Capítulo 24

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— Se quiser vir comigo, eu estou indo para Wolverhampton. Vou encontrar minha mãe.

Zayn despertou de sua até então sonolência, arregalando os olhos em desespero. Liam cheirava a álcool e à impulsividade. Aquela combinação não poderia culminar em nada muito próximo do bom ou do saudável.

— Liam, você está bêbado. Sinto muito, mas vou te impedir. — Agilmente, ele roubou as chaves das mãos distraídas do gângster.

Em reflexo, Liam começou a encará-lo da mesma forma que o fuzilara na primeira vez em que se conheceram, quando ele ainda se assemelhava a um monstro sem qualquer resquício de humanidade. Seus olhos estavam ligeiramente vermelhos, sendo acompanhados por rugas de preocupação que ali não apareciam já fazia alguns dias, simplesmente porque, até aquele momento, ele estava tranquilo e feliz. A única diferença em relação ao início da interação entre os dois era que o moreno trazia um amontoado de emoções perigosamente empilhadas no olhar.

Em meio a tudo isso, Zayn só não conseguia enxergar que Liam havia tomado uma decisão tão certeira, que sua força de vontade em concluí-la não permitiria que nada nem ninguém o atrapalhassem: ele enlaçou o corpo do menor numa estratégia um pouco agressiva, para assim conseguir pegar a chave de volta e correr em direção ao carro. Liam estava prestes a dar a partida.

— Eu dirijo, então. — O policial interviu, abrindo a porta do motorista com o máximo de autoridade que conseguia. Indiferente, Liam apenas pulou para o banco do carona. — Wolverhampton é muito distante daqui pra você me fazer uma loucura dessa.

Sem acreditar que estava prestes a conduzir aquele maldito carro em direção ao maior pesadelo do homem ao seu lado, o Malik acelerou portão afora. Conforme se distanciava da casa, suas mãos vez ou outra tremelicavam contra o volante, gélidas, uma vez que ele não era minimamente acostumado a dirigir à noite, especialmente às madrugadas, em estradas desertas que ele tão pouco conhecia. Sua confiança no destino que seguia sustentava-se inteiramente no GPS do celular, porque, em poucos minutos, Liam estava dormindo como um bebê.

No entanto, era um sono perturbado, Zayn sabia. Ainda que estivesse agasalhado, o gângster se encolhia como um pequeno filhote recém-nascido.

Assim, esperando que pudesse acalantar o inconsciente de Liam, o de olhos aveludados ligou o Spotify na playlist mais tranquila que lhe apareceu pela frente. No fundo, era também uma tentativa de sossegar os próprios pensamentos caóticos, que o aterrorizavam a cada pista estreita, com faróis quebrados ou inexistentes.

Com sorte ou não, depois de cerca de duas horas no escuro, sombras de edifícios tipicamente urbanos surgiram no horizonte um pouco mais iluminado pelo nascer do sol. Só assim Zayn pôde respirar tranquilamente, já elaborando quais seriam seus planos caso Liam surtasse ao perceber a importância do que faria dali a exatos quarenta minutos.

E então, quando o carro ultrapassou a placa de boas-vindas à temida Wolverhampton, Harry acordou num pulo. Parecia ter despertado de um pesadelo ou algo do tipo, porque suava como o diabo no inferno.

— Ainda bem que você acordou, porque... B-bem... Eu não sei o endereço da sua mãe.

Paralisado, Liam varreu a cidade em que estava com os olhos marejados. Quando se deu conta do que estava fazendo, levou as mãos à boca e deixou que uma lágrima doída perpassasse pelo seu rosto inchado. Racionalizando melhor e sentindo-se enjoado com isso, ele aconselhou o de olhos âmbar a estacionar em frente a um posto de gasolina próximo, onde ele desceu para ir ao banheiro e dali só retornou após ter vomitado o suficiente por um dia inteiro de refeição.

— Eu dirigiria de volta sem problema algum, Lee. Você não parece preparado pra algo assim. E, quer saber? Não tem problema nenhum nisso. — Sussurrou Zayn ao que encaixava o rosto quente no ombro tenso do companheiro ao seu lado do carro. Conforme roçava a ponta do nariz carinhosamente ali, depositando beijos castos na pele morna de Liam, o mesmo ia retomando a calmaria que o levara a tomar tal decisão. — Podemos voltar?

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