vontade de fazer xixi.

- Você não pode fazer isso Marília - Murilo diz segurando seu braço - Temos um contrato você não pode quebrar.

- Sim, eu posso - Marília fala enquanto puxa seu braço de volta - Eu não vou cancelar meu projeto, só porque você não sabe aceitar um não.

- Aceitar um não? - Ele se aproxima dela cada vez mais - Você realmente acha que ela mudou? Então eu tenho uma notícia pra te contar - Daqui consigo ver seus olhos já cheio de lágrimas - Ela está grávida Marília.

- E quem é o pai? - Sua risada sai alto - Você?

- Você eu garanto que não é - Ele diz irônico - Ela te contou? Ou você realmente acha, que se fosse inseminação ela teria escondido tanto tempo? Acorda Marília.

- Você está mentindo - Ela segura a gola da sua camiseta - E eu não quero perder mais nenhum minuto da minha vida com você.

- Você sempre vai voltar - Ele tira as mãos de Marília de si - Do mesmo jeito que voltou hoje - Você sempre volta.

Quando escuto que Marília foi atrás dele, principalmente depois de tudo que passamos nos últimos meses, sinto meu estômago embrulhando, as lágrimas começam a cair, mesmo sabendo de todo mal que ele me fez, ela foi atrás dele. Saio correndo daquele lugar, pego meu carro na garagem, e vou na maior velocidade possível.

Não consigo prestar atenção na estrada, nem nos carros buzinando, não estou com raiva de ninguém, estou com raiva de mim mesma, por sempre ser tão fraca, por não ter enfrentado eles dois, por sempre sair correndo.

Sinto meu celular tocando, é Marília, só queria gritar com ela, perguntar porque ela estava com ele, mas não, simplesmente decido desligar o celular, e voltar a atenção na estrada. Meus olhos já estavam cheio de lágrimas, meu coração estava doendo, novamente, depois de muito tempo. Aumento mais ainda a velocidade do carro, sem me importar com faróis, multas nem nada. E meu celular toca novamente, dessa vez é Maiara, decido atender, e tentar abafar minha voz de choro.

- MARAÍSA ONDE VOCÊ ESTÁ? - Maiara começa a gritar do outro lado da chamada.

- Eu tô bem gêmea - Tento parar o choro - Só não vou voltar para casa hoje.

- Carla Maraísa onde você tá? - Escuto a voz grave de Marília.

- Não quero falar com você agora Marília - Aperto o volante para tentar esconder a dor que queria rasgar meu peito - Passa para a minha irmã.

- Eu não vou passar - Sinto a sua preocupação pelo seu tom de voz - Me fala o que está acontecendo...

- Eu não sei Marília - Respondo ríspida- Me fala você, o porque estava com o Murilo?

Ela não responde, seu silêncio era a única resposta necessária, sinto uma batida forte no peito, o choro que por tanto tempo guardado, está cansado de se esconder, minha cabeça dói, minha respiração está falhando, e o medo do fim se aproxima novamente.

- Só isso que eu precisava escutar Marília - Desligo o celular e aperto o pedal de aceleração.

Não consigo enxergar nada, as lágrimas estão tampando tudo, continuo dirigindo sem rumo, escuto meu celular tocar várias e várias vezes, decido ignorar todas.
Escuto uma buzina alta, não dou muita atenção, sinto uma luz forte no meu rosto, e é tarde de mais. Sinto meu carro sendo jogado para o outro lado da avenida por um caminhão.

"eu te perdoo, mas não teria feito isso com você, essa é a nossa maior diferença"

Consequences (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora