capítulo 11

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Millie

Um movimento na porta do quarto me faz virar e minha miséria é completa agora. Winona e Elodie estão lá. Elas me chocam completamente quando abrem sorrisos amplos e avançam para dentro, em minha direção.

— Millie, minha filha! Que bom ter você de volta. — Winona me puxa para um abraço desajeitado. Eu quero empurrá-la mas, estou chocada demais para isso. O que diabos ela tem? — Elodie, venha dar as boas-vindas a sua irmã, querida.

chama com uma empolgação que nunca esteve lá para mim. Nunca sem plateia, pelo menos.

Eu olho ainda mais confusa quando a cadela da minha meia-irmã vem para a minha frente, parecendo feliz em me ver. Verdadeiramente feliz, me puxando também para um abraço bem apertado, do tipo que nunca me deu.

— Millie, que bom ter você de volta, irmãzinha. — sussurra e se afasta um pouco para me olhar. — sinto muito. Me desculpe por não ter sido uma boa irmã enquanto crescíamos. — seus olhos estão marejados e parecem muito arrependidos. — fui uma cadela total com você muitas vezes.

O tempo todo. Quero corrigi-la, mas, minha fala ainda não foi encontrada.
O que está havendo com elas? As encaro, desconfiada.

Winona meneia a cabeça e funga um pouco. Ela nunca perdeu essa mania ridícula de fingir choro sem uma única lágrima sequer. Passa os braços por mim e Elodie, nos puxando para si.

— Com o papai preso nessa cama, só temos umas às outras, irmã. — Elodie torna a falar. — somos a única família que lhe sobrou e vamos cuidar de você, Millie. Pode contar comigo e com a nossa mãe.

Ugh. Continuo sem palavras.

— Minha duas filhas. — Winona torna a fungar e eu quero rolar os olhos. — obrigado Deus por trazer minha menina de volta. As coisas estão muito complicadas para nós, querida. — agora vejo aflição verdadeira encher seus olhos. — estamos sem dinheiro. Estamos quebradas, Millie. — então, força um sorriso, segurando meu rosto entre as mãos. — mas, Deus é tão maravilhoso que amanhã minha menina querida vai se casar com uma das maiores fortunas do Brasil.

— Não será um casamento real, Winona, você sabe disso. — encontro finalmente a minha voz. — estou pagando por um erro de meu pai.

Ela franze o cenho, fazendo uma cara arrasada de novo.

— Por favor, não me chame pelo nome, filha. — implora como se de fato isso importasse para ela. — corta meu coração. Sim, seu pai cometeu erros, mas, ele ainda é o homem mais correto que conheci. — olha para a cama. — me faz tanta falta. — suspira tremulamente. — temos que nos unir. Só resta nós três agora.

Isso me irrita. Estão falando como se meu pai estivesse morto.

— Meu pai não está morto. — rebato, meus olhos ardendo com novas lágrimas. — ele vai acordar. Sei que vai. — minha voz racha no final.

As duas me abraçam.

— Claro que vai, querida. Estou sendo apenas prática, pensando no aqui e agora. — Winona torna, acariciando meus cabelos. — seu casamento com Sadie pode se tornar real, Millie. — eu a olho, confusa com sua mudança repentina. — basta abrir as portas da mansão para nós, sua mãe e irmã. Nós vamos cuidar de tudo, filha. Tudo.

— Eu vou lhe ensinar como prender uma Mulher como Sadie, irmãzinha.— Elodie murmura quase com carinho. — precisamos planejar uma festa para apresentar a nova senhora da sociedade paulista. Estou tão orgulhosa, Millie! Seremos melhores amigas além de irmãs, não é maravilhoso?

Millie

A minha tarde é tão cheia quanto se eu tivesse ido para a empresa. Solto um grunhido. Porra, na verdade é muito pior quando trabalho em casa porque sempre esqueço-me de parar. Na empresa todos começam a ir embora, então, percebo que preciso ir também. Estou estressada e sentindo falta de sexo. A última boceta que comi foi de Vera na semana passada. Depois disso me dediquei a trazer a minha pequena bailarina para casa para cumprir sua parte em nosso acordo. Está certo, meu acordo. Dá na mesma. Millie estará debaixo de mim amanhã, tomando meu pau em seu corpinho intocado. Porra, meu pau incha dentro das calças. Confiro os números na tela do meu notebook mais uma vez. Acabei de contatar meu gerente de banco para fazer a transação da compra do carro de Millie. É o seu presente de casamento e será entregue na segunda-feira. Por que estou dando um presente desses a ela? Deixe-me esclarecer isso. Primeiro, eu posso. Segundo, esse é o ponto mais fodido. Com certeza não é pelo imenso amor que nos une. Eu bufo. O meio social em que vivo é brutal. Embora esse casamento seja apenas um meio para um fim, ela será minha esposa legalmente. E como tal, seria muito estranho para a sociedade paulista e, principalmente o círculo próximo a mim, se minha esposa não tivesse algumas regalias. Assim, preparei-lhe também três cartões de créditos com quinhentos mil reais de limite, cada um. Não sou louca de entregar cartões ilimitados nas mãos da filha de um ladrão. De acordo com o provérbio popular, a maçã não cai muito longe da árvore. Mal posso esperar para ver sua carinha de decepção ao ver o limite dos cartões.

Confiro o relógio e me assusto. Já são quase oito da noite. Afrouxo a gravata e a retiro, deixando meu escritório, atravesso a sala, subindo a escada para o terceiro andar, onde fica meu quarto. Tomo uma ducha revigorante, visto um jeans escuro e suéter cinza, de mangas compridas. Lilia deve chegar a qualquer momento. Quando me ligou hoje de manhã querendo me encontrar em nosso bar de costume, pedi que viesse para cá, pois, tinha algo para lhe mostrar. Minha irmã ainda não sabe que vou me casar amanhã. Estive protelando lhe contar porque, a exemplo de Noah, iria tentar me demover da ideia e eu não queria me irritar com ela. O que não sabia era que minha irmã mais nova também tinha algo para me contar. Está encrencada com uma comissária de bordo. Novamente. Noah me ligou no final da tarde, me deixando a par do processo que a moça está movendo não contra Lilia, mas, contra a SLN dessa vez. Isso terminou de elevar meu estresse a níveis altos. Lilia é a minha única família e eu a amo, mas, é difícil lidar com ela e seu jeito mulherengo. Bem, há ainda a nossa avó materna, que vive num condomínio perto daqui. Nossos velhos morreram, ironicamente, em um acidente aéreo, há vinte anos. Não que eles fossem pais presentes. Não, eles tinham coisas muito mais importantes para fazer, como gastar rios de dinheiro em Mônaco e na Riviera Francesa, enquanto crescíamos. Lilia e eu? Estávamos sendo bem cuidadas e educadas em um excelente colégio interno.

A DÍVIDA - SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora