Os Crimes dos Oprimidos

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Com o presente da Deusa, os dois seres criaram vida. Nasceram então os Vox, não eram monstros, não eram MBS, mas sim uma espécie de criaturas além da compreensão humana, tendo caudas e patas, asas e escamas ou mais de um par de braços, os Vox nasceram como seres livres e inteligentes, Ezequiel e Isaac eram seus criadores e reis, e por eles, os Vox tinham respeito e admiração.

Isso mudou quando a vida na terra foi descoberta por eles.

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Astrid cruzou a aldeia ignorando os olhares maliciosos dos machos atirados a sua volta e o de rivalidade das betas enciumadas, não tinha tempo para aquilo agora, sua maior preocupação estava em encontrar as clones escondidas entre as feras.

Muitas vezes a fêmea se perguntou: Será que elas estão totalmente erradas?

A ursa havia ouvido histórias sobre o antigo mundo, quando a sociedade ainda era patriarcal, ela não tinha certeza se era tão ruim quanto as histórias faziam parecer, mas só o fato das mulheres terem sido muito oprimidas no passado a causava dúvidas. Será que as coisas realmente tivessem mudado? E se ela estivesse depositando sua fé em uma causa perdida? E se todo homem realmente nascesse mal?

Mas então ela se lembrava de V.

Se lembrava também do quanto os olhos tomados pelo ódio dele se enchiam de cor e brilho toda vez que se encontravam com os dela, do quanto ele estava disposto a largar por ela, de tudo que ele faria por ela. O olho verde arrancado de outra pessoa era uma prova disso. Mas ela sabia que nem todos eram como ele, haviam muitos Wallaces espalhados pelo mundo. Mas afinal, qual era a grande diferença entre os dois? O que tornava o grande ódio de V diferente do grande ódio de Wallace? Qual era a diferença em suas lutas por vingança?

Talvez fosse melhor as El Clonado vencerem, talvez assim o ódio de V estaria sobre controle...

Mas que tipo de mulher ela seria se permitisse algo assim?

Ainda mais alguém como ela, que descendia de uma longa linhagem de escravas, guerreiras que lutaram pela liberdade, não só elas, a história da escravidão era muito mais antiga, e era provável que seus antepassados tivessem vindo daquela época antiga, onde os colonizadores vendiam pessoas como produtos. Suas antepassadas teriam vergonha se ela apoiasse qualquer tipo de opressão.

Sua cabeça estava cheia, então decidiu ir pro lugar onde todas as feras confusas iam, ao centro da aldeia, onde uma enorme árvore fazia sombra sobre as feras mais religiosas que rezavam a alguma Deusa das feras. Aquele era um solo sagrado, apesar de não ser nenhum símbolo religioso, aquela árvore enorme estava ali muito antes das feras, e por isso era preservada. Muitas feras rezavam em sua sombra em uma súplica por paz e esperança.

Astrid se sentou entre as raízes e se apoiou no grande tronco, soltando um suspiro cansado. Ela estava tão certa sobre tudo, mas Clisyne e Verônica a fizeram duvidar de seus próprios princípios morais, tinha que haver alguma saida daquele turbilhão.

Após alguns minutos de reflexão, assistiu Karaã se aproximando, o sorriso doce em seu rosto, como sempre.

—Boa tarde jovem Astrid, veio buscar ajuda divina, hum?—A bengala de madeira batia no chão conforme a simpática senhora se aproximava.

—Não sou religiosa, eu só... tô confusa. Vim aqui pra refletir.

—Ah sim, é impossível não perceber a sua cachola matutando incessante, por que não pede ajuda? Essa cabeça velha ainda funciona muito bem.

Fitou o rosto enrugado da senhora, não sabia se ela poderia ajudar. Ajustou a postura e assistiu a anciã a acompanhar.

—Eu estive pensando sobre o objetivo das El Clonado, eu sempre respeitei muito os homens e sempre cumpri meu papel como protetora, mas quando eu ouço as histórias sobre o velho mundo, sobre os homens daquele tempo...—Duas crianças passaram correndo pelas duas, um menino e uma menina brincando de lutinha, o garoto tendo dificuldade em acompanhar a força de sua amiga.—Quando lembro do que eles eram capazes, de toda a violência e ódio, eu não consigo parar de sentir uma sensação incomoda lá no fundo do meu peito, um medo ou um receio, como se no fundo nada do novo mundo importasse, como se a qualquer momento fossemos voltar ao que éramos antes.

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