Capítulo 21

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Quando Jawadd acordou, o quarto ainda estava escuro. Olhando no relógio do criado-mudo ao seu lado, já era pouco mais de três e meia da manhã. Ele sabia que era hora de voltar para o hotel, por isso somente rolou para o lado com cautela, não querendo acordar o gângster do outro lado da cama, e se levantou junto de uma toalha, cobrindo o corpo.

Estava prestes a calçar um dos chinelos de Liam e partir de uma vez por todas para fora daquele quarto, quando, de súbito, ouviu um gemido sôfrego e angustiante, o corpo alheio mexendo-se freneticamente na cama atrás de si, a ponto da mesma arrastar-se de modo que batesse contra a parede a todo momento. No mesmo instante, assustado, Zayn deu meia-volta em direção ao tumulto, aterrorizando-se com a imagem do moreno inquieto e suado, os músculos tensionados e o peito subindo e descendo numa velocidade fora do comum. Em meio aos gemidos, ele começava a sussurrar palavras atormentadas e cada vez mais altas.

— Mãe! — Um grito estrangulado saiu de sua boca e seus músculos começaram a se mover ainda mais frenéticos. — Mãe! Faça alguma coisa! Por favor... Mãe... Por favor!

Zayn mal conseguia se mexer, com o coração disparado. Ele nunca o tinha visto gritar tão asperamente, e ainda havia... Aquela palavra. Mãe.

Liam estava preso num pesadelo com a mãe, e não havia nada mais intrigante e desesperador aos ouvidos de Jawadd; ele sabia que precisava ajudá-lo, senão o mesmo quebraria a cama no ritmo em que se debatia, mas o rumo que aquele pesadelo tomava era ainda mais instigante que a sua vontade quase primitiva em libertá-lo de uma dimensão que parecia fazê-lo sofrer tanto...

— Ela não tem culpa, não tem! Eu que deveria ter ido... Mãe... Ela não pode nos deixar. Por favor! — Ele se enrijeceu, contorcendo o corpo inteiro e assim chutando as cobertas para fora da cama. Depois, simplesmente parou. Ele relaxou contra o colchão e uma só lágrima desceu por seu rosto tenso e vermelho depois de tanto gritar. — Vai me deixar sozinho, não vai? Você é fraca, não é? Você é fraca como ele, mãe.

No ritmo em que a lágrima densa e sozinha se esvaziava dos olhos fechados de Liam, Zayn se tocou de que não aguentava mais ver aquilo. De um modo estranho e desconfortante, doía em seu próprio coração vê-lo chorando e indefeso como ele nunca imaginou que Liam ficaria diante de seus olhos. Era como se estivesse de frente a uma criança precisando de ajuda, e, a partir daí, já lhe era insuportável ficar parado, só observando.

Pois então, ele ajoelhou-se na cama e disse seu nome em voz alta:

— Liam. — Lentamente, aproximou uma das mãos até os cabelos molhados pelo suor, arrumando-os para trás e assim vendo-o relaxar. — Ei, Liam, aqui é o Zayn. Acorde.

Despertando de repente, Liam se sentou no colchão bruscamente, tenso e defensivo. Seus olhos vagavam o quarto de forma quase assustadora, de um lado para o outro, arregalados e dilatados. Seu peito oscilava com a respiração ofegante, e, assim que reconheceu Zayn ali, a sua frente, seu peito se encheu de ar e ele desabou para trás, aliviado por tudo aquilo não ter passado de um maldito pesadelo.

Seu único temor era que tivesse falado algo, e, pior ainda, que Zayn tivesse ouvido algo...

— Você chamou pela sua mãe. Na verdade, praticamente gritou por ela.

Ah, não, Liam pensou.

— Eu nem sequer tenho uma mãe. São só bobagens típicas de sonhos. — Disse, com uma voz que estava lutando para manter estável. Depois, deu de ombros, enrijecido, virando-se para o lado contrário do de olhos âmbar em busca de não ter de precisar olhá-lo, muito menos se ele estivesse com aquele maldito olhar de piedade.

Liam odiava piedade.

— Liam...

— Porra. Esqueça isso, ok?

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