capítulo 80

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Millie

— Chegou a hora, Millie — a voz da organizadora do casamento vem da porta do closet.

Meu coração salta no peito, enquanto a equipe me cerca de novo, conferindo minha maquiagem e vestido. Priah me entrega o buquê de flores do campo e deixamos o quarto. Saímos pela porta lateral direto para o jardim, evitando a escadaria da frente da casa. Eu ofego quando vejo uma charrete toda ornamentada com flores, um arco lindo sobre o banco.

Ai, meu Deus, minha malvadona fofa sendo romântica. Meus olhos voltam a se encher de lágrimas e tomo meu lugar no assento com a ajuda do condutor bem alinhado num fraque escuro. Os cavalos começam a trotar levemente e eu suspiro, me sentindo uma princesa de conto de fadas quando entramos pela estrada de blocos que corta o jardim, em direção à margem do lago. É uma visão de romances, sem dúvida. Os últimos raios do sol refletem nas águas calmas, grande parte da grama verdinha está ocupada por cadeiras brancas, todas ocupadas.

Tudo vai ficando mais claro à medida que nos aproximamos. Há uma enorme tenda montada mais à frente, e a pista de dança em assoalho foi montada suspensa, sobre a superfície do lago. Lindo demais. Muito além do que sonhei. Alguns instantes depois, a condução para e Lilia está a postos para me receber. Ela está deslumbrante num terno escuro. Fiquei surpresa quando foi mais cedo ao meu quarto, aliás, Natacha também estava elegantíssima em um terno. Elas não devem estar muito contentes, as duas odeiam trajes formais.

Lilia estende a mão e me ajuda a descer.

— Uau. — assobia baixo, então beija minha mão. O gesto é carinhoso, vai além do galanteio próprio dela, percebo. — Você está um nocaute, bonitinha.

— Obrigada, Lilia. — murmuro, meu coração trovejando, querendo ir imediatamente ao encontro de Sadie e Theo.

— Não, eu que agradeço, Millie. — ela diz num momento sério. — Obrigado por amar a minha irmã. E, claro, por fazer de nós uma família de verdade.

Eu arfo, meus olhos turvando com suas palavras. Ai, Deus, até minha cunhada irreverente está emocional hoje. Eu me inclino, beijando-a na bochecha.

— Obrigada você por me aceitar como a sua família. — digo com todo meu carinho por ela. — Agora, por favor, me leve logo para a sua irmã. — sorrio tremulamente.

Lilia inspira, seus olhos bonitos estão mais brilhantes também. Então sorri de lado, voltando a ser ela mesma, e me oferece o braço.

— Vamos dar um ataque cardíaco para a grande CEO, bonitinha. — ela pisca do seu jeito agitadora.

Eu rio, mas minha boca está tremendo de tanto nervoso. Enlaço seu braço e viramos de frente para o tapete vermelho, e a cena diante de mim me faz arfar, meus olhos enchendo de lágrimas e transbordando.

Sadie está lá, no altar, todo linda e imponente trajando um terno escuro com o nosso filho nos braços. Mesmo à distância, sinto o impacto dos olhos. Eu soluço quando nossos olhares se encontram. Seus olhos estão brilhantes, vívidos, e correm por mim inteira, com amor, mas também com desejo e posse. Sadie percebe que estou chorando pela forma que seu olhar e rosto suaviza ainda mais.

Eu te amo. Amo vocês. Digo-lhe com meu olhar, tomada pela emoção. Os convidados se levantam e a marcha nupcial começa ao som de violinos. Minhas pernas tremem sobre as sandálias de salto alto, minhas mãos ficando ainda mais suadas e frias, mas eu me obrigo a andar buscando todo amparo em Lilia.

Os olhos de Sadie nunca deixam os meus enquanto avanço pelo tapete vermelho. Arquejo, as lágrimas caindo incessantemente em minhas faces. Eu sabia que ia me emocionar, só não imaginei que me descontrolaria assim. Minhas pernas tremem muito, a emoção do momento me engolfando sem dó. Inalo rudemente, sabendo que é inútil tentar me controlar, então decido parar de tentar reprimir tudo que estou sentindo e só ando. Ando para ela. Dessa vez por minha escolha, porque ser dela é tudo que mais quero nesse mundo.

Quando chegamos ao altar, os olhos ficam mais intensos e quentes nos meus. Eu arfo baixinho, completamente arrebatada, como na primeira que me cravou com esses olhos, há dois anos. Meu menino sorri, se jogando para mim, quebrando um pouco o poder de sua outra mãe sobre sua mãe.

Eu rio em meio às lágrimas e me inclino, beijando sua cabecinha cor de cobre. Em seguida, Natacha está tirando-o dos braços da Sadie. O pequeno começa uma birra, mas logo é aplacado pela tia. Toda a atenção de Sadie volta para mim. Meu coração retumba contra as costelas quando se aproxima e Lilia me entrega a ela. Priah pega meu buquê e eu continuo presa no feitiço dos belos olhos que estão brilhantes de lágrimas não derramadas.

Meu coração derrete quando leva a minha mão à boca e seus lábios mornos depositam um beijo suave no dorso. Seu braço livre me puxa pela cintura e ela aproxima o rosto do meu, ficando separados apenas pelo véu fino.

— Eu te amo. — sussurra com voz áspera de emoção. — Não existem palavras para descrever a intensidade do que me fez sentir quando começou a andar para mim.

Sua mão está tremente quando levanta o véu e limpa delicadamente o meu rosto.

— Vê-la andando em minha direção por escolha sua me fez a mulher mais feliz do mundo. — ouço murmúrios e exclamações surpresas entre os mais próximos.

Eu deslizo minhas mãos trementes pelos seus ombros e o olho, inebriada. Seus olhos ficam mais intensos e ela murmura as palavras que me fazem chorar mais:

— Você me amou. Você me salvou, amor.

— Sadie... Meu amor... — eu inalo o ar com força, me inclinando e colando meus lábios nos seus, sem me importar com o decoro.

Sinto suas lágrimas caindo, se misturando com as minhas.

— Eu vou te fazer feliz todos os dias da minha vida. Eu vou te amar todos os dias da minha vida. — ela me diz de volta numa mistura suave e feroz.

Ela me dá mais um beijo breve, seus olhos lindos confirmando tudo que está me prometendo. Então nos viramos para o altar e o padre sorri, iniciando a cerimônia. Meu coração está quase explodindo no peito de tanta alegria. Eu não consigo tirar os olhos da mulher ao meu lado e nem ela de mim. Eu pertenço a ela, de corpo, alma e coração. Tudo começou tão errado... Uma dívida sendo cobrada... Meus olhos se enchem de novas lágrimas e eu choro outra vez. Lágrimas de esperança. Lágrimas de felicidade. Lágrimas de amor.

Olhando para trás, vejo que éramos duas almas perdidas, infelizes, sem amor. Nós nos amamos e salvamos mutuamente. Ela também me amou. Ela também me salvou. E eu vou amá-la para sempre. Tudo em mim pertence a ela.

A DÍVIDA - SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora