Capítulo 15 - Henrique, o cara com nojo de festas chiques

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Quando piso no salão de festas quase me arrependo. É tudo tão barulhento, a maioria da galera é um bando de nobres ou burgueses safados e essas roupas que a senhorita F me obrigou a usar incomodam. A comida é o que ainda me mantém aqui, obviamente.

— Para de se coçar, garoto. — A senhorita F esbraveja.

— É que esse troço pinica. — me justifico.

— Esse troço se chama terno incrível que passei um tempão costurando!

— Você quer dizer terno que eu costurei, não é? — Luna entra na conversa.

— Shhhh! Esse não é o ponto. A questão é que...

— Câmeras. — Lancinho, meu novo amiguinho, nos avisa.

A senhorita F sai de perto de nós. Segundo ela, seu plano é aproveitar a festa sem dar um oi sequer para as câmeras, é sua forma de se rebelar.

Maria se agita ao meu lado. Não acredito que o Lancinho me convenceu a fazê-la vir. Não acredito que ele convenceu todos nós a vir. O cara sabe ser persuasivo.

— Vem, vamos atrás do rango. Essas coisas voadoras não querem saber da plebe.

Ela segura bem firme meu braço e vamos em direção à grande mesa de maravilhas. Lian também se afasta do grupo, provavelmente para perseguir a senhorita F. Sinceramente, não sei qual dos dois é mais tapado, o maluco que não consegue disfarçar o encanto ou a Lady F que não percebe seu fã.

Brien, o rabugento, e Lancinho, meu amiguinho, começam suas entrevistas enquanto o resto de nós apenas aguarda, dando forças para eles. Ou melhor, dando forças só para Lancinho. Ninguém aguenta o Brien.

Faço cinco pratos diferentes enquanto Maria só coloca uma única torrada com caviar no seu. Vamos até uma mesa qualquer e nos sentamos.

— Você pode pegar dos meus pratos se quiser, não me importo em dividir. — Tento dizer em meio à música alta que começou a tocar.

Maria não responde, ela se encolhe na cadeira chique sem erguer o olhar da torrada intocada.

— Não esquenta, vamos comer e vazar como combinamos. Assim jantamos legal e você não fica sozinha naquele chalé.

Ela se encolhe ainda mais.

— Que foi, Maria? Não gosta de festas? — Espero um tempo, mas ela não responde. — Eu também não.

Um silêncio se instaura. Um silêncio tão medonho que nem consigo comer, só olhar para a garota assustada à minha frente.

— Eu era obrigada a dançar em festas assim. — Ela sussurra.

— Ah. Por quê? — Não penso direito e pergunto.

Mas Maria não responde.

— Eu não tenho medo de morrer aqui. — Diz simplesmente. — Tenho medo de voltar pra lá.

Não sei o que dizer então calo a boca para o bem de todos. Um tempo se passa até que a senhora F esteja perto de nós, um bando de garotos metidos começam a falar com ela.

— Não quer dançar? — Um deles pergunta. — Aposto que nossos pais ao assistirem a isso terão uma ótima conversa sobre negócios. — Algo me diz que "negócios" é algum tipo de casamento arranjado nojento.

— Eu não vou dançar para aquelas câmeras, muito menos com você.

Os outros garotos riem.

— Isso, não perca tempo com ele. Perca com alguém de família importante, sou Henry Harris.

A senhorita F revira os olhos furiosa.

— Vocês não estão entendendo, não quero dançar nem casar com nenhum de vocês! — Ela berra.

Os otários começam a cochichar e se entreolhar. Penso em ir até lá, mas me recuso a deixar Maria para trás.

— Ah, qual é? — Um deles insiste, estou prestes a me levantar. — Todas têm um preço, o que é que você quer?

— O que eu quero é a minha mão na sua cara! — Diz dando um soco no cara que cai no chão em seguida.

Me aquieto novamente na cadeira de veludo fofo, Lady F está indo muito bem sozinha. Ela se vira furiosa, mas um dos caras a segura pelo pulso.

— Sai de perto! — Ela puxa seu braço de volta.

— Não pode nem dançar com um de nós? — Ele pergunta enquanto os colegas ajudam o idiota caído.

— Não!

— Por quê?

— Bem, porque eu não quero.

— Isso não vale.

— Claro que vale, seu...

— Porque ela vai dançar comigo. — Lian surge das sombras, dá um soco no idiota que a segurava pelo pulso e a arrasta para longe daqueles manés.

Ao meu lado, Maria parece se divertir com o que vê. Ela até chega a morder sua torrada.

— Aqui pode não ser o paraíso... — Digo a ela. — Mas estamos juntos, somos um grupo e vamos nos proteger. — Talvez seja meio precipitado dizer isso sendo que metade de nós quer jogar esses desafios sozinho.

Mas o olhar esperançoso de Maria me faz pensar que valeu a pena ser precipitado.

— Eu não concordei em dançar com você. — A senhorita F reclama para Lian.

— É melhor do que ter que aguentar seus colegas riquinhos. — Ele responde conforme entram na pista de dança.

— Você ao menos sabe dançar?

— Não.

Lady F solta um grunhido de fúria.

— Mas você pode me ensinar. — Lian fala todo sorridente.

Maria começa a rir enquanto Lady F vai dando ordens e indicando o que Lian deve fazer.

— Viu, dançar não precisa ser ruim. — Fico com medo de ter falado besteira, mas ela sorri e, com um olhar fofo, rouba um dos meus macarons verdes.

Acho que nem se estivessem lançando mil fogos de artifício por aqui essa festa besta seria mais divertida do que está sendo com o show da Lady F e Lian. Eles simplesmente espantaram todos da pista, ou por causa das habilidades terríveis dele dançando ou por causa dos gritos irritados dela.

— Alguém deveria dizer a ela que as câmeras todas estão voltadas pra eles.

— Não mesmo, acabei de me livrar de uns entrevistadores loucos graças a ela. — Lancinho diz, surgindo atrás de nós. 

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