"(...) se é uma vantagem, por exemplo, poder-se ser o que se deseja,
maior ainda é sê-lo, ou seja, a passagem do possível
ao real é um progresso, uma ascensão."(Soren Kierkegaard)
ATHENA
🌻🌻🌻8760. Era o número exato de vezes em que eu repeti a frase que eu deveria ter lhe dito desde a primeira vez que a vi, eu havia acabado com três canetas e uma havia estourado nos meus lábios, o que havia deixado uma mancha na minha camiseta favorita do Red Hot Chili Peppers, comprada de uma banca de rua quando ainda estava no segundo ano da faculdade e a minha mão como se eu tivesse cometido algum tipo de crime horrendo, mas no fim eu tinha um rolo de papel considerável.
Meu celular tocou, o alarme irritante soou por alguns segundos até que eu me desse conta e me forçasse a levantar e deslizar o dedo pela tela, eu sequer havia dormido aquela noite, aliás fazia algumas noites que eu não me dava ao luxo de dormir direito. Senti minhas costas reclamarem, talvez um banho pudesse me fazer ficar acordada.
Melissa havia montado uma lista, com nomes, contas e valores, além de endereços no exterior e um conjunto considerável de alegações sobre instituições que confirmavam nunca terem recebido um euro sequer das "doações", meu avô se mantinha de lado, observando cada passo meu, não como se esperasse por um deslize, mas como se estivesse ali para me apoiar. Era domingo de manhã, eu deveria estar no clube de tênis em menos de uma hora e eu já estava atrasada considerando que o trajeto até o lugar eram quase quarenta minutos e eu sequer havia terminado meu banho. Não me lembrava que a tinta de caneta era tão complicada de sair.
— Vá com calma menina! — ouvi Celeste dizer quando quase a derrubei ao pé da escada, meu carro havia simplesmente morrido e eu ainda não sabia o que havia acontecido com ele, exceto que iria passar algum tempo no mecânico, o que me deixava sem opções que não pegar um dos carros do meu avô, o que provavelmente me renderia um puxão de orelha, uma vez que eu suspeitava que ele me trocaria facilmente por um deles. Eu ficaria sã e salva, desde que não pensasse em tocar no Rolls Royce.
— Onde vai com tanta pressa?
— O vovô está me esperando no clube, depois iremos almoçar juntos. — contei, fui tomada pela sensação de déjà vu, como se já tivesse vivido aquele dia, maneei em negação a cabeça e suspirei. — Não voltarei para o jantar, vou pra casa da Melissa.
— Tenha juízo, menina.
Eu sorri enquanto meus dedos se fechavam em torno da chave de um Audi.
— Eu sempre tenho! — beijei-a nas bochechas antes de sair em direção à garagem, pude ver de relance a governanta balançar a cabeça em negação, certamente duvidando de cada uma das minhas palavras.
Era domingo de manhã, quase nove e meia, o que significava um trânsito fluido, com exceções de semáforos que pareciam demorar mais que o normal. O inverno avançava sem piedade, as pessoas caminhavam embrulhadas em seus casacos e pesados e as lojas começavam a se enfeitar para o natal, em breve a neve cairia e estaríamos oficialmente nos últimos momentos do ano. Me perguntei o que Alekzandra estaria fazendo, já teria comprado sua árvore de natal? ou estaria planejando estar na casa dos pais? Eu não fazia a mínima ideia de como a loira estava, por mais que eu a quisesse perto sabia que não seria uma relação saudável, ao menos por enquanto. Recebi uma reprimenda nada educada em forma de buzina e voltei a pisar no acelerador voltando minha atenção inteira à estrada, ignorando os pensamentos que me levariam a desbloquear o celular e ligar para Leannou.Eu não podia, ainda não.
Deixei o carro com o manobrista logo depois de puxar minha raquete e quase derrubar a pilha de papéis que eu tinha no banco de trás. Entreguei as chaves ao manobrista e respirei fundo, olhando meu relógio de pulso, três minutos antes que eu estivesse atrasada. Disparei para dentro do clube, enquanto tentava prender meus cabelos em um rabo de cavalo curto e desajeitado e ainda tentava não derrubar a raquete no chão, uma falha tentativa de estar pronta ao cruzar a entrada da quadra.
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Amor à Grega | ⚢
RomanceDepois de ser demitida de uma empresa, que em tese, deveria ser sua Athena Onassis se vê desempregada, solteira e com um ultimato do avô, prestes a viajar para supervisionar a construção da nova sede na America Latina, um processo que levaria um ano...