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Pov Marília

- É normal essas dores Marília - O doutor que estava acompanhando a minha gravidez explica - São contrações de treinamento, é normal nesse período da gravidez.

Quando estava quase amanhecendo comecei a sentir muita dor, não sabia exatamente o que era, apenas acordei a minha esposa e vim para o hospital.

- Você já está no terceiro trimestre, e vai sentir isso sendo mais constante, não sabemos quando o bebê vai nascer, por isso eu recomendo tentar não trabalhar muito nesses últimos dias.

Me sinto aliviada de não ser nenhum problema, mas sim, uma dor indicando que já estávamos na fase final da gravidez. Terminamos ali e paramos em qualquer lanchonete, já estava amanhecendo, decidimos comer alguma coisa.

- Tenho uma reunião hoje com a equipe, Maiara vai comigo - Minha esposa chamava a minha atenção - Teremos que remarcar alguns show e precisamos deixar tudo pronto.

- Achei que você ia ficar comigo hoje.

Mesmo que a dor já tivesse passado, eu estava bem, mas queria ela ali comigo o resto do dia, afinal a dor poderia voltar uma hora ou outra.

- Você prometeu ficar com a sua mãe hoje Lila, e eu não vou demorar.

- O doutor disse que não passa dessa semana Mara, você deveria ficar comigo esses últimos dias.

Não queria parecer mimada ou algo do tipo, mas eu realmente estava preocupada, e se a bolsa estourasse e ela não estivesse presente? Precisava dela alí, comigo.

- Eu não posso desmarcar Lila...

- Tudo bem - Ela percebe a minha chateação, e se aproxima mais.

- Você não pode ficar brava comigo - Maraisa diz enquanto apoia a cabeça no meu ombro, apenas para me olhar de perto - Eu não vou demorar.

- Eu já disse que está tudo bem Maraisa - Tento afastar ela, mas é impossível.

- Só quando você parar de me chamar assim - Ela beijava o meu pescoço - E dizer que me ama.

- Por chamar pelo seu nome? - Pergunto rindo da sua fala - Você tem algum vício estranho por pescoços?

- Pelo seu? Sim - Sinto sua língua quente passando pelo local, apenas me afasto e tento empurrar ela para longe.

- Você não vai ganhar nada de mim hoje, absolutamente nada.

- Por ir na reunião? Amor isso é importante.

- O nascimento do seu filho também.

- Eu não vou perder isso - Ela segura minhas mãos - É uma reunião de 2 horas no máximo, não vai acontecer nada nesse intervalo de tempo.

Maraisa me deixa na casa da minha mãe, antes de ir para o escritório, não queria deixar ela ir, mas era necessário, afinal disso que vem nosso sustento.

- Marília o que você acha de levar essa roupa para o hospital? - A voz da minha mãe me tira dos meus pensamentos - A bolsa do Leozinho já está pronta?

- Sim, Maraisa fez isso ontem.

- Porque esse desânimo? Falta pouco para acabar - Ela me perguntava vindo na minha direção e vendo se eu estava com febre - Está sentindo alguma coisa?

- Eu estou bem - Me afasto dando de ombros - Só queria minha esposa aqui.

- Ela precisa trabalhar Marília, imagina quando vocês começaram a tour separadas?

- Não quero pensar nisso - Precisava só de pensamentos positivos agora - Minhas costas voltaram a doer.

- Deita um pouco, bebe uma água, eu arrumo as coisas por aqui.

Tento relaxar um pouco, estava muito tensa, a dor insistia em me derrubar, começo a tentar procurar posições confortáveis, mas sem sucesso, chamo a minha mãe, ela já era experiente, teria uma solução para isso.

Tomo alguns analgésicos, mas começo a me desesperar, a contração de treinamento são irregulares e imprevisíveis, mas são rápidas e curtas, e essa dor que eu estava sentindo, não estava passando.

Sinto meu corpo todo suado, os remédios iam demorar para fazer efeito, não estava adiantando muita coisa.

- Marília... - Minha mãe tentava me ajudar a ficar de pé - A gente vai ter que ir para o hospital.

Não estava conseguindo pensar, mas pela sua cara isso não era nada bom, quando sigo o seu olhar, vejo meus pés molhado, com um líquido, claro,quase transparente, mas o que me assustava era o sangue que também estava presente.

- Você precisa ficar calma - Minha mãe tentava de todas as formas me manter calma - Respira e Inspira.

- Eu não vou sair daqui enquanto a Maraisa não chegar - Falo ofegante, não aguentando mais as dores contantes nas minhas costas - Eu não vou aguentar isso.

- Fica calma, tenta respirar, eu vou ligar para ela.

Minha mãe começa a falar com a minha esposa pelo telefone, pelo barulho, Maraisa estava gritando, e não era pouco.

Em poucos minutos escuto a porta sendo aberta com certa brutalidade, me viro com dificuldade, e vejo minha mulher correndo na minha direção.

- Você consegue andar? - Maraisa me pergunta apressada.

Apenas concordo com a cabeça, mesmo que esteja tudo doendo, eu consigo andar, nem que seja até o carro. Prometi pra mim mesma não se desesperar quando esse momento chegasse, mas fiz totalmente o oposto.

No carro, a dor tinha passado um pouco, mas o desconforto não passava, seguro a mão da minha esposa o tempo todo, com força, pouco me importando se tava machucando.

- Eu tô aqui - Maraisa beijava minha testa - Eu vou continuar aqui.

Tento relaxar um pouco, mas o pequeno intervalo acaba, a dor que era forte, ficou pior, sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, aperto mais forte ainda a mão da minha mulher, na esperança de tentar amenizar um pouco a dor.

- Por favor não chora... - Ela começa a ficar mais nervosa do que já estava - Pode apertar a minha mão, tá tudo bem.

O caminho para o hospital parecia uma eternidade, se eu tivesse no volante já teria atropelado todo mundo, só para chegar mais rápido, quando chegamos vejo meu irmão indo buscar uma cadeira de rodas para ser mais fácil de me levar.

- Ela está sem dilatação - A enfermeira que me examinava - Vamos ter que esperar um pouco mais.

- A bolsa estourou - Minha mãe tentava explicar nervosa - Não dá para esperar muito.

Maraisa tentava me distrair de todo jeito, hora me beijava, depois me abraçava, eu já estava ficando nervosa com isso, e me afastava ela, só queria parar de sentir dor e isso não estava ajudando.

- Vamos ter que fazer cesárea - O mesmo doutor que nós atendeu hoje cedo avisa.

- Eu não vou aguentar Mara.. - Tentava chamar a atenção da minha esposa que estava resolvendo os últimos detalhes com o médico.

- Vai sim - Ela se abaixa na minha direção - Você é forte, vai aguentar, falta pouco amor.

Mesmo a sua paz de espírito me irritando, eu não respondo, continuava apertando a sua mão, com toda a força que eu tinha.

- Vamos levar ela para a sala de cirurgia - Algumas enfermeiras me afastam da minha esposa, o que me deixa um pouco nervosa, mas elas percebem e tentam me acalmar - Ela precisa trocar de roupa, e você também, ela vai estar lá dentro te esperando, tá tudo bem.

Tento me acalmar, estava perto de ver meu bebê no colo, de sentir seu cheiro, de carregar e cuidar, me sentia pronta para isso.



Consequences (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora