CAPÍTULO 14 | ΚΕΦΑΛΑΙΟ 14

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“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.”
(José Saramago)

ALEKZANDRA

Eu esperava que fosse um sonho,  ou melhor, um pesadelo. Esperava que aquela sensação vazia no peito fosse puramente ilusão, mas quando o segundo dia amanheceu e aquele apartamento estava mergulhado num silêncio mórbido e um dos lados da cama vazio eu soube que não era mera ilusão. Me sentei na cama observando o quarto semi-iluminado, levei as mãos aos cabelos, meio embaraçados, pela quantidade de tempo que eu estivera na cama nas últimas quarenta e oito horas.  Andréas havia voltado, eu a via sempre que descia para  comer alguma coisa, até então não havia me perguntado nada, mesmo que os olhos escuros estivessem me queimando pelas costas, seu espírito de fofoqueira estava contido.

Ainda que eu estivesse dentro da minha pequena bolha de sofrimento, eu me sentia bem por  tê-la ali,  quebrando, às vezes, o silêncio ensurdecedor com algum  filme antigo em preto e branco. Até então eu não havia chorado, as lágrimas haviam secado  junto com a batida firme da porta dois dias atrás, mas às vezes eu acordava sentindo-me sufocada, como se alguma coisa estivesse sobrepujando minha respiração,  como se eu estivesse engasgando com todos os sentimentos que me sucumbiam em um looping infinito de sensações. Eu sentia demais, ao mesmo tempo que me via incapaz de sentir qualquer coisa. Vagamente  me lembrava da conversa com Andréas,  meses atrás, sobre estar  velha demais para um coração partido.

     Girei meu corpo na cama e afundei meu rosto no travesseiro, o cheiro doce ainda estava ali,  assim como as roupas no closet e o colar  colocado  debaixo do abajur. Athena estava em tudo. Nos frascos de shampoo no banheiro, nas roupas no closet, na escova com cabelo  colocada ao lado da cama,  nos pequenos potes de comida na geladeira e no iogurte que eu só comprava para ela. Seu cheiro estava em cada canto daquele apartamento, inclusive nas minhas roupas.  Ela havia partido, mas eu a sentia  em todos os quatro cantos daquele lugar, sua presença era quase sufocante.
 
Eu me acostumei, naquele curto espaço de tempo, a encarar o teto, observar o passar das horas pelos raios de luz projetados através das frestas das cortinas mal fechadas.  Enquanto minha mente vagava  sem rumo, buscando o exato momento em que eu havia me perdido naqueles par de olhos escuros e no sorriso com covinhas profundas e  no som de sua gargalhada.

Desde o princípio eu sabia que  Athena era um furacão, que poderia me destruir em uma fração de segundos. Ela era  belíssima, o  perfeito e complexo sistema entre o caos e a criação, entre a liberdade e a mais bela prisão.   Jamais poderia culpar alguém, senão eu mesma,  por ter me deixado ser embriagada  por Onassis.

Havia mais que o meu ego ferido, havia mais que o desmoronamento da minha vida profissional e quando eu me permitia pensar sobre o assunto a raiva era o sentimento que se sobressaia, e eu  não sabia exatamente do que sentia raiva se era de Athena por tomar uma decisão por mim ou se  de mim, por achar que um dia ela me escolheria ao invés daquilo que nasceu para fazer, ela jamais renegaria seu destino  e no fundo eu sabia que preferia assim, nunca fora minha intenção estar entre ela e a escolha que lhe fora feita antes de nascer.  A existência daquele contrato era a prova física de que  um envolvimento sentimental estivera sempre fora do alcance,  mesmo que, aparentemente  nós duas tivéssemos quebrado essa cláusula. Sob essa onda de pensamento a lembrança dos sussurros rente a porta e da jóia em cima da mesinha de cabeceira me deixavam em um estado catatônico de confusão, que me faziam mergulhar novamente em lembranças e questionamentos.  Até então eu havia ignorado completamente o sussurro rápido dito na ligação dias atrás, aquele conjunto perigoso de três palavras que me fizeram navegar  em sensações  quente  e  mar revolto, que me tiraram o sono e me fizeram testar os limites do meu autocontrole.

Amor à Grega | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora