Capítulo 5 - Henrique, ainda com fome

13 3 5
                                    


É engraçado ver toda essa gente reunida. Somos tipo porquinhos num abatedouro. Porquinhos... Seria daora comer porco um dia desses, né?

Ah, cara, será que nenhum nobre ou burguês trouxe alguma coisa pra eu tentar roubar? Alguma barrinha de cereal, talvez?

Um barulho assustador me distrai do lance da comida. O cara que apresenta o Exame todos os anos aparece, descendo uma plataforma gigantesca de metal com um microfone na mão e uma roupa colorida de palhaço.

— Sejam todos muito bem-vindos ao Exame de 3010, sua chance para o sucesso. Antes de qualquer coisa, gostaria de explicar a nova dinâmica que teremos esse ano e que demorei quase cinco anos para convencer o governo a aceitá-la. Então...

Ai, o cara não para de falar... e nem pra ser sobre a comida...

Espera, e se ele estiver falando sobre a comida?

— ... Por isso acho que grupos seriam uma forma de unir...

Não, ele não está falando da comida.

Ahhhh! Eu quero ir embora. Não quero morrer aqui, que droga.

— ... terão duas opções de caminho para seguir...

Do que ele tá falando? Quem liga? Não deve ser importante mesmo.

Do nada dois caminhos são iluminados na floresta que nos envolve, a multidão fica bem mais agitada.

— Que o primeiro desafio comece!

Espera, quê? Ferrou!

A multidão se divide entre os caminhos. Um holograma surge no céu com nosso tempo. Temos vinte minutos. Não tenho tempo para pensar. Disparo para o da esquerda. Desvio de um monte de gente, mas antes de entrar na trilha que escolhi esbarro numa garota de cabelos cacheados e pele escura, derrubando-a no chão.

— Desculpa!

Não penso se ela é nobre, burguesa ou plebe miserável como eu. Só a ajudo a se levantar e corro de volta para o meu caminho.

Patins com lâminas surgem na grama conforme avanço, o que não faz o menor sentido. Até que uma pista de gelo aparece. Isso, juntamente com uma galera caçando patins no chão para entrar nela me faz ter uma ideia da missão.

Droga, se eu já for desclassificado vou morrer de fome antes de voltar pra casa.

Mergulho no chão em busca de patins. Quando finalmente consigo um par, ajusto-os nos meus pés e me jogo no gelo. Caio de cara. Vejo outras pessoas perdendo o equilíbrio, algumas quebram o gelo e afundam na água. Mas não tenho tempo para surtar, porque o céu diz que temos onze minutos.

Rápido, Henrique!

Sofro para me manter de pé. Caio mais umas nove vezes. Quase sou atropelado por uns nobres. Caio de novo. Me levanto. Paro assustado assim que vejo sangue na pista.

Mas já? Como...

Um garoto está no chão, seu corpo tem vários cortes.

— Volta pro seu país! — Ouço um cara, que já se distancia do garoto ensanguentado, gritar.

— Ai, caramba! Você tá legal? — Pergunto, me agachando do seu lado.

Ele brada algo que não entendo, mas que tem cara de ser um palavrão em outra língua. Ajudo-o a se sentar. Mais nobres frescos passam por nós, eles nos xingam e finalmente estão longe.

— Eles não tem o que fazer, não? — Digo, pondo o cara de pé.

O garoto resmunga mais palavras que não entendo. O céu diz que temos seis minutos.

— Droga. Rápido, temos que ir!

Meu novo amigo não questiona. Nos apoiamos um no outro e seguimos tentando não quebrar o gelo. 

O ExameOnde histórias criam vida. Descubra agora