Capítulo 10 - Brien, o burguês chato

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Três dias.

Tenho mais três dias para enfrentar o suposto labirinto.

Droga, odeio ficar ansioso.

Mas quem não ficaria na minha situação? Preciso voltar com meu título de nobre para casa. Meu primo conseguiu no ano passado. Eu tenho que conseguir nesse. É uma questão de honra. Ele conseguiu livrar sua família da humilhação de ser inferior. Eu devo fazer o mesmo, assim como meu pai fez antes de mim. Nós éramos burgueses medianos, mas ele nos fez subir usando todas as técnicas e frascos de veneno que tinha. É inacreditável que depois de todo o seu esforço nossa família ainda seja obrigada a trabalhar.

Chuto uma pedra conforme caminho para dentro da floresta. Quero me afastar o máximo possível daquele nobre exibido e sua falsa liderança. Ergo a cabeça, só vejo árvores e lugares desconhecidos.

Só pode ser brincadeira!

Estou perdido.

Como consegui essa proeza?

— Era só o que me faltava.

Começo a andar mais rápido. Ando e ando e ando. Em círculos.

Se minha família descobrisse essa humilhação eu seria deserdado!

— Eu vim por aqui. — Digo a mim, mesmo sabendo que isso provavelmente não é verdade.

Escuto um som se destacar no silêncio da floresta.

Água?

Caminho mais, me esforçando para não ir parar no mesmo maldito lugar pela milésima vez. Dou um berro ao vê-la no lago.

— O que você quer?

— Você é doida? — É claro que é, ela te deu um soco. — Por que está nessa água suja?

Luna faz uma careta como se a resposta fosse óbvia.

— Me lavando. Eu disse que não usaria os banheiros da sua sociedade.

— Caramba, você é completamente insana! Como não morreu nessas condições... nessas condições insalubres?

Ela revira os olhos.

— Está falando que nem a patricinha.

— Credo, não me compare com aquela escória que não trabalha.

— Por que não? — Pergunta ela, terminando de lavar a terra de sua camiseta de trapos. — A sua escória, a escória deles... são quase a mesma coisa.

— Claro que não! — Me irrito. — Nós fazemos o trabalho sujo, eles só têm nome.

— Então por que está aqui tentando conseguir um também? Porque é o que você quer, não é? Nomes, benefícios... essas coisas ridículas.

Fico sem resposta, o que não é comum.

— Porque... porque...

A selvagem começa a rir.

— Pare de rir! A resposta não é óbvia?

Ela se aproxima.

— Sou só uma garota da selva burra, vai ter que me explicar.

— Você não entenderia nem se eu...

Luna franze o cenho me desafiando. Não posso deixar isso assim.

— É uma questão de descansar depois de tanto trabalho pesado. — Me atropelo com as palavras. — É nosso direito!

Ela explode em gargalhadas, quase se jogando na água nojenta.

— Ei, isso não é engraçado!

— Descansar?

— Nós merecemos!

— Querido, nós não temos um dia de descanso na nossa aldeia.

— Não me chame de querido, garota selvagem!

— Ou o quê?

Por um momento não sei o que dizer outra vez e isso me deixa louco. Luna me irrita. Como uma garota estúpida da floresta consegue me fazer perder os argumentos? Como ela é inteligente o bastante para sequer entender o que eu digo? Como... como consegue ficar bonita mesmo sem usar nenhum dos produtos que as garotas do meu bairro compram em montes? Não faz o menor sentido! Esses cabelos perfeitamente lisos não podem ser reais. Essa pele parda e brilhante, sem o menor defeito não tem como ser natural.

— Eu... eu vou... — Dou um passo irritado para frente.

— Levar outro soco se se aproximar mais um centímetro. — Afirma ela.

Congelo.

— Certo. — Ergo minhas mãos em rendição. — Você venceu.

— Claro que venci.

Sorrio. Para uma garota selvagem, até que ela tem personalidade.

Luna torce a parte debaixo do trapo que usa como camiseta.

— Você não deveria fazer isso sem roupa? — A pergunta sai antes que eu perceba como pode ser mal interpretada. Luna levanta a cabeça e ergue uma sobrancelha. — Céus, não foi o que eu quis...

Uma flecha quase acerta minha cabeça me interrompendo.

— Seu pervertido! — Felicity grita do outro lado do lago e me surpreendo ao ver o arco em suas mãos.

— Você que atirou? — Pergunto em choque.

— Talvez os nobres sejam menos frescos que você. — Diz Luna no momento em que seu irmão surge atrás de Felicity, com um olhar assustador focado em mim. — Essa daí topou aprender técnicas de sobrevivência pra se distrair.

— É isso aí, vou enfiar uma flecha no seu olho, seu...

— Não se preocupe, patricinha, se ele fosse um problema não o teria deixado respirar até agora.

E mais uma vez, fico sem o que dizer.  

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