capítulo 02

3K 304 453
                                    

Sadie

Atravessamos uma antessala e meu sangue volta a ferver com as obras de arte caras e extravagantes expostas nas paredes.

- Bela coleção. - falo e o homem suspira alto. - Bela cobertura, aliás.

David se mantém calado e alcança uma porta, abrindo-a. Sua cabeça está baixa, os olhos não encontrando os meus quando passo por ele, adentrando o escritório suntuosamente decorado, como tudo na residência ostentosa. Noah me segue até os sofás de couro negro. A vista daqui também é impressionante. Eu não me sento, permaneço de pé ainda segurando o copo de uísque. David avança cautelosamente pela sala, enfiando as mãos nos bolsos. A postura segura do homem de negócios com quem me acostumei está longe de ser vista nesse momento. Acho que o provérbio é verdadeiro, afinal. A culpa condena. Estreito meus olhos sobre o homem e levo o copo à boca, sorvendo um pequeno gole na bebida quente. Eu gosto assim, puro, forte. Mantenho meus olhos treinados em meu oponente. A postura de David fica cada vez mais tensa, meu silêncio incomodando-o. Ficamos assim, silêncio total no ambiente, apenas os sons da minha degustação do uísque caro e sua garganta engolindo em seco.

- Mostre o relatório, Noah. - digo sem desviar meu olhar do verme desonesto.

Noah faz o que oriento, entregando a pasta volumosa a David.

- Há um ano percebi inconsistências em seus balancetes e solicitei uma auditoria sigilosa nas contas do táxi aéreo. - David fica pálido como um fantasma, as mãos começam a tremer, ameaçando derrubar a pasta com os documentos no chão.

- Imagine a minha surpresa ao constatar que meu gerente administrativo estava me roubando há cinco anos? Não um ou dois, mas, cinco malditos anos! - ranjo os dentes e viro o copo, o líquido queimando garganta a baixo. - não vai falar nada em sua defesa?

Ele tem a decência de parecer envergonhado.

- eu apenas quis dar uma vida alto padrão à minha família. Isso não é nenhum crime. - sua postura inflama subitamente.

Solto um rosnado com sua ousadia.

- desejar uma vida de luxos não é crime, você está certo. - digo, então completo friamente: - alcançar isso roubando o meu dinheiro, é. Você me roubou milhões! - gritei, fazendo-o recuar dois passos. Bufo em desdém. O homem é um covarde maldito. - Vai me pagar, David.

Sua expressão muda para aflita. Posso ver lágrimas se formando em seus olhos. Frouxo.

- Eu percebi que algo não estava certo no último mês. As constantes visitas de advogados no meu escritório. - respira tremulamente. - Sei que estou ferrado, Sadie. Mas, por favor, vamos conversar. Tomei o cuidado de fazer bons investimentos... - ele mais uma vez parece envergonhado ao admitir a apropriação indevida do meu dinheiro.
- Posso...

Eu rosno e deposito o copo sobre a mesinha de centro. Ajeito meu terno devagar, deixando-o mais uma vez na angústia.

- Há algo que pode fazer para não ir parar na cadeia, David. - seu rosto mostra confusão no início, depois se ilumina achando que vai se livrar assim, tão fácil. Ele deveria saber que ninguém, absolutamente ninguém, me engana e sai impune. Sou adepto da filosofia: olho por olho, dente por dente. - Na verdade, há apenas uma coisa que pode fazer.

O homem solta o ar que esteve prendendo. Seu rosto se enche de alívio. Rio internamente, ansiando o momento que irei destroçá-lo.

- O quê? Diga e eu farei, Sadie. Juro que farei.

Começo a andar para a parede de vidro, apreciando a vista. Enfio as mãos nos bolsos das calças e me viro para ele, encarando-o implacavelmente por mais um tempo. Então, solto a minha proposta:

A DÍVIDA - SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora