Capítulo 1 - Felicity, a patricinha

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— Como assim eles vão me mandar pra lá?! — Digo, arremessando outro livro na direção de Gregory, o único mordomo em quem confio nesse inferno que chamam de mansão.

— Perdão, senhorita, são ordens dos seus pais.

Dou um grito escandaloso o bastante para fazer Gregory contorcer seu rosto cansado em uma careta agonizada. Eu até teria pena dele se já não estivesse louca com meus próprios problemas. De tanto gritar e chorar nas últimas duas horas, meus pobres olhos inchados ardem e minha garganta dói como se tivesse sido cortada por dentro.

— Eles são doentes?! Vão me matar!

— Sinto muito, senhorita.

Chuto uma poltrona de couro branco e a idiota se choca com a porta de vidro que eu queria muito que tivesse se estilhaçado em milhares de pedacinhos infelizes. Quem sabe assim eu acabava machucada e esse fato me salvava do terrível destino que o Exame reserva para mim.

— Por quê? — Minha voz sai deploravelmente rouca conforme eu me jogo no chão aveludado.

— Bom, a senhorita sabe que depois que espantou seus últimos oito pretendentes seus pais passaram a ter dificuldades em encontrar novos.

Eu me lembro de cada um deles.

Fredie, botei fogo em seu terno roxo ridículo. Maurice, joguei-o na piscina quando me pediu em casamento, na droga do PRIMEIRO ENCONTRO. Christopher, atropelei o imbecil com meu cavalo. Roger, contei para sua namorada do casamento arranjado e ela fez todo o barraco por mim. Joshua, treinei meus cachorros para atacá-lo. Paul, o alérgico a amendoim, só precisei de um jantar. Anthony, ele insistiu tanto para irmos ao zoológico que não pude evitar de ajudá-lo a ver os animais bem de perto. Carlos, fali sua família pedindo jóias e mais jóias como condição do noivado. E por fim, mas não menos desprezível, Henry, o cara era tão velho que não tive nem tempo de pensar em algo antes de ele ir para o inferno.

— E daí? — Minha voz continua chorosa.

— O senhor e a senhora Deschamps acreditam que sua participação no Exame irá disfarçar seu temperamento aos olhos da nobreza e, assim, proporcionar a senhorita novos pretendentes.

— O quê?! É por isso que eles não vão pagar pra eu não ter que ir nessa droga? — Eu estouro em fúria. — Só para isso? Aqueles imbecis ainda não superaram essa ideia ridícula de me casar?

Esperneio, chuto o sofá ao meu lado e grito bem alto.

Eles vão me matar. Aqueles idiotas vão me matar!

— Infelizmente não, senhorita. — Gregory me oferece o terceiro lencinho do dia e o arranco da sua mão para enxugar minhas lágrimas miseráveis. — Mas não se preocupe, tenho certeza de que vão lhe dar suporte. — Ele quer dizer que vão me ajudar a trapacear, mas isso não me garante tanto assim naqueles jogos assassinos.

Dou um suspiro inconformado após uma longa pausa.

— E eles nem sequer vieram falar isso na minha cara?

— Estão muito ocupados na corte da Saxônia.

Claro, claro, indo a bailes ridículos para xingar burgueses em ascensão.

— Eles não podiam ter ao menos me ligado para avisar? Ou mandado uma mensagem holográfica?

Gregory reflete por um tempo e sem saber que desculpa dar agora, só diz:

— Creio que não, senhorita. 

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